terça-feira, 31 de dezembro de 2013

FELIZ ANO NOVO!









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FELIZ ANO NOVO!

Avelina Maria Noronha de Almeida


O objetivo de um ano novo não é que nós
deveríamos ter um ano novo. É que
deveríamos ter uma alma nova.
Gilbert Keith Chesterton


O ano de 2013 chegou ao final de sua trajetória, quando sua caminhada vai cristalizar-se em história que vai ser contada de diversas maneiras: ora com alegrias, realizações, vitórias, mas também com dificuldades, lágrimas, desilusões, fracassos... Uns ficam com pena de que esteja acabando porque a estrela da felicidade brilhou no céu para eles. Outros vêm com alívio a sua partida porque lhes trouxe muita amargura e não deixa saudades. Que fiquem os males para trás... É “o ser humano e as suas circunstâncias”...

Esse momento de passagem é cheia de simbolismos, com superstições e rituais que variam ao redor do mundo, sempre com o desejo de atrair boa sorte ou de afastar problemas.

No Brasil, por exemplo, entre outros costumes, existe a tradição de vestir roupas brancas nesse dia, de usar lentilhas na ceia e também a preocupação de não comer carne de animais que ciscam para trás. Uns jogam flores no mar e, quem pode, curte os fogos em Copacabana.

Nos Estados Unidos, na Times Square, em Nova York, a “bola de réveillon” é presa num edificío faltando um minuto para a virada do ano e deve chegar em baixo
justamente à meia-noite, espetáculo que reúne milhares de pessoas. Também é célebre o desfile de carros alegóricos em Pasadena, na Califórnia.

O costume na Dinamarca é curioso! Vejam só: quebram pratos nas portas dos amigos, sinal de sua amizade e lealdade. Quanto mais amigos fiéis a pessoa tiver, maior a pilha de cacos em frente à sua casa

Na Espanha, são comidas doze uvas, uma a cada badalada dos sinos à meia-noite, atraindo a felicidade para os doze meses do ano.

A festa de Ano Novo em Portugal é muito valorizada e significa o desejo de renovação. As pessoas vão para a rua batendo nas janelas das casas com panelas. Também misturam as comidas que sobram da ceia e, principalmente com bacalhau cozido, ovos, cebolas e batatas, tudo regado com azeite, fazem um prato que chamam de “Roupa Velha”.
No Equador, as pessoas se reúnem e acontece queima de fotos e outras imagens que simbolizem o que não é desejado por eles no ano que se inicia. E na Itália, quando os sinos da meia-noite começam a tocar, as pessoas atiram pelas janelas as panelas velhas e os vasos rachados.

É o melhor a fazer. Vamos também queimar lembranças desagradáveis que nos perturbam, jogar fora os nossos costumeiros erros, não vamos repeti-los no ano que começa. Jogar fora o os fardos indesejáveis que acumulamos desnecessariamente, o não nos faz bem, o que impede o nosso crescimento.

Para terminar, vou transcrever um texto, cujo autor desconheço, mas que achei muito sugestivo:

“ANO NOVO. Dentro de alguns dias, um Ano Novo vai chegar a esta estação. Se não puder ser o maquinista, seja o seu mais divertido passageiro. Procure um lugar próximo à janela, desfrute cada uma das paisagens que o tempo lhe oferecer, com o prazer de quem realiza a primeira viagem. Não se assuste com os abismos, nem com as curvas que não lhe deixam ver os caminhos que estão por vir. Procure curtir a viagem da vida, observando cada arbusto, cada riacho, beirais de estrada e tons mutantes de paisagem.Desdobre o mapa e planeje roteiros. Preste atenção em cada ponto de parada, e fique atento ao apito da partida. E quando decidir descer na estação onde a esperança lhe acenou, não hesite. Desembarque nela os seus sonhos... Desejo que sua viagem pelos dias desse novo ano seja de PRIMEIRA CLASSE!!!”

domingo, 29 de dezembro de 2013

SERIAM OS NOSSOS CARIJÓS DESCENDENTES DOS CELTAS?








Civilização Celta

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SERIAM OS NOSSOS CARIJÓS DESCENDENTES DOS CELTAS?

Avelina Maria Noronha de Almeida


PARTE I


OS QUASE DESCONHECIDOS PRIMEIROS DONOS DE NOSSA TERRA


No site da cidade paulista de Itu, antiga aldeia dos Carijós, num artigo escrito há pouco dias sobre esses aborígenes, ali presentes no princípio da história daquele lugar, o articulista termina fazendo um pedido a seus conterrâneos: “Neste Dia do Índio, nós ituanos, bem podemos voltar nossa atenção para aqueles irmãos que habitavam nosso pedaço antes de existir Itu, os Carijós...” Achei muito interessante e resolvi, cá de longe, seguir o exemplo do ituano e voltar minha atenção para os nossos Carijós.

Em nossa cidade, pouco se sabe dos primeiros donos de nossa terra. O que eu aprendi na escola e ensinei a meus alunos de curso primário nada mais foi que os índios Carijós, pertencentes ao grupo lingüístico tupi-guarani, fugindo à hostilidade de outras tribos e à prepotência do homem branco, saíram da Baixada Fluminense, transpuseram a Serra do Mar, subiram a Mantiqueira e, chegando aqui, fizeram o seu pouso, que foi chamado Campo Alegre dos Carijós. Também sabemos que a primeira notícia que se teve da nossa terra foi que uma bandeira paulista viu um aldeamento de índios Carijós e mineradores que garimpavam nas faldas da Serra de Ouro Branco e que os índios ajudaram a construir a primeira igreja. E a taba dos Carijós era na praça Barão de Queluz, em frente à Matriz, fato que eu coloco em dúvida. Era mais ou menos isso.



Óleo em tela da pintora lafaietense Marília Batista Albuquerque

Arquivo Pessoal

Há alguns anos, a pedido da renomada pintora Marília Batista Albuquerque, pesquisei sobre os Carijós e achei, na Biblioteca Municipal, uma informação dada pelo historiador mineiro Lúcio Costa de que eles eram originários do norte do país, da Amazônia. Seus traços eram delicados e, de acordo com o mesmo historiador, alguns tinham olhos azuis. Seu temperamento brando, eram os mais mansos numa escala de agressividade das tribos e tinham relação amigável com os homens brancos. As mulheres eram as mais belas da gentilidade. Marília pintou dois quadros belíssimos: num deles um índio Carijó no meio da mata, colocado no Clube Carijós; no outro, uma índia numa lagoa, tendo olhos azuis segundo a informação do historiador.

Depois encontrei mais alguns dados na “História de Minas Gerais”, livro editado pela Imprensa Oficial de Minas Gerais”, onde Lúcio Costa diz que uma horda de carijós subiu o Vale do Rio Paraibuna, vindo do litoral, estabelecendo-se nos Campos de Queluz e Congonhas. Observa ele que esses índios “assentavam suas aldeias à beira d’água, nos sítios mais favoráveis à obtenção de alimentos”.

Atualmente recolhi muitos dados interessantíssimos sobre nossos índios, que confirmam as informações do historiador mineiro. Em registros feitos pelos cronistas coloniais, quando os portugueses chegaram ao Brasil, “os carijós foram apresentados como um reconhecimento feliz, enquanto os tupiniquins, um reconhecimento infeliz”. E dizem também que as primeiras impressões decorrentes do contato inicial entre europeus e gentio mostram os carijós como índios “dóceis, bondosos e bonitos”

As cartas dos jesuítas também são preciosa fonte de informação sobre o gentio que iniciou a história de Conselheiro Lafaiete. Em 1549, Nóbrega envia aos seus irmãos em Coimbra a “Informação das Partes do Brasil”: “Percebe-se que a descrição do gentio segue uma tipologia que ordena as diferentes ‘castas’ mediante um ponto comum: a nudez. Cria-se uma escala gradativa de nudez, de um lado os carijós, que vestem algodão, vistos como um ‘gentio melhor’, e de outro os Gaiumurés, dotados de sinais monstruosos (gigantes) em que a nudez, ressaltada por adereços perfurantes, faz com que se pareçam ‘demônios’.”





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PARTE II



A FASCINANTE HISTÓRIA DOS CARIJÓS


“... a riqueza de uma obra – de uma geração – é sempre determinada pela quantidade de passado que contém.” Cesare Pavese, em O Ofício de Viver


Estou ficando fascinada com a história dos Carijós! Cada vez mais encontro referências interessantes sobre os primeiros habitantes de Conselheiro Lafaiete.
Lúcio Costa diz que vieram da Amazônia, fato confirmado por leituras diversas que tenho realizado, principalmente de documentos como as cartas que os jesuítas, nos primeiros tempos do nosso País, escreviam para Portugal.

Muitas fontes sobre a história dos Carijós são aquelas que se referem à diáspora amazônica dos Carijós. Usado quando se refere à dispersão dos judeus pelo mundo no decorrer dos séculos, diáspora é um termo que vem do grego Diáspora (dispersão) e é também usado significando dispersões da emigração de outros povos. Assim, é também aplicado à vinda dos africanos para serem escravos no Brasil e à saída dos índios da Amazônia em direção ao restante do País.

Aníbal de Almeida Fernandes estima que, na época do Achamento do Brasil, em 1500, ficava entre “500.000 e 1 milhão o número dos índios que habitavam o Brasil e que pertenciam, predominantemente, à família Tupi-Guarani. que no início da era cristã viera das margens dos rios Madeira e Xingu (afluentes da margem direita do Amazonas) numa migração pelo litoral; por conta do aumento populacional povoa o litoral e, com um certo fundo religioso à procura de uma suposta Terra sem Males, eles, além de caçadores e coletores, exerciam uma incipiente agricultura de mandioca, feijão, milho e cará, sendo mais evoluídos do que os Tapuia (Jê), apenas coletores e caçadores, considerados pelos Tupi como tribos bárbaras que foram expulsos para o interior”.

