terça-feira, 16 de julho de 2013

AGRADECIMENTO À CÂMARA MUNICIPAL DE CONSELHEIRO LAFAIETE




AGRADECIMENTO À CÂMARA MUNICIPAL PELA MOÇÃO DE APLAUSO 

                                Avelina Maria Noronha de Almeida
                                         avelinaqueluz@bol.com.br

            Certa vez li uma frase que começava: “Conhece-se uma cidade pelo modo como nasce...” e continuava com outras palavras. Modifiquei o final e ficou assim: Conhece-se uma cidade pelo modo como nasce, cresce e preserva seus valores.
            Uma cidade é como o ser humano: tem a matéria, mas também possui algo imponderável que a vivifica: uma essência misteriosa, uma força imaterial que emana de seus moradores. Se a cidade se preocupa apenas com a primeira parte, a material, fica-lhe faltando algo necessário, e muito! Quando o que importa é apenas o chão que se pisa, a água que corre, a luz que ilumina, o alimento que sustenta, enfim, apenas tudo aquilo que garante a sobrevivência (essencial, é claro!), se, repito, forem apenas cuidados esses setores, o seu progresso pode se tornar frágil como aquela casa construída sobre a areia de que nos fala a Bíblia. Sem uma base cultural de reflexão, sem respeito a princípios autênticos, sem consulta às experiências do passado (pois o que existe hoje depende do que foi feito ontem), o edifício material do progresso arrisca-se a deformações estruturais que nem sempre trazem o verdadeiro bem à Comunidade. É preciso que se cuide também do que vem desse algo imponderável que significa a sabedoria, o discernimento, os ideais, os sonhos, os tesouros amealhados no passado e que fazem aquela diferença no progresso de um povo. Não se pode cuidar somente do corpo, em detrimento das forças culturais que o animam, entre elas a História e a Literatura, guardiãs dos pensamentos, das ações empreendidas e dos valores remanescentes de outras épocas. Como diz Cervantes na fala do imortal personagem D. Quixote: “A história é êmula do tempo, repositório dos fatos, testemunha do passado e exemplo para o presente, advertência para o porvir”.
            Palavras verdadeiras: a História realmente é êmula, isto é, compete com o Tempo e o supera, porque compartilham idênticos fatos, mas o Tempo passa e a História permanece. Assim a História o ultrapassa.
            Voltando ao pensamento do início, como nasceu nossa cidade?
            Um dia vieram os índios. Trouxeram o desejo de liberdade, de viverem longe da opressão e da falta de dignidade que os faziam sofrer em outros lugares. Aqui encontraram a natureza pródiga e bela, o “Campo Alegre” com o qual sonhavam.
            O homem branco veio em busca de uma vida melhor, que o ouro poderia dar.
            O africano chegou subjugado, mas trouxe a força de seu braço que foi importante fator de desenvolvimento desta terra. As três raças, cada uma com suas tradições e vivências próprias, uniram-se e, dessa miscigenação, nasceu uma raça nova, forte em suas características, é verdade que herdando as fragilidades de cada uma delas, mas, principalmente, recebendo suas qualidades e virtudes, que se somaram e caminharam juntas para o porvir.
            Como cresceu nossa cidade? Vencendo os desafios de uma natureza exuberante e bela, mas, de certa forma, inóspita; sobrepondo seus sentimentos mais nobres à ambição e à concupiscência de muitos; lutando pelo império da liberdade, abraçando ideais como os dos inconfidentes e os dos liberais de 1842; doando ao Brasil homens que mostraram o valor do queluziano e do lafaietense, em tempos de paz e em tempos de guerra, atravessando, com determinação, dias, décadas, anos e séculos, tornando cada vez mais grandioso o nome de nossa terra.
            E como Conselheiro Lafaiete preserva seus valores?
As duas primeiras indagações foram expressas com o verbo no passado. Esta última utiliza o presente.
Uma cidade, para preservar seus valores, precisa conhecê-los, mirando os exemplos que nos deixaram os homens de bem que construíram seu passado e que agregaram seus esforços para o bem comum. As pessoas passam, mas a comunidade permanece e permanecem as ações que a beneficiaram.
Desde os primeiros tempos, nossa terra sempre foi recebendo novos moradores e isso acontece até hoje. Se há famílias com raízes antigas, quantas pessoas, atualmente, vieram aqui residir... É preciso então que, constantemente, uma força una todos os habitantes, antigos ou recentes, mantendo o sentimento de amor e autoestima em relação à cidade. Não se diz que só se ama o que se conhece? O conhecimento da nossa História é a argamassa que possibilita a união de um povo. Foi um pouco dessa História e do valor de pessoas que deram passos importantes e de pessoas que estão hoje também caminhando com vigor, que busquei colocar no livro “Garimpando no Arquivo Jair Noronha”. Já disseram que “conspira contra sua grandeza o povo que não cultua os seus feitos heróicos”. E acrescento: e não reconhece seus valores e seus talentos. Por isso mesmo, no momento efervescente pelo qual estamos passando, de tantos questionamentos, também cada lafaietense devia se perguntar: Conheço a história da minha terra? Ouço os avisos da História para o presente e suas advertências para o futuro? Cultuo os que trabalharam para o bem dela?