Segundo o mesmo autor, os índios brasileiros do litoral dividiam-se em 11 grupos: Potiguar, cerca de 90.000; Tremembé (grupo não tupi), cerca de 20.000; Tabajara, cerca de 40.000; Kaeté (=filhos da mata), cerca de 75.000; Tupinambá (=os pais de todos), cerca de 100.000, e eram Tupi por excelência podendo-se considerar as demais tribos como seus descendentes; Aimoré, ou Botocudo (grupo não tupi), cerca de 30.000; Tupiniquim (=filhos dos tupis) cerca de 85.000; Temiminó, cerca de 10.000; Goitacá (grupo não Tupi) cerca de 12.000; Tamoio (=os avós) cerca de 70.000; Carijó, cerca de 100.000, que eram os mais submissos e amistosos. E havia os Tapuias (=os outros). Como se pode ver, era uma tribo numerosa, só igualada em quantidade de índios pela dos Tupinambás.

Os índios Carijós, os índios Carijós saíram da floresta amazônica em direção ao litoral, erguendo, pelo caminho, várias aldeias, que eles chamavam em sua língua (uma mistura de tupi e guarani) de Koty (Cotia), “casa”, “ponto de encontro”. Dizem uns que era por serem os seus caminhos sinuosos, como o trajeto feito pelas cotias. Outros já associam o termo como Acutia, em tupi-guarani “caminhos agudos”, por haver na região grandes morros.

Foram sempre descendo pelo litoral e criando novas aldeias, até chegar no litoral do Sul. Algumas dessas aldeias, hoje cidades, ainda conservam o nome original dado pelos aborígenes Carijós (Karai-yo), como Cotia, em São Paulo , ou Cotia, em Santa Catarina.

Considero muito importante conhecermos melhor os índios que habitaram nossa terra, e inda há muita coisa interessante sobre eles.





João Barcellos, escritor português radicado no Brasil

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PARTE III


JOÃO BARCELLOS E O OLHAR CELTA

“A pesquisa é a arte de criar dificuldades fecundase de criá-las para os outros. Nos lugares onde havia coisas simples, faz-se aparecer problemas”.
Pierre Bourdieu


Na série de artigo sobre os índios Carijós, antes de continuar com detalhes mais informativos e documentais sobre o primeiros habitantes, vou viajar no tapete mágico das hipóteses, usando, para isso, um texto muito interessante de João Barcelos: ”UM OLHAR CELTA entre a península ibérica e o mundo”.

Verdade? Fantasia? Hipótese bem provável? Ou como disse Bourdieu, nos lugares onde havia coisas simples, fazer aparecer problemas? Deixo, a quem ler o Garimpando de hoje, o trabalho de tirar suas próprias conclusões.

João Barcellos é um escritor português há muitos anos radicado no Brasil. É um estudioso da luso-brasilidade e escreveu quatro livros sobre o assunto: “O Outro Portugal (romance) e três estudos históricos, dois deles (“Cotia – Da Odisséia Brasileira De São Paulo Nas Referências Do Povoado Carijó, SP- 1996” e “De Costa A Costa Com A Casa Às Costas, SP-1996) sobre os índios Carijós, que foram os primeiro habitantes da cidade de Cotia, na Grande São Paulo, onde ele reside.É membro da União Brasileira de Escritores (UBE), membro correspondente do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina editor de jornais de âmbito nacional, de outras associações e desenvolve vários outros trabalhos culturais.

Coloquei neste texto a biografia do escritor luso-brasileiro para demonstrar, pelas suas referências, a seriedade das pesquisas e dos escritos do autor sobre os índios carijós.

Vou começar transcrevendo um trecho de “O Olhar Celta”:

“A parte portuguesa que diz dos povo genericamente denominados como Celta, ou da influência céltica, é realmente muito forte em todo o território – território, aliás, de velhas fronteiras levantadas a espadeirada e quente azeite, salteio e bandeiras e, quiçá, as mais antigas fronteiras estabelecidas institucionalmente no mundo.

Quando da descoberta e posterior estudo arqueológico das vilas muradas – ou castros, ou citânias -, por Martins Sarmento, a partir de Briteiros e Sabrosa, na região portuguesa de Guimarães, estas transformaram-se nos mais importantes sítios arqueológicos do período pré-céltico e céltico, e Portugal pôde, enfim, reencontrar parte da sua estrutura sociocultural mais profunda: a Civilização Celta.”

Antes de continuar a análise do texto, vamos relembrar quem eram os celtas. Era um povo que habitava a Europa antiga, mais ou menos organizados em tribos, vivendo agricultura e da caça. A partir do século VIII a.C., espalharam-se nos territórios onde hoje ficam Áustria, República Tcheca, França, Alemanha e Suíça. Invadiram a Itália em 390 a .C. invadiram a Itália e ocupando Roma por algum tempo e, em 250 a .C., invadiram os atuais territórios dos seguintes países: Bulgária, Hungria, Romênia, Grécia, Turquia, Portugal, Espanha e Ilhas Britânicas, mas foram derrotados pelos romanos entre 58 e 52 a .C. na Europa continental e em 43 d.C. nas Ilhas Britânicas. Encontrei, na enciclopédia Conhecer da Abril Cultural, um trecho que fala sobre os celtas e me despertou a atenção:

“Povo que, ainda no século XVI antes de Cristo, abandonou a planície centro-européia e atravessou o mar. O que foi um ato de coragem, pois viajar era muito difícil naquela época. Mas os celta do grupo gaélico tinham ânimo forte e não hesitaram em se lançar ao mar para conhecer a ilha, onde chegaram e ficaram com o firme propósito de se fixar, crescer e multiplicar-se. De preferência em paz.”

Analisando esse trecho sobre a epopéia dos celtas, percebi que, trocando apenas algumas palavras, podia o trecho se aplicar ao deslocamento dos nossos Carijós: Povo que, no século XVII, abandonou a baixada fluminense e transpôs a serra do Mar. O que foi um ato de coragem, pois atravessar matas ínvias, sofrendo as agruras de tal empreitada era muito difícil. Mas os Carijós tinham ânimo forte e não hesitaram em se lançar à selva e conhecer a nossa terra, onde chegaram e ficaram com o firme propósito de se fixar, crescer e multiplicar-se. De preferência em paz.

Faria parte, do deslocamento dos Celtas pelo mundo, a diáspora amazônica dos Carijós?

João Barcellos prossegue em suas conjecturas.

“Os sítios arqueologicamente trabalhados por Martins Sarmento situam-se no norte, mais precisamente na região onde também D. Afonso Henriques iniciou o estabelecimento do Reino após tornar-se independente dos castelhanos com uma vitória sobre a própria mãe... Não foi isso um acaso, mas (um)a certeza da força cósmica ali deixada pelo Celta e que sobreviveu à romanização e à catequese cristã. Interpretar a forma de civilização carregada pelos povos Celta para a Península Ibérica é, de certa maneira, interpretar muito da alma portuguesa, aquela do ‘peito aberto ao mundo’... É interessante (a)notar este ponto de identidade com o Carijó, um dos povos da floresta amazônica, que em sua digressão pelo interior e pelo litoral do chamado Brasil construía em seus ‘altos’ a koty (cuty, acutia – como grafou Hans Staden em seu relato -, cotia), uma palhoça redonda; Koty, que no tupi-guarani significa ‘ponto de encontro’ ou ‘a casa de’ (como registrei em meu opúsculo ‘De Costa a Costa Com a Casa às Costas’) e que para esse povo tinha o mesmo significado de pátria que se encontra na interpretação do castro céltico. (...) Aquele olhar celta abrangia, na verdade, o mundo, e este era, na vera concepção da vivência-sobrevivência, a dilatação pátria do seu peito aberto!”

De acordo com o escritor luso-brasileiro, os povos ibéricos receberam a influência dos povos fenícios, e “o Povo Fenício não era mais do que uma das facções da Civilização Celta, facção essa que deu origem, numa cisão social memorável, às amazonas (há-mâs-ohne: as sem macho) – hoje, arqueologicamente reveladas e não pertencendo mais ao ‘reino da fantasia’ (e dando razão às certezas históricas já anteriormente apontadas por D’Olivet)... Do rei D. Afonso Henriques ao rei D. Diniz a Nação portuguesa fortaleceu-se territorial, social e culturalmente. Tornou-se uma Nação de fato e de direito. Mas isso não bastava aos portugueses, como não bastou aos celtas e aos celtiberos. Era preciso continuar a olhar, e a olhar com aquele velho e renovado olhar celta. O que aconteceu com o rei D. João II, um estadista que quis e fez da sua Pátria a alma de um Povo ousado”.

Achei muito interessante o texto de João Barcellos. E bonito! Imaginei uma onda humana de espírito aventureiro, desbravador, aquela “força cósmica” dos celtas passando pela Europa, chegando a Portugal, ocupando até o nosso Brasil... e mais!... chegando à nossa pátria pequena, transformando-a no Campo Alegre dos Carijós; dispersando-se pelas terras de Minas quando o ouro se tornou escasso, espalhando-se mais ainda em busca de expansão, de novos horizontes para progredir, mas sempre deixando, em cada “castro” ou “cotia”, uma porção do seu espírito empreendedor. Porque nós somos profundamente Carijós. Foi com o sangue desse indígena que se construiu a nossa identidade, e ele está cada vez mais se espalhando pelas gerações que se sucedem. Isto é um fato comprovado. De acordo com estatísticas da época, na primeira década do século XVIII, apenas 10% dos nascimento na região das minas era de filhos legítimos, porque no, início da colonização, raríssimos portugueses traziam a família, havendo, assim, poucas mulheres brancas. As mulheres índias, que na época eram de um número considerável, foram as grandes responsáveis pela miscigenação e conseqüente espírito empreendor, progressista e expansionista do lafaietense.

No princípio, considerei apenas uma fantasia as teorias de Barcellos. Entretanto, o assunto ficou me perturbando e passei a fazer as minhas próprias pesquisas. Encontrei muitas coincidências. Vejam só!

Primeiramente procurei entender como seria a ligação dos celtas com o solo brasileiro. É claro ter vindo no sangue dos colonizadores portugueses, mas para serem os carijós um povo celta, algo teria acontecido antes do descobrimento do Brasil, pois eles já viviam na Amazônia quando Cabral chegou. Encontrei coincidências bem fortes.

Fiquei sabendo que antiga lenda céltica de uma insulla Brasil era citada por marujos celtas e aparecia em mapas-mundi antigos, como o de Bartolomeu de Pareto (1455).






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PARTE IV

HY BRASIL



“... Quanto, Senhor, ao sítio desta terra, mande Vossa Alteza trazer um mapa-múndi que tem Pero Vaz Bisagudo e por aí poderá ver o sítio desta terra...”
Mestre João

Segundo uma lenda muito antiga, havia um lugar chamado Hy Brazil, que teria sido descoberto e colonizado por São Brandão, monge irlandês que partira para o mar em 565, aos 105 anos, em busca de um lugar para dedicar-se a Deus. Tal lugar abençoado foi procurado por muito tempo e há quem ache que o nome de nossa pátria possa ter sido inspirado pela lendária ilha do monge.

De acordo com pesquisas do historiador Sérgio Trombelli, na antiga língua celta “braazi” queria dizer “terra grande” e os celtas estariam em nossas origens. A Insulla de Brazil foi citada por Bartolomeu de Pareto em 1455 e no mapa de Pero Vaz Bisagudo, também anterior à viagem de Cabral.

Mestre João Farás, médico, astrônomo, astrólogo e físico espanhol participante da expedição cabralina, e que nomeou a constelação do Cruzeiro do Sul realizando as primeiras observações astronômicas em terras brasileiras, em carta escrita em 28 de abril de 1500 para el-rei D. Manoel diz o seguinte: “... Quanto, Senhor, ao sítio desta terra, mande Vossa Alteza trazer um mapa-múndi que tem Pero Vaz Bisagudo e por aí poderá ver o sítio desta terra...”

É interessante que os celtas tinham governos regionais em cada aldeia, o que lhes daria melhores condições de sobrevivência. Equivaleria aos “castros” em Portugal e às “cotias” no Brasil, citados na edição anterior deste jornal. Tudo não passa de hipótese, mas há muitas coincidências. E é tão bom fantasiar, às vezes...

Outro fato que se pode relacionar à presença céltica no Brasil é o mito das Amazonas. Havia, entre os celtas, uma classe de mulheres guerreiras, que já foram relacionadas às mitológicas amazonas do norte do Brasil.

Em 1541, Gonzalo Pizarro, naquela época governador de Quito, no Equador, associando-se ao capitão Francisco de Orellana, partiu da cordilheira dos Andes, a pé, acompanhando o trajeto dos rios formadores do Amazonas, em busca do Eldorado (El Dorado), um lugar de fabulosas riquezas, numa expedição composta de 300 espanhóis e cerca de 4.000 índios. Depois de viajar 70 dias, em local difícil de obter alimento, Pizarro desistiu e voltou para Quito, porém Orellana resolveu prosseguir, levando 55 soldados e dois frades, um deles Frei Gaspar de Carvajal, que relata a viagem em uma crônica posterior que teve enorme repercussão na Europa e no resto do mundo daquela época.

As margens do rio eram densamente povoadas. Numa aldeia, encontraram uma praça com grande escultura em relevo figurando, sob dois leões, uma cidade com altíssimas torres, tendo sido informados que os habitantes daquela aldeia eram “súditos e tributários das Amazonas” às quais forneciam penas de pássaros. No centro de uma praça, havia um oratório em homenagem à governante das amazonas.

Quando penetraram no território das fabulosas mulheres, já eram esperados. Vejamos um trecho da narrativa de Frei Gaspar:

“Íamos desta maneira caminhando e procurando um lugar aprazível para folgar e celebrar a festa do bem-aventurado São João Batista, precursor de Cristo, e foi servindo Deus que, dobrando uma ponta que o rio fazia, víssemos alvejando muitas e grandes aldeias ribeirinhas. Aqui demos de chofre na boa terra e senhoria das amazonas. Estavam estes povos já avisados e sabiam da nossa ida, e por isso nos vieram receber no caminho por água, mas não com boa intenção. Chegando perto, como o Capitão os quisesse trazer à paz, começando a falar-lhes e a chamá-los, riram dele e faziam burla de nós: aproximavam-se e diziam que andássemos, pois ali abaixo nos esperavam, para prender-nos a todos e levar-nos às amazonas.”

Foi quando houve intensa luta entre soldados e os índios que estavam acompanhados de algumas mulheres.






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PARTE V

AS AMAZONAS

Arte e vida se misturam.
Fantasia e realidade se acrescentam.

Affonso Romano de Santana


Como Orellana e seus acompanhantes se arranjaram diante dos índios no território das Amazonas?

O Padre Carvajal conta que houve uma terrível luta contra os índios e também com algumas das mulheres que teriam vindo em socorros dos tributários das Amazonas.

Mais um trecho de sua carta:

“Estas mulheres são muito alvas e altas, com o cabelo muito comprido, entrançado e enrolado na cabeça. São muito membrudas e andam nuas em pelo, tapadas as suas vergonhas, com seus arcos e flechas nas mão, fazendo tanta guerra como dez índios. E em verdade houve uma destas mulheres que meteu um palmo de flecha por um dos bergantins e as outras um pouco menos, de modo que os nossos bergantins pareciam porco espinho.”

O padre continua o relato e diz que, embora vários índios comandados pelas mulheres e mesmo algumas delas tivessem sido abatidos, a situação era difícil e os soldados tiveram que fugir, antes capturando um índio. Este contou que pertencia a uma tribo cujo chefe, Conyunco, senhor de toda a área próxima à foz do Rio Nhamundá, era súdito das mulheres que residiam “a sete jornadas da costa”. A tribo devia obediência às mulheres guerreiras, às quais pagavam tributo. As amazonas não tinham maridos e eram em grande número. O índio conhecia cerca de trinta aldeias, cercadas, e ninguém entrava nelas sem pagar tributos. Habitavam casas de pedras com portas. Capturavam índios em guerras para deles terem filhos. Quando engravidavam, descartavam-se dos índios sem lhes fazer nenhum mal. Se os filhos fossem do sexo masculino, eram sacrificados ou enviados aos pais. As meninas eram educadas para a guerra. A soberana chamava-se Conhori. Em suas terras havia cinco grandes templos dedicados ao sol, chamados caranaí, com assoalhos e tetos pintados, além de inúmeros ídolos de ouro e prata, com figuras femininas. Suas roupas eram finíssimas, fabricadas com a lã das “ovelhas peruanas”.
Realidade? Fantasia?






D. Pedro II

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Gonçalves Dias

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PARTE VI

COM QUE CRISTAL MIRAR OS CARIJÓS E OS CELTAS?



“En la vida nada és verdad ni és mentira, todo és
según el cristal com que se mira.”(Provérbio espanhol)


E com que cristal vamos mirar as hipóteses do escritor luso-brasileiro João Barcelos em seu Olhar Celta? Realidade? Fantasia?

Podemos olhar pelo prisma da incredulidade e da negação: pura fantasia. Pelo prisma da aceitação irrestrita, sem questionamento: tudo realidade. Prefiro olhar pelo cristal que posiciona, quem por ele vê, numa atitude reflexiva.

A proposição do escritor residente em Cotia é apresentada de maneira lógica, demonstrando pesquisa cuidadosa e bom conhecimento do assunto. Se não pode ser comprovada totalmente, também não pode ser simplesmente descartada. Desperta interrogações e nos leva a concordar que existem muitas coincidências.

Em relação àquela lendária ilha citada pelos celtas, o mesmo João Barcellos escreve,, em outro artigo: “Eis que a Ilha Brazil - e ‘brazil’ era um nome já utilizado entre os povos celtas quanto a uma ilha e outros povos quanto a uma madeira utilizada para tingimento (particularmente entre asiáticos desde o Século II dC), de onde ‘brazileiros’ (os que carregavam o pau-brazil), como consta da documentação espersa por vários arquivos portugueses e espanhóis (...)” É uma grande coincidência: do nome e da cor da madeira...

Outra coisa curiosa: recapitulando Frei Gaspar de Carvajal, que naquela refrega dos homens de Orellhana com os índios e as supostas “amazonas” perdeu um olho, o indígena apresentado falou que na terra das mulheres guerreiras havia cinco templos dedicados ao sol, chamado “caranaí” (palavra muito parecida com o idioma tupi-guarani – veja-se “Carandaí’ – com assoalho e tetos pintados, além de inúmeros ídolos de ouro e de prata.

E outra coisa, as roupas das mulheres eram finíssimas, fabricadas com a lã das ovelhas “peruanas”. Há uma relação com a civilização peruana e, por coincidência, os índios Carijós eram os guardiães do Peabiru, um caminho que levava às terras do Peru. Isso é fato confirmado pelos relatos históricos. Hoje esse caminho foi recuperado e, sendo lindíssimo o trajeto, tem sido forte atração turística. É chamado o Caminho de São Tomé, com grande afluência de peregrinos. Sobre ele Adriana Vera e Silva diz, em um artigo escrito para a SUPERINTERESSANTE edição 145, de outubro de 1999:

“Desde que o português Aleixo Garcia naufragara, em 1516, os dóceis índios carijós da ilha de Santa Catarina, com quem passara a morar, contavam-lhe que, no interior do continente havia um poderoso rei branco, dono de riquezas incomensuráveis. Esse rei, garantiam, explorava uma montanha de pura prata chamada Potosi. Aleixo não resistiu à tentação. Perto de 1524, acompanhado de alguns náufragos como ele e centenas de carijós, partiu. Viajou cerca de 2.600 quilômetros a pé e de canoa, abrindo para os europeus o Peabiru, a vasta rede de trilhas indígenas que ligava o litoral brasileiro ao Rio Paraguai. Desbravou florestas e pântanos e enfrentou índios hostis. Depois de uma no e meio chegou a Cochambamba, na Bolívia, a 150 quilômetos da mina de prata de Potosi, hoje esgotada. Descobriu o império do rei inca Huayna Capac, menos branco do que se supunha, guerreou contra tribos sob o seu domínio e saqueou peças de ouro.