O que escrevi no livro “Garimpando no Arquivo Jair Noronha” é uma pequena contribuição ao conhecimento da história de nossa terra, que apresentava lacunas e erros, tendo me valido muito, na realização desse trabalho, dos escritos valiosos de historiadores ilustres que me antecederam nos relatos dos fatos históricos. As pessoas que focalizo no livro são valorosos batalhadores pela grandeza de nossa cidade, ou talentosos lafaietenses que se destacaram além dos limites municipais, estaduais e mesmo nacionais e estavam praticamente esquecidos, bem como valores atuais, enfim,  coisas importantes que já aconteceram em Carijós, Queluz e continuam acontecendo em nossa amada Conselheiro Lafaiete. Também estão no livro muitos fatos que mostram a participação de nosso povo, desde o século XVIII, em defesa do verdadeiro progresso, da liberdade e da dignidade humana.
Deveria ter iniciado minhas palavras agradecendo aos Ilustres Vereadores desta egrégia Câmara a homenagem que recebi. Propositalmente inverti a ordem do processo para, caminhando com as palavras, demonstrar o significado da Moção de Aplauso que recebi. Estendo o mérito desta homenagem aos vultos do passado, que tomaram vida nas páginas do livro, e aos vultos do presente, que o valorizaram, com a presença de trechos de suas próprias obras e com suas pinturas; ao jornalista Guilherme Vinícios de Souza Maia, que me lançou nesta aventura literária com seu convite para escrever as crônicas em seu jornal e me estimulou a realizá-la; aos editores, colaboradores e amigos Osmir Camilo Gomes e Wagner José Vieira, pois sem o trabalho e esforço deles não seria possível a existência da obra; ao presidente da Academia de Ciências e Letras de Conselheiro Lafayette, Douglas de Carvalho Henriques, que me ajudou efetivamente na comprovação do mais importante resgate histórico nela relatado; e a todos os que contribuíram com informações, contribuições nas pesquisas e fotos.
Nossa cidade, de acordo com os princípios democráticos, está refletida nesta Câmara Municipal. Valorizando a Cultura, que, como já expressei antes, deve nortear as realizações materiais dando-lhes fundamentação segura, demonstram os senhores Vereadores que, desde os primeiros tempos de seu trabalho, estão construindo o edifício de seu mandato na rocha firme, para trazer autêntico bem-estar ao povo e elevar, cada vez mais alto, o nome de Conselheiro Lafaiete.

Em meu nome, e em nome das pessoas que amam verdadeiramente a nossa terra, e que, com certeza, compreenderam o alcance do gesto desta Egrégia Câmara, os meus comovidos agradecimentos ao Vereador Washington Fernando Bandeira, que apresentou a Moção de Aplauso, e aos demais Vereadores, que a aprovaram.  A todos esses nobres Vereadores de nossa cidade, dirijo minha homenagem de admiração pela a preocupação cívica de preservar um passado muito grandioso e, com isso, contribuir para o  aumento da autoestima de nosso povo, dando exemplo de autêntico espírito de Cidadania. 