Embora tenha sido morto antes de retornar, seus mensageiros voltaram a Santa Catarina e confirmaram os relatos indígenas. Da Europa, foram mandadas expedições para refazer seu caminho. Assim, deu-se início à colonização dos rios da Prata, Paraná e Paraguai”.
Dizem que havia vários caminhos de deslocamento entre as “cotias” carijós espalhadas pelo Brasil. Assim, pelo caminho do Peabiru, poderiam ser retiradas as lãs e a prata de Potosi para serem utilizadas pelas Amazonas. E eu, “voando loucamente”, pergunto: não seria o ouro enviado pelos Carijós das terras da Passagem, perto da Serra do Ouro Branco?

O imperador D. Pedro II encarregou Gonçalves Dias de apurar a verdade. O poeta indianista fez um relatório de 70 páginas concluindo que seria apenas uma lenda.

Para terminar o assunto, nada melhor que usar as palavras de João Barcellos:

“Nos rudimentares afazeres dos Povos da Floresta amazônica, como nos castrejos europeus, a alma telúrica forçou-os a um olhar multi-dimensional, esse que em Sagres aquele príncipe português lançou além e por aí quis saber do Mundo que outros povos já haviam tocado pelo registro de velhas cartas de marear. De certa maneira, o príncipe refez rotas velhas para levar Portugal e o templário desejo aos mares antes navegados, da mesma maneira que os carijós refizeram a sua história sertaneja ao mostrarem a imensidão continental da insulla brazil àqueles europeus em caravelas embarcados”.

sábado, 21 de dezembro de 2013

UM FILHO ILUSTRE DE SÃO GONÇALO




























Arquivo Pessoal





UM FILHO ILUSTRE DE SÃO GONÇALO:
JOSÉ MARIA ROCHA FERREIRA

Avelina Maria Noronha de Almeida


Um sãogonçalense expandiu o talento artístico, comum a tantos outros filhos daquela localidade, de forma bastante ampla, ultrapassando até os limites de nosso País.

Trata-se de JOSÉ MARIA ROCHA FERREIRA que, bem jovem ainda, saiu de Conselheiro Lafaiete para estudar na Escola DOM BOSCO, de Cachoeira do Campo, participando do Coral e Banda de Música. Era um carismático pianista. Foi professor, organista e diretor de corais salesianos; organista e diretor do Coral do Liceu Coração de Jesus, por ele elevado a 130 figurantes, naquela época o maior coro da Capital Paulista, com a participação da orquestra Sociedade de Concertos Sinfônicos de São Paulo. Ao deixar os salesianos, ouviu do superior, Pe. José dos Santos, as significativas palavras: “DESTE ALMA ÀS NOSSAS COISAS”. E pela vida afora, por onde passava, Rocha Ferreira foi DANDO ALMA ÀS COISAS, tal a grandeza e sublimidade de seu espírito.

Formando-se em Advocacia, mudou-se para Bagé, no Rio Grande do Sul, onde foi professor no Conservatório Santa Cecília e crítico musical e desenvolvendo um trabalho conjunto com a maestrina e pianista DALILA LEITE, com quem veio a casar-se. Lecionou Línguas e Literaturas Latina, Francesa e Portuguesa. Em São Paulo, foi o organista titular da Matriz de Nossa Senhora do Brasil, trabalhando também no Teatro Municipal e na Fiscalização Artística.

Na LITERATURA, teve as seguintes incursões: Brotam flores no chavascal (noveleta), Discursos, Críticas.

Sua obra musical é muito extensa, constando de músicas sacras (missas, cantatas e motetes) e profanas (de sabor clássico e romântico, incluindo peças para orquestra, piano, coro e solistas) e, difundida por vários maestros, dela se encontram partituras no Museu Sacro de Mariana, no Vaticano, em países da Europa e Costa Ocidental Africana. Dela foi dito, por músicos de expressão nacional, que TINHA O RIGOR DE ESCRITA ENCONTRADO EM J. S. BACH e MAJESTOSA RELIGIOSIDADE COMPARÁVEL A CÉSAR FRANCK E GABRIEL FAURÉ.

Por tudo isso, podem ver os lafaietenses, de modo especial os sãogonçaleses, a genialidade e o valor de ROCHA FERREIRA, filho de Turíbio Antônio Ferreira e Maria da Conceição Rocha, nascido em 20 de novembro de 1900 e falecido em 1983. Mas o que mais me encantava nesse homem tão importante era a sua simplicidade, a sua camaradagem com as crianças, o seu amor à nossa cidade, sua terra natal, à qual, mesmo vivendo distante, periodicamente visitava, indo muitas vezes também a SÃO GONÇALO para rever o local onde nascera. Tinha grande carinho aos parentes que aqui deixara e a quem visitava quando de suas vindas. Um exemplo do apego aos seus e de sua sensibilidade pode ser visto nesta carta que escreveu, de Bagé, a meu pai, em 1944: “Acuso hoje o recebimento de tua prezada carta de 8 de maio. Minha satisfação é grande, pois, com inexcedível gentileza, deste-me notícias de parentes que nem sabiam se ainda viviam. Faltou entretanto minha saudosa tia Etelvina, que me ensinou as primeiras letras. Quando de minha última estada aí, estive com ela no Rosário. Suponho que ainda lá está e desejo mandar-lhe uma fotografia da minha formatura – a ela que me guiou nas primeiras letras!”

No Festival Internacional de Corais, o X ENCANTA LAFAIETE... nos caminhos do ouro, no ano de 2008, o maior evento musical realizado em nossa cidade, um sucesso graças ao magnífico talento sonhador e realizador do MAESTRO GERALDO VASCONCELOS, à competência, esforço e dedicação de GERALDO LAFAYETE, LUÍS OTÁVIO DA SILVA, dos cantores de nossos corais e de uma excelente equipe de apoio. FERREIRA ROCHA foi o homenageado do evento, vindo, de São Paulo, sua viúva, organista DALILA, e a filha, maestrina ANA MARIA. As ilustres musicistas se manifestaram muito gratas e felizes pela homenagem e encantadas com o festival e qualidade dos corais, de modo especial dos de nossa terra.

Homenageado e empreendedores culturais do evento fazem jus à frase do nosso chafariz: ASSIDUO VIR PROPOSITI TENAX OMNIA VINCIT. Pela persistência, o homem de propósito firme tudo vence.



quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

UM NABABO EMPREENDEDOR EM NOSSA HISTÓRIA




















Igreja da Passagem em Gagé



UM NABABO EMPREENDEDOR EM NOSSA HISTÓRIA

Avelina Maria Noronha de Almeida


Um dos intuitos desta coluna é garimpar aqui e ali, em livros que não estão facilmente disponíveis, alguns fatos da história de Conselheiro Lafaiete e trazê-los para para os nossos leitores. Uma das melhores fontes, e que ainda espero usar muitas vezes, é “MINHAS RECORDAÇÕES” de Francisco de Paulo Ferreira de Rezende, que sempre nos traz alguma novidade.

É assim que ele nos relata;

“Além da Freguesia da Itaverava, em que se descobriu o primeiro ouro de Minas, e a de Catas Altas, em que este se mostrou muito mais abundante, ainda havia em Queluz um lugar que se tornou notável pela grande quantidade que aí se retirou desse metal. Este lugar chama-se Passagem e fica a uma légua mais ou menos de Congonhas.”

Um parênteses na história: Passagem é um local ao qual se vai entrando em Gagé ou continuando o caminho de Casa Branca, vindo da Santa Efigênia, e que faz parte de uma de minhas hipóteses a respeito dos primeiros tempos de nossa cidade. Penso que ali seria o aldeiamento de índios carijós e mineradores que garimpavam na Serra de Ouro Branco (Serra do Deus Te Livre), o qual foi visto por bandeirantes, de acordo com informação de Saint-Adolphe, um desses viajantes estrangeiros que aqui vieram no passado e nos deixaram muitas notícias importantes. Creio que escavações naqueles locais poderiam trazer um material arqueológico valiosíssimo.

Continuemos com Ferreira Rezende:

“Um dia em que eu viajava lá para os lados de Ouro Preto, atravessei um rego que se dirigia para as bandas da Passagem; e eis aqui o que a seu respeito me contaram. Possuindo alguma fortuna e sendo um homem extremamente empreendedor, o dono ou o descobridor daquelas minas, que sabia muito bem quanto eram ricas e que pouco ou nada podia fazer, por causa da água que era escassa ou não era suficiente para ser útil, já não sabia de que expediente pudesse lançar mão que o tirasse daquela tão grande contrariedade, quando afinal julgou achar esse meio. E eis aqui qual foi. Como se sabe, na serra que passa próximo de Queluz, há um lugar em que se encontra, a muito pequena distância, águas que correm para o Piranga ou Rio Doce, para o Paraopeba ou S. Francisco e finalmente para o Carandaí ou Rio Grande; e caminhando-se desse ponto para os lados do Ouro Preto, vai-se tendo sempre à direita as águas do Rio Doce e à esquerda as do S. Francisco. Vendo, pois, aquele homem, que não achava na bacia do Paraopeba a água de que tanto precisava, resolveu trazer para a bacia deste rio um córrego que na vertente oposta descia para o Piranga; e, embora tivesse, para isso, de vencer não pequenas dificuldades e uma distância de algumas léguas, empreendeu a tirada do rego. Como, porém, as suas posses não davam para uma tão grande empresa, contraiu entre os seus amigos e conhecidos um grande número de dívidas; meteu-se na mata e nunca mais apareceu, para que, enquanto tirava o rego, que devia levar muito tempo, não fosse ele inquietado pelos seus credores”.

Continua o escritor relatando a história do morador em Passagem que, em sua visão arrojada e espírito aventureiro, lembra – respeitadas as devidas proporções – o grande Barão de Mauá. Francisco de Paula Ferreira Rezende conta os fatos com seu estilo literário sugestivo e agradável:

“Diante de um tal desaparecimento, os credores trataram de acioná-lo à revelia; prepararam as suas execuções; e quando o misterioso fujão de novo apareceu no campo, nas imediações de Ouro Branco e à frente do rego que vinha agora trazendo, sem mais demora começaram a cair sobre ele as citações para a penhora, e ele, pelo seu lado e com a maior impassibilidade, a pedir vista para embargos”.

Em sua teimosa atividade, foi ajudado pela sorte. O governador e capitão-geral, sabendo do fato ou devido a denúncias, chamou o homem para saber “se era exato que ele havia pedido vista para embargo de todas aquelas execuções e se era possível que em tão grande número de credores e de dívidas não houvesse um só que não fosse um velhaco ou uma só que não fosse filha da fraude”.

O homem foi muito seguro e correto em suas explicações ao governador, dizendo, de seus credores, que eram homens “muito de bem” e que realmente devia tudo o que cobravam; que pedira vista às execuções para ganhar tempo e “não ter o desprazer de naufragar quando já estava quase que entrando no porto”. Logo que chegasse com as águas à mina, pagaria os seus credores e “se julgaria bastante rico para dar disso prova à Sua Majestade e ao seu representante na colônia”. Imagino que essas últimas palavras tiveram efeito decisivo na benevolência daquela autoridade... O governador prometeu fazer com que os credores esperassem até o fim da obra mas que “se as coisas não saíssem como dizia, era com ele, governador, que teria de haver-se.

Pois o homem conseguiu levar as águas aonde desejava e pagou generosamente todos os seus credores, naturalmente com bons juros. O relato do livro não fala sobre a recompensa à Sua Majestade e ao governador, mas é de se supor que tenha sido também generosa.

Foi quando se tornou um verdadeiro nababo. Voltando ao livro: “.. e a sua riqueza tornou-se tal que, sendo uso naquele tempo pulverizarem as mulheres os seus cabelos com uma espécie de pós brancos, as suas filhas (se não há em tudo isto no meu espírito alguma confusão de fatos e pessoas) quando iam à igreja, pulverizavam os seus com ouro em pó”.

Verdadeiramente é um final de feliz sucesso. Um happy end depois de tanta luta. Mas... quanto tempo terá durado? Não sabemos. O escritor conclui melancolicamente, embora não afirme categoricamente que seja verdade:

“Entretanto, se, como disse, não estou confundindo dois fatos distintos que se deram no mesmo lugar ou que me contaram em ocasiões diversas, eu ainda alcancei netos ou bisnetos desse homem que se achavam reduzidos não só à mais simples pobreza mas quase que ao estado de verdadeiros mendigos”.

FRANCISCO DE PAULA FERREIRA DE REZENDE é patrono de uma cadeira da Academia de Ciências e Letras de Conselheiro Lafayette. Merecidamente, porque ele abre uma janela ampla para o passado de nossa terra, na qual se pode debruçar e vislumbrar, como se fossem episódios de um filme, cenário, personagens e fatos da gente de Carijós e de Queluz.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

PORTUGAL, AFRICA, BRASIL - ENCANTA LAFAIETE – NOS CAMINHOS DO OURO




Convite

Imagem do Blog Encanta Lafaiete/Site Roda Viva





Coral Serpa, Portugal

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Coral Tuana Tua Nzambí, de Angola, África

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Madrigal Roda Viva, de Conselheiro Lafaiete, Brasil

Imagem do Blog Encanta Lafaiete/Site Roda Viva







PORTUGAL, AFRICA, BRASIL

ENCANTA LAFAIETE – NOS CAMINHOS DO OURO

Avelina Maria Noronha de Almeida



Este texto foi escrito em 2008 quando foi realizado o Encanta Lafaite, nos Caminhos do Ouro, como a apresentação anual do Encontro de Corais, uma realização do Maestro Geraldo Vasconcelos, o qual, com sua chegada à nossa cidade, revolucionou o cenário musical da cidade, abrindo mais portas para sermos conhecidos além das fronteiras brasileiras.

O festival citado no início, que teve a duração de uma semana, contou com a participação dos seguintes corais:Madrigal do Recife e FACHO de Olinda, estado de Pernambuco; Capela Musical do Rio de Janeiro, RJ; SMED de Novo Hamburgo, Rio Grande do Sul; Collegium Cantorum de Curitiba, Paraná; Querubins do Horizonte de Ouro Preto, Arte e Som e Canto Livre de João Monlevade, Cidade dos Profetas de Congonhas, Tom Maior de Mariana e Cantares de Santa Bárbara, de Minas Gerais e os Internacionais SERPA de
Portugal e Tuana Tua Nzambí de Angola, África. E também o nosso Madrigal Roda Viva.

A presença de corais de Portugal e da África unindo-se aos corais do Brasil, levou~me
a escrever este texto, relembrando o encontro das três nacionalidades:


“Conhece-se uma cidade pelo modo como seu povo nasce, vive e morre”, disse Albert Camus. Vou parafrasear o escritor e filósofo franco-argelino dizendo: Conhece-se uma cidade pelo modo como NASCE, CRESCE, VIVE E CANTA.

Conselheiro Lafaiete nasceu como terra de braços abertos, braços de acolhida.
Primeiro foram os índios Carijós que vieram da baixada fluminense, fugindo aos maus tratos do homem branco e à hostilidade de outras tribos. Transpondo a Serra do Mar, subiram a Mantiqueira. Ao chegarem a estas paragens, de uma verdura exuberante e de águas onde o ouro cintilava, pensaram ter chegado à sua lendária Terra Sem Males, localizada na direção do Sol Nascente, onde acreditavam correr rios de leite e de mel e as frutas estavam sempre ao alcance das mãos. Aqui acharam o abrigo a seus sonhos e à sua ânsia de liberdade.

Depois vieram, em busca de refúgio, homens da bandeira de Borba Gato, temerosos de represálias pela morte do espanhol D. Rodrigo. Juntaram-se aos Carijós, que eram afáveis, dóceis, bem intencionados, vistos pelos jesuítas como o melhor gentio da Costa.

Acrescentaram-se povos de outros lugares, principalmente da terra lusitana, e os sofridos africanos, trazidos para dar a força de seus braços ao trabalho escravo.
Teceu-se, pela trama dos genes, uma etnia luzida, colorida, graduada de tons, forte na diversidade. Se somaram-se fraquezas, aconteceu o mesmo em relação às qualidades e, com a graça de Deus, as forças positivas foram superiores e os fios trançados resultaram num efeito promissor. Formou-se uma sociedade diversificada.
Foi assim que o Arraial do Campo Alegre dos Carijós NASCEU.

Dos gentios, de espírito livre e integrado à Natureza, perderam-se os nomes no horizonte enfumaçado dos tempos de outrora.

Nos negros, viu-se a provação de uma raça desafiada pelas contingências históricas e, por isso mesmo, fortificada para enriquecer o sangue coletivo.

Aos portugueses, valorosos na sede de aventuras e conquistas, juntaram-se outras nacionalidades que acrescentaram as forças e as mazelas de sua herança histórica e genética, trazendo as marcas de séculos de civilização.

De tanta mistura brotou uma raça de seiva tropical, uma raça determinada, amorosa e sensível.

O tempo foi passando... O arraial atravessava o século XVIII se multiplicando, trabalhando, construindo uma história bafejada pelo vento do sucesso crescente como entreposto comercial, gerador de riquezas pelo ouro na região, pela localização privilegiada, na Estrada Real, entre o Rio de Janeiro e Vila Rica.

Mas a exploração pela Coroa, com a cobrança injusta do “quinto”, trouxe a revolta. Muitos diziam: “O rei está tirando o alimento de nossa boca...” Mas continuavam, assim mesmo, a plantar, a construir templos, a escrever uma história que foi página importante na Inconfidência Mineira.

Até que um dia, antes que terminasse o século XVIII, em atendimento a uma petição que o povo fizera a Visconde de Barbacena e que fora enviada a D. Maria I, aconteceu o que tanto sonhara o povo de Carijós: foi criada a Real Vila de Queluz.

Pouco tempo depois, passavam na incipiente vila, os restos mortais de Tiradentes. Permaneceram por uma noite num rancho que existia na Rua Direita. Antes de partir, a salmoura foi renovada. Duas partes de seu corpo foram deixadas para escarmento do povo de fortes sentimentos libertários: uma na estalagem das Bandeirinhas ou Bananeiras, onde o valoroso Tiradentes expusera seus planos ao Joaquim Silvério dos Reis; a outra, na Estalagem da Varginha onde, na grande mesa da varanda, ou debaixo da Gameleira, os conjurados traçavam seus planos. Hoje, em terras de Conselheiro Lafaiete, próximo às ruínas da estalagem e da famosa árvore, às margens da Estrada Real, um monumento é lembrança e marco de heroísmo.

O nome Queluz, de vila passado a cidade em 1866, atravessou o século XIX e chegou até 1934. Nesse período, viveu momentos de grande significação. Já em junho de 1822, portanto antes do grito “Independência ou Morte!”, em palavras persuasivas, com brio e coragem, a Câmara Real de Queluz fez uma petição a D. Pedro, Príncipe Regente, no sentido de que mandasse instalar a Câmara de Cortes do Brasil, o que seria um importante passo no sentido da INDEPENDÊNCIA. Quem sabe tal documento não teria influenciado o jovem príncipe?

E como a vila foi heróica no Movimento Liberal de 1842! Na batalha travada no Largo da Matriz (atual Praça Barão de Queluz), a vitória dos revolucionários sobre as tropas legalistas do Exército do Império constituiu fato ímpar no movimento. Do episódio da luta, no soneto Queluz, de grande beleza, Mário de Lima imortalizou a figura do Tenente Galvão cujo filho, ferido pela bala, morrendo em seus braços, pediu-lhe que voltasse ao campo de batalha e ele, enxugando as lágrimas, exclamou: “Tenho mais três filhos para sacrificá-los à causa da liberdade!” E voltou, chorando, para o seu posto de comando.