segunda-feira, 15 de julho de 2013

MEU CURRÍCULO TEATRAL



 
                                                                        Avelina Maria Noronha de Almeida
            
           Quase nasci assistindo a uma peça teatral. Quando minha mãe, Maria, e meu pai, Jair, estavam saindo de casa, a parteira, D. Antônia, que era vizinha, alertou: “Cuidado, Maria, que essa criança vai nascer no circo!”
               Naquele tempo, os circos terminavam a função com uma peça teatral bem melodramática. Talvez a voz alta dos atores tenha me atingido onde eu estava escondida e despertado minha curiosidade para saber o que eles estariam fazendo... Isso deve ter me apressado a resolver a situação. Mas não nasci no circo, como predissera a boa senhora, e sim em minha casa, poucas horas depois, (não  acredito em horóscopos, mas vá lá...) quando a esplêndida constelação do Escorpião era atravessada pelo Zodíaco e também estava ascendente, foi que abri  os olhos para este espetacular teatro que é a vida. Duplamente “escorpião”, logo eu que tenho pavor desse animalzinho...
            A minha infância foi impregnada de arte teatral, pois meus pais não perdiam as peças que eram encenadas na cidade e eu, desde bem pequenininha, os acompanhava. Naquela época aqui se apresentavam as grandes companhias do Rio de Janeiro, como a do famoso Procópio Ferreira, sempre acompanhado da linda filha Bibi. Também o teatro local era muito forte, com atores de excelente qualidade. Eu usufruía isso com  prazer.
            Aos seis anos, quando cursava o Jardim da Infância no Colégio “Nossa Senhora de Nazaré”, a minha professora, Didi Ramos, era um verdadeiro prodígio e sabia fazer teatrinhos como ninguém. Suas festas eram preciosas! Na peça “A Gata Borralheira”, eu fui a madrasta e houve comentários de ter sido muito realista, castigando de verdade – coitadinha! - a minha linda enteada, a saudosa lourinha Liège Giacomini.
            Cismei de escrever uma peça teatral quando tinha nove anos. Seu nome: “A princesa Raiozinho de Luar”. Ensaiei-a com a criançada que brincava comigo (vizinhos e parentes), sendo princesinha a linda e suave Leda; eu era a bruxa malvada. No dia da apresentação, os bondosos vizinhos da Rua Miguel Garcia foram convidados e pacientemente  nos prestigiaram.
             Nos tempos do Curso Ginasial, foi encenada no Colégio a peça “D. Bosco”. Eu protagonizei o santo. Era impressionante o trecho em que o demônio, depois de tentar o sacerdote, pulava em uma abertura que havia no assoalho e de onde saía um verdadeiro fogaréu (o recurso cenográfico era muito bem feito e me fascinava). A peça foi um sucesso! Tanto que, no ano seguinte, resolveram repeti-la. Mas surgiu um problema: a aluna que representava o demônio havia formado e ninguém queria aceitar o papel do “tinhoso”. Foi quando me ofereci para representá-lo, resolvendo o problema porque “santo” todo mundo queria ser... Assim, na mesma peça fui santo e depois demônio.
            Na década de 50, então residindo na paróquia de São Sebastião, quando ali encenaram a vida de Santa Terezinha mais uma vez assumi a santidade. Era emocionante a cena de minha morte, quero dizer, da morte de minha personagem! A turma do teatro era fabulosa, muito envolvida com a arte cênica, constituindo um capítulo honroso da História Teatral Lafaietense. Guardo com carinho dois retratos: num eu estava vestida de noiva, como era necessário para receber o hábito e, no outro,  já com o hábito de carmelita.
            Estreei minha vida profissional no magistério com um teatrinho, pois, no meu primeiro mês de aula, para ensinar “proteínas” escrevi uma pecinha sobre o assunto e encenei com os alunos. Era a história do Chapeuzinho Vermelho, só que a letra que a menininha (era a linda Vitória Rezende, hoje também Nogueira) cantava, em vez da canção tradicional, uma adaptação, na qual Chapeuzinho ia “levar proteínas para a vovozinha” e prosseguia citando-as. Havia também um menino “fraquinho” que não aguentava a carregar um pequeno feixe de lenha e recebeu, do Chapeuzinho Vermelho, sábias instruções sobre alimentos. Nem é preciso dizer que, na prova sobre o assunto, a turma brilhou! Está aí a escritora Vitória que não me deixa  mentir...
            Mas o ponto alto de minha carreira de “teatróloga” foi a  revista musical infantil “Minha Cidade”, com alunos do Grupo Escolar “Inconfidência”, encenada, por gentileza das Irmãs, no palco do Colégio “Nazaré”. A platéia estava lotada. Muitas autoridades. Estavam presentes os ex-combatentes de Lafaiete, pois seriam homenageados. Foram muitos quadros, num período de mais de uma hora, sem interrupções. O coral que acompanhava o enredo era magnífico, de alto nível, ensaiado pela competente professora de canto Regina Leão. As principais profissões exercidas na cidade foram focalizadas. O quadro das lavadeiras, de grande efeito visual, as  quais entravam com trouxinhas de roupa na cabeça e depois iam para a fonte lavá-las, tinha a música “Chuá, chuá” como fundo; havia os engraxates: “Ele era engraxate, era engraxate, era engraxate...”. E que beleza o boiadeiro se recolhendo ao fim da tarde: “Vai, boiadeiro, que a noite já vem, pega o teu gado e vai pra junto do teu bem...”. E o jornaleiro, distribuindo jornais e cantando “Olha a ‘Noite’, olha a ‘Noite’...” música muito conhecida na época.
            Finalmente, realizei pequenas incursões em arremedos de teatro radiofônico, nas apresentações da Semana da Pátria na Rádio Carijós, com os alunos do Colégio “Nazaré”. Lembro-me com saudades do “Repórter da História”, transmitindo para os ouvintes, com grande realismo, o que estava presenciando às margens do Ipiranga. Era até emocionante quando o D. Pedro gritava o “Independência ou Morte!”
            O tempo passou, não posso dizer, pela simplicidade de minhas atuações, que fui artista de teatro, mas, de qualquer maneira, hoje, ainda faço o meu espetáculo, agora  como artista circense, como expressei em versos:

Entrei num grupo de saltibancos.
Sou equilibrista
                                                        do sonho           e           do pão...

tendo, por agradável companhia, a luzida “troupe” humana que dá seu espetáculo cotidianamente neste imenso cenário que é o mundo de Deus.

            Este texto foi escrito atendendo ao pedido de currículo, quando meu nome foi escolhido para o PRÊMIO DE TEATRO do IV FACE.