Continuou o tempo com o seu caminhar. O ouro foi ficando escasso, a vila empobreceu, mas um novo veio precioso foi crescendo, do qual o valor nunca mais diminuiria e, dia a dia, ano a ano, projetaria Queluz no cenário nacional e mesmo internacional. Era o ouro da inteligência, do talento, da Arte, da força de trabalho de seus filhos, que se tornaram próceres na Política, destacando-se na Diplomacia, na Jurisprudência, nas Letras, na Ciência, nas Artes, como: Padre Manoel Rodrigues da Costa, o sábio inconfidente, o famoso Cônego Francisco Pereira de Santa Apolônia, nascido em Carijós, cultíssimo, um dos maiores oradores sacros da época, membro do Segundo Governo Provisório da Província de Minas Gerais, tendo sido vice-presidente da mesma e, algumas vezes, na ausência do titular, atuado como Presidente da Província; Napoleão Reis e Conselheiro Lafayette, que consagraram, no Brasil e além mares, o valor queluziano. E tantos outros!...

Naqueles tempos, foi privilegiada com a presença, por alguns anos, de Bernardo Guimarães, nomeado professor de Latim e Francês para Queluz, onde residia quando escreveu o seu célebre romance “A Escrava Isaura”.

Como eram apreciadas, no século XIX, as colchas de São Gonçalo! Famosas, tecidas algumas com as armas imperiais no centro, sendo dificílimo consegui-las, apesar do alto preço, devido à grande procura. Eram enviadas até, por pessoas da família imperial portuguesa, para princesas da Europa... As violas de Queluz, correspondentes ao Stradivarius no violino, eram disputadas em todo o Brasil... Quem possuía uma delas, considerava-se um privilegiado.

Em princípios do século XX, dizia Nelson Senna, no Anuário de Minas Gerais, ser Queluz uma cidade onde o povo amava as flores e os livros. Havia 11 bibliotecas no município, sendo uma delas a maior de Minas naquela época. O mesmo historiador chamou-a, ainda, de “Reduto de Intelectuais”

Placidina de Queirós, Felicíssimo Meirelles, Alberto Campos e tantos outros, como pioneiros no Teatro, escreveram com letras de ouro suas atuações. Pintores e músicos enfeitaram a Cultura queluziana e lafaietense .

Esta destinação de importância cultural prosseguiu durante todo o século passado, com o brilho dos amadores no Teatro, ombreando-se com os grandes artistas nacionais, teatrólogos, jornalistas, prosadores nos diversos gêneros, poetas, todos da melhor estirpe intelectual e artística, alguns com reconhecimento nacional e internacional, como o compositor e concertista José Maria da Rocha Ferreira, que teve uma de suas missas tocadas no Vaticano e outras músicas de sua autoria divulgadas na Espanha; o teatrólogo Cleiber Andrade, com peças encenadas pelo célebre Procópio Ferreira e aclamadas no exterior; Helena dos Santos, cujas músicas feitas para Roberto Carlos alcançaram, nos primeiros tempos da MPB, muito sucesso na França, na Argentina, no Japão e em outros países; o chamado “Saxofone de Ouro”, Moacyr Silva, famoso no Brasil e também nos Estados Unidos, onde, sob o pseudônimo de Bob Fleming, alcançou grande sucesso.

Sempre atenta aos interesses da Pátria e da Liberdade, enviou 63 de seus filhos para lutar nos campos da Itália, na Segunda Guerra Mundial como integrantes da FEB, onde lutaram com grande coragem e heroísmo. Sua jazida do Morro da Mina, na época a maior mina de manganês em céu aberto do Mundo, forneceu todo aquele minério do Ocidente utilizado pelos Aliados na Segunda Guerra Mundial, além de um tanque fabricado nas oficinas da Companhia Santa Matilde. A população lafaietense também contribuiu com o “Esforço de Guerra”, doando, com o dinheiro recolhido na cidade, um avião à Cruz Vermelha.

Uma plêiade de administradores, cientistas e técnicos fizeram a cidade crescer em tamanho e qualidade, e hoje as vantagens e conquistas da modernidade estão presentes em todos os setores.

Permanentemente garimpando seus valores e lapidando-os para a construção permanente do desenvolvimento, recebendo com carinho aqueles que vinham de outras terras, principalmente das localidades mais próximas, em busca de novos horizontes, com isso acrescentando valor deles, assim Queluz, que posteriormente passou a chamar-se Conselheiro Lafaiete, CRESCEU.

Hoje a cidade de Conselheiro Lafaiete, Estado de Minas Gerais, localizada na Mesorregião Metropolitana de Belo Horizonte, é sede da Microrregião de Conselheiro Lafaiete, que compreende os municípios de Casa Grande, Catas Altas da Noruega, Congonhas, Conselheiro Lafaiete, Cristiano Otoni, Desterro de Entre Rios, Entre Rios, Itaverava, Ouro Branco e Queluzito.

Privilegiado pólo geográfico, próximo a várias cidades históricas, liga-se pela malha rodoviária com as capitais da Região Sudeste: Belo Horizonte (100 km), Rio de Janeiro (340 km), São Paulo (590 km) e Vitória (580 km).

Divisor das bacias hidrográficas do Rio Doce e do Rio São Francisco, ocupa uma área de 375 km² de extensão, situada nas seguintes coordenadas geográficas: 20º 39´50´´ de latitude sul e 43º 47´40´´ de longitude W.Gr. É um centro geodésico (marco do SAD nº 69, localizado no degrau do meio do chafariz da Praça Barão de Queluz), que tem comunicação com satélites e outros marcos geodésicos, dando posicionamento em relação a latitude e longitude, importante para os meios de comunicação, de transporte e confecção de mapas.

Na terra das Alterosas, situada, em sua altitude máxima a 1,157 metros acima do nível do mar, tem um saudável clima temperado tropical.

É considerada como de boa qualidade de vida. Assistida por grande rede de serviços médicos, hospitalares e farmacêuticos e por bem equipado serviço de segurança, oferece, aos moradores e visitantes, um comércio amplo e variado, com bons supermercados, casas de comércio de diversos tipos, padarias e açougues, num total de mais de 3.000 empresas comerciais e diversas indústrias de pequeno porte, além de excelente rede hoteleira, grande número de restaurantes, bares e pizzarias.

Conta com grande número de Faculdades e se orgulha da atuante Academia de Ciências e Letras de Conselheiro Lafayette. Como fonte de Cultura e Lazer e conhecimento de sua história, a Biblioteca Antônio Perdigão – Museu e Arquivo da Cidade, o Centro Cultural da Praça do Cristo, a Biblioteca Pública, o Museu Ferroviário, a Praça do Cristo e muitos outros locais.

Há várias associações sociais e esportivas. Tem rico patrimônio de monumentos, wentre eles, os templos barrocos de Nossa Senhora da Conceição, com rica e delicada talha, de Santo Antônio e de São Gonçalo, todos eles do século XVIII; o chafariz em bronze de 1881, com linda decoração; o Memorial do Milênio, com rico acervo colocado no último dia do Segundo Milênio, cuidadosamente preservado para ser aberto no último dia do ano de 2100; a imagem do Cristo Redentor, medindo verticalmente 15 m e horizontalmente, devido aos braços abertos, também 15 m, colocada sobre uma base de concreto de 13m de altura que termina por um mirante que, com sua bela iluminação panorâmica, permite sua visão em grande parte da cidade; a imagem de Nosso Senhor dos Passos, na Matriz de Nossa Senhora da Conceição, do século XVIII, com o sangue da testa, do nariz e das mãos encarnado em rubi, sendo uma das poucas imagens com essa característica no País; a imagem de Nossa Senhora Aparecida, no Bairro JK, medindo 6,20, feita de cobre cromado e depois dourado, o que lhe dá um belo e original aspecto.

Cidade histórica, atravessada pela Estrada Real, é de importância significativa no circuito turístico e apresenta rico calendário de festas populares, entre elas os festejos juninos, com destaque para a Trezena de Santo Antônio, que mantém características tradicionais como leilões, barraquinhas, espetáculo de fogos, pau-de-sebo etc. Também há os festivais de congado, de bandas, de corais, de teatro e muitas outras atrações culturais.

É assim, num crescimento constante, em meio a tão rico patrimônio, recebendo de braços abertos todos os que a procuram, que Conselheiro Lafaiete VIVE.

E como esta cidade canta?

O seu canto começou lá longe, no passado, escondido pela poeira do tempo, quando as
vozes dos índios Carijós, celebravam seus ritos, louvando Tupã ou Jaci.

Depois cantou as cantigas portuguesas, ora melancólicas, lembrando a pátria distante, ora alegres e brejeiras, com toda a alma emotiva dos lusitanos.

O arraial acompanhou as vozes ritmadas e muitas vezes nostálgicas dos escravos, que se erguiam para os ares coloniais nos congados, nos batuques, trazendo um pouco da África em suas melodias.

Entoou músicas devotas nas igrejas: ladainhas, solenes missas cantadas, autos de fé, o acompanhamento para as procissões das Almas, do Anjo Custódio...
Continuou a vila de Queluz cantando nos salões dos solares, nas brincadeiras de rua, com as filhas do Loureiro em frente à Matriz, acompanhadas pelos violinos do pai e dos irmãos.

Dizem que o povo de Queluz era muito festeiro, e há festa sem canto? Era a Serração da Velha, as festas juninas, o Carnaval. E as serestas românticas nas noites de lua, pelas ruas sossegadas? E as rodas das Violas de Queluz?

Foram aumentando as igrejas, aumentavam os corais, com belas vozes fervorosas. Muitos cantores tornaram-se conhecidos, admirados. Mas havia também os compositores, de
grande inspiração, que compunham melodias religiosas, românticas ou engraçadas. Bailes, espetáculos musicais, programas radiofônicos, shows...

Esta cidade nunca parou de cantar.

No Encanta Lafaiete alcançou o seu zênite, o auge da trajetória musical. Um acontecimento extraordinário, magnífica conjunção de astros.

Este chão acolheu, com sua pródiga natureza, há mais de três séculos, O GENTIO BRASILEIRO, O COLONIZADOR PORGUGUÊS e O IRMÃO AFRICANO. Justamente ESTES TRÊS POVOS novamente se uniram no X ENCANTA LAFAIETE 2008 e, com suas vozes, entoaram um canto de Beleza e Fraternidade.

Conselheiro Lafaiete recebeu os visitantes com grande carinho, os braços e o coração abertos. Graças a Deus, é assim que Lafaiete CANTA!

O PAPA PIO XII E CONSELHEIRO LAFAIETE






























Expedicionário João Baptista Perdigão

Arquivo Pessoal





O PAPA PIO XII E CONSELHEIRO LAFAIETE

Avelina Maria Noronha de Almeida


João Baptista Perdigão, expedicionário lafaietense, combateu nos campos da Itália, na Segunda Guerra Mundial. Por ato de bravura recebeu uma importante medalha:

Exército Brasileiro
Medalha Cruz de Combate 1ª Classe

1ª Classe: Ouro. Concedida aos militares que praticaram atos de bravura;
ou revelaram espírito de sacrifício no desempenho de missões em combate; e, às Unidades que se destacarem na luta.

DIPLOMA DE CRUZ DE COMBATE
Criada por Decreto-lei nº 6.795, de 17 de agosto de 1944

O Presidente da República dos Estados Unidos do Brasil resolve, de acordo com o Decreto de 14 de setembro de 1945, conceder a Cruz de Campanha de Primeira Classe ao 3º Sargento do 11º R/I, João Baptista Perdigão. O Sargento João Baptista Perdigão, da 9ª Cia., Distinguiu-se sobremaneira pela sua bravura pessoal, sangue frio e sua ação de comando foi notável quando, recebendo uma missão de seu Comandante do Pelotão, avançou com seu grupo de combate sob o fogo das metralhadoras inimigas passando pelas posições de outros elementos que se consideravam detidos e atingindo o objetivo previsto; quando nessa ocasião recebeu ordem para se retrair, o fez de maneira notável, conduzindo seus cinco homens feridos e expondo-se por diversas vezes, para tomar medidas que protegessem seus homens. Na patrulha de 3-III-1995, acionou o seu grupo de comando com tal segurança que surpreendeu e aprisionou, com seus homens, vinte alemães, entre os quais um oficial, Comandante da Companhia.

Rio de Janeiro, 15 de fevereiro de 1946

Ass: Gen. Pedro Aurélio de Góis Monteiro
Ministro da Guerra

Devido a esse fato recebeu também um prêmio: poderia escolher aonde gostaria de ir na Itália antes de voltar para o Brasil. Escolheu o Vaticano. Pio XII estava dando sua bênção na praça e, de vez em quando, conversava com uma das pessoas. Quando chegou perto do expedicionário Perdigão, parou e perguntou (o papa era poliglota):

– Você é de onde?

Ele respondeu:

– Sou de Conselheiro Lafaiete.

E o papa;

- Ah! Queluz... Já estive lá no Colégio das Irmãs.

Quando o expedicionário Perdigão, meu tio, me contou isso, comecei a pesquisar em livros e na Internet. Antes de ser papa, Pio XII se chamava Eugenio Maria Giuseppe Giovanni Pacelli. Nos dias 20 e 21 de outubro de 1934, vindo do Congresso Eucarístico na Argentina, onde representara o Papa Pio XI, esteve no Rio de Janeiro, visitando o Cristo Redentor ali proferindo um lindo discurso.

Não poderia ter vindo a Queluz nessa viagem porque seriam 12 horas para vir e 12 para voltar ao Rio. Fiz uma consulta à Biblioteca do Vaticano. Foram muito gentis, mandaram até o jornal italiano que focalizou a passagem dele para o Brasil. Pesquisaram muito mas não acharam outra informação sobre a vinda dele a nosso País.

Com o passar dos tempos, consegui colher outras informações. Disse-me a pianista Aparecida de Souza Ganime que, em 1939, no dia em que ele foi eleito papa, o então padre José Sebastião Moreira, que era vigário em São Sebastião, chegou à casa de sua família, perto da igreja, dizendo com seu habitual entusiasmo:

– O papa que foi eleito hoje já esteve aqui em Queluz!

Há uns anos recebi, também, um depoimento do médico Dr. Luiz de Souza Dias. Ele trabalhava no hospital Queluz junto com Dr. Mário Rodrigues Pereira. Este um dia lhe contou que, quando era prefeito, fora à estação da Estrada de Ferro Central do Brasil recepcionar um cardeal que, depois, fora papa. Disse que conversaram muito sobre religião. Dr. Mário era ateu. Ao despedir-se, o cardeal lhe dera uma medalha dizendo que, quando estivesse morrendo, se se arrependesse de seus pecados, olhasse para aquela medalha que seria salvo.

Certa vez li em um livro que o cardeal Eugênio Pacelli, então Ministro do Exterior do Vaticano, fora enviado ao Brasil para verificar as idealogias dos jovens, naquela época tumultuada antes da Segunda Guerra Mundial, mas havia mais detalhes. Não teria, nessa viagem, ido a colégios e seminários em viagem secreta, por isso não registradas oficialmente?

Recentemente encontrei, na revista 100 anos de Educação, História e Fé, editada no ano de 2005 em comemoração ao centenário do Colégio “Nossa Senhora de Nazaré”, e organizada por Roselmira Gonzaga de Almeida e Neusa Maria de Oliveira Nascimento, a seguinte notícia:

“Em 17 de julho de 1937, ocorre a honrosa visita de Sua Excia. Revma. Dom Aloysio Masella, D.D. Núncio Apostólico, ao Colégio, acompanhado de vários sacerdotes e pessoas de destaque social.”

Quem sabe o futuro papa estaria entre os "vários sacerdotes"... Continuarei buscado mais informações.



terça-feira, 17 de dezembro de 2013

A POESIA QUELUZIANA E LAFAIETENSE E O NATAL


















Imagem da Internet





A POESIA QUELUZIANA E LAFAIETENSE E O NATAL

Avelina Maria Noronha de Almeida


A poesia é a rainha da Cultura. É ela que toca de maneira mais profunda o sentimento humano. Assim, para falar sobre Natal, vamos convocar os nossos poetas queluzianos (nascidos ou que em nossa cidade exerceram importante atuação cultural antes de 27 de março de 1934, quando a cidade de Queluz passou a chamar-se Conselheiro Lafaiete, em homenagem ao grande jurisconsulto, político e homem de estado Conselheiro Lafaiete) e lafaietenses, quando nasceram ou aqui viveram depois dessa data). Estes poemas estão na antologia Agenda Santo Antônio de Queluz, editada em 1993.

Quando Jesus veio ao mundo
Trouxe Paz... Amor... Bonança...
Levou um pesar profundo,
Deixou na Terra Esperança.
Mauro Barbosa Armond

Ah ! se uma trova eu fizesse,
neste Natal de Jesus,
seria em forma de prece,
bordada em rimas de luz.
Paulo Emílio Pinto

NASCIMENTO DE JESUS
Agostinho Evaristo Lana

Para um recenseamento, humildemente,
José e Maria foram a Belém.
E uma estrela com brilho diferente,
Andava lá no céu azul também...

Aos rastos de José, na areia quente,
Vinham raios de luz estrada além...
E o vento, em santo aplauso, reverente,
Punha os galhos das flores num vaivém...

E após as homenagens do caminho,
Cheias de céu e cheias de carinho,
À estalagem José foi com Maria.

E como lá nenhum lugar havia,
Uma gruta singela os acolheu
E à meia noite, ali, Jesus nasceu.


NATAL

Agostinho Evaristo Lana

Caminhavam, santamente
José e Maria a Belém...
Uma estrela reluzente
No céu andava também...

Pela estrada, humildemente,
Ante os mistérios do Além,
Evocavam Deus clemente
Sem dizer nada a ninguém...

E em chegando à gruta, enfim,
Tão humilde, tão singela,
Vendo palhas dentro dela,

A mãe de Deus, mesmo assim,
De nada ali se desfaz
E ergue a Catedral da Paz...

NATAL
Padre Carlos dos Reis Baêta Braga

Frio intenso, cai a neve
Embranquecendo os caminhos.
Um vento suave e leve
Perpassando sobre arminhos...

Noite escura, o céu rebrilha,
Com fulgor a cintilar,
Indicando a maravilha:
Um Deus ao homem se dar!

Em Belém, na gruta fria,
Sobre o capim a chorar,
Pobre criança jazia,
Sem teto, sem pão, sem lar.

Frágil corpinho de flor,
Na manjedoura a tremer,
Prodígio, obra de amor,
Um Deus à terra descer!

Meu coração é a gruta:
Suja, infecta, escura e fria...
É tua, senhor, escuta:
Mora nela! Que alegria!

NATAL
Aos meus companheiros de prisão
Dimas da Anunciação Perrin

Se eu pudesse pedir algum presente
Ao bom velhinho amigo das crianças,
Não pediria muito. Tão somente
Que renovasse nossas esperanças.

Na força criadora da bondade
Que ilumina e promove a inteligência
Dos homens e, das garras da maldade
Opressora, liberta sua consciência.

Sentimento que inspira nobres atos
E salva, do ódio, nosso interior
Até mesmo antes os mais horríveis fatos,

A bondade é que vai levar, só ela,
Nosso mundo à justiça e à paz, ao amor
E a uma vivência humana, digna e bela.
(Cadeia do Ponto Zero, RJ, 25/XII/1974)

NATAL
Mariana de Andrade Ávila Torga

Já vou armar com carinho
um delicado bercinho
dentro do meu coração
pra quando o Natal chegar
o Menino Deus deitar
e escutar minha oração.

Vamos, minha alma, desperta,
fique tranqüila e alerta
pois Jesus Cristo já vem.
Vai nascer tão pobrezinho,
sem berço nem sapatinho
na lapinha de Belém.

Ele nos traz esperança,
muito amor, paz e bonança,
a promessa de um sorsriso.
Vai trazer um mundo novo
para alegria do povo
e a visão do paraíso.

Abrirá nossos caminhos
e um bando de passarinhos
cantará ao amanhecer.
Findará toda tristeza
pois a bela natureza
fará tudo renascer.

Que a vossa vinda, Jesus,
traga do céu muita luz
sobre as trevas deste mundo.
Que a injustiça e maldade
cedam à fraternidade
num sentimento profundo.

Meu querida Deus Menino,
entrego-vos meu destino,
minha vida, pranto e dor.
Os sonhos que se perderam,
as ilusões que morreram,
aceito por vosso amor.

Hoje vivo da saudade
e um grande pesar me invade
nas horas da solidão;
mas eu coloco meus “ais”
com confiança demais
No Sagrado Coração.

Para terminar, também vou colocar a minha mensagem poética, com votos, aos que lerem esta página, de saúde, sucesso, felicidade e muita...

...PAZ
Avelina Maria Noronha de Almeida



Que na ampulheta das eras
se marquem verões, invernos,
outonos e primaveras,

mas sejam tempos risonhos,
com amores sempiternos
e uma seara de sonhos...

Apenas doirada areia
deslize ao fluir dos ventos
e à urdidura da teia.

Sequem-se todos os prantos!
Na aventura dos momentos
haja sempre ceia e cantos...

Encerrem-se as reuniões
com abraços e sorrisos
nos encontros das Nações,

e astros de brilho invulgar
- fulgores de paraísos -
acendam-se em cada olhar!

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

EXCELSA RAINHA



























Foto de Mauro Dutra de Faria





EXCELSA RAINHA
Avelina Maria Noronha de Almeida



Um dia alguns bandeirantes chegaram nas terras onde moravam índios Carijós e resolveram ficar por ali. Nos córregos cintilava o ouro à luz do sol e os gentios eram acolhedores. Traziam consigo uma imagem de Nossa Senhora da Conceição, força da espiritualidade em Portugal. Logo construíram, para colocar a efígie da Virgem, uma igrejinha de esteira e coberta de colmos, onde iam fazer suas preces. Depois levantaram uma ermida de pau a pique para abrigar a Mãe do Céu e para o culto divino. Foi assim que Nossa Senhora da Conceição começou a sua trajetória nestes vales e altiplanos localizados no coração das Minas Gerais.

Passavam-se os anos e, diante daquela imagem, manifestava-se a espiritualidade de mineradores, índios, fazendeiros, escravos, homens, mulheres, crianças, até que, em 1709, D. Frei Francisco de São Jerônimo, através de um de seus visitadores diocesanos que estava de passagem pela povoação, criou a Paróquia Nossa Senhora da Conceição do Campo Alegre dos Carijós. Nossa Senhora ganhou igreja nova, a primeira matriz, na entrada da cidade, olhando para o Rio de Janeiro, que era a sede da diocese. E também ganhou uma outra imagem, vinda, no mesmo ano, de Portugal, da cidade do Porto, muito linda, pisando sobre a lua, quatro doces anjinhos a seus pés, o manto com delicados volteios, as mãos postas e um rosto muito suave, muito lindo. A mesma imagem que até hoje, no seu trono, na definitiva matriz localizada no meio de duas praças no centro da cidade, vem, desde os primórdios do século XVIII, abençoando esta nossa cidade de Conselheiro Lafaiete e que, há cinquenta anos, recebeu em sua fronte uma coroa especial.

Foi em 2 de junho de 1961 que, pelo Breve Pontifício “Instante”, o Beato Papa João XXIII concedeu o privilégio da “Coroação Pontifícia da Imagem da Imaculada, Celeste e principal Patrona da cidade de Conselheiro Lafaiete”. A coroação se realizou no dia 15 de agosto de 1963. Ruas ostentando faixas, a praça lotada de fiéis, muita alegria, músicas, flores, fogos, aclamações.

A cerimônia religiosa revestiu-se de muita pompa e devoção, celebrada pelo bispo lafaietense Dom Daniel, com assistência pontifical do Cardeal Dom Carlos Carmelo de Vasconcelos Mota e a presença de representantes do Clero; do Governador do Estado, Dr. José de Magalhães Pinto; do prefeito, Dr. Orlando Baêta da Costa, e de outras autoridades. Veio gente de toda parte, às vezes de locais distantes, e esses visitantes foram acolhidos, com atenciosa hospitalidade, nas casas dos paroquianos.

Cinquenta anos passados... Quanta água rolou nesse período! Quantos fatos da vida lafaietense a Virgem presenciou! Quanto seu bondoso coração intercedeu por nós!

Há dez lustres o povo cantava o belo hino, letra do então Cônego José Sebastião Moreira e música do inspirado musicista Mansuêto Leão Correia, que começava assim:

Lafaiete hoje vem jubilosa,
Celebrar o triunfo imortal.

Na comemoração dos cinquenta anos daquele memorável dia, em versos do mesmo hino, a minha homenagem à abençoada Padroeira:

Honra e glória no céu e no exílio
À excelsa Rainha e Mãe nossa!

Nosso louvor a Nossa Senhora da Conceição e excelsa Padroeira, rogando para que, agraciados com sua intercessão, a cidade dela e nossa caminhe altaneira por todos os caminhos, mesmo os pedregosos, com a doçura de sua bênção e com a força sempre poderosa da esperança:

Salve, Regina, Mater misericordiae, vita, dulcedo et spes nostra, salve!

CIDADE DOS LIVROS E DAS FLORES






















Como seria bom se Conselheiro Lafaiete fosse florida assim...

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CIDADE DOS LIVROS E DAS FLORES

Avelina Maria Noronha de Almeida



Certa vez ganhei um caderninho com anotações que um professor laminense, João Duarte Medeiros escrevera em princípios do século XX. Entre muitos registros importantes, havia a referência a um “Anuário de Minas Gerais, dos primeiros anos do século XX, onde o historiador Nelson de Senna dizia ser Queluz um reduto de intelectuais, que o povo daqui amava os livros e não havia casa que não tivesse ao menos uma flor.

É interessante a ligação entre livros e flores porque sinto os livros como flores desabrochadas da literatura. Assim, quando há alguns anos, José Carlos Seabra inaugurou o Espaço Lafayette, escrevi um soneto sobre a cidade dos livros e das flores em homenagem àquela inauguração.

Fiquei muito feliz porque, a partir daí, a frase passou a ser utilizada em vários textos e tomou força de apelido para nossa Conselheiro Lafaiete.

Quanto aos livros, há verdadeira eclosão de lançamentos de obras de lafaietenses, aumentado de ano a ano o número de publicação , mas houve um tempo em que eu sentia falta de muitas flores pela cidade, principalmente no centro, onde os prédios ficam rentes à rua onde se localizam e quase sempre não há espaços para flores, a não ser em praças e em não muitas casas em que se debruçassem trepadeiras sobre os muros.

Felizmente também aumenta ano a ano o número de árvores que florescem pela cidade e pelos seus arredores, principalmente ipês na Primavera

Mas quando viajo na Internet e vejo certas ruas em cidades da Europa, fico encantada com os vasos de flores de espaço em espaço nas calçadas e aquelas casas que não têm jardim com flores nas janelas, ou vasos pendurados nas paredes e nos muros, numa profusão de cores e encantamentos.

Como seria bom se Conselheiro Lafaiete fosse assim!... Seríamos realmente uma Cidade dos Livros e das Flores.


CIDADE DOS LIVROS E DAS FLORES

Avelina Maria Noronha de Almeida

Um “Anuário de Minas Gerais” do início do Século XX dizia que o povo de Queluz amava as flores e os livros.


Ó antiga aldeia dos Carijós,
a Queluz de tanta glória vivida!
Cada dia que passa, mais ouvida
e mais forte se torna a tua voz.

Cantas, pelos teus vales e colinas,
um hino esplendoroso de sucesso
nas rotas do crescer e do progresso
que, em vigorosos passos, tu dominas.

Não te alimenta apenas a lembrança
de um passado de glórias e fulgores:
teu povo nunca para e não se cansa.

Ele trabalha, e escreve, e planta flores
num solo que viceja em esperança
e onde florescem livros e escritores.

SALVE, SALVE SANTO ANTÔNIO













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SALVE, SALVE SANTO ANTONIO!

Avelina Maria Noronha de Almeida
avelinaconselheirolafaiete@gmail.com



Salve, salve o grande taumaturgo, aquele de quem disse o grande papa Pio XII ser o “santo que iluminou todo o século XIII e continua a iluminar todo o universo”!

Há mais de dois séculos e meio, nesta colina foi construída a igrejinha em homenagem a Santo Antônio. Local que já foi chamado “Morro das Cruzes”, mas posso chamá-lo hoje de “Morro das Bênçãos” porque o padroeiro deste singelo mas belo templo daqui prodigaliza bênçãos para o povo desta terra.

Nos tempos em que aqui se chamava Arraial do Campo Alegre dos Carijós, devem ter rezado aos pés da imagem, entre tanta gente, os mineradores, os escravos, os fazendeiros... Quem sabe Tiradentes também não dobrou os joelhos pedindo ajuda para conseguir a realização de seus sonhos? Em tempos de Queluz, devia o Santo ter sido tão venerado que até resolveram criar uma irmandade, a gloriosa irmandade que sobreviveu ao passar dos tempos e continua uma árvore viçosa ampliando cada vez mais sua copa e brindando os fiéis com flores de Devoção e frutos de Fé e Caridade.

Santo Antônio é grandioso pelas suas obras e pelas suas palavras e também por sua coragem em defender o povo de Deus, o que foi demonstrado em vários episódios de sua vida, como o que vou relatar. Santo Antônio, no mês de maio de 1231, já próximo à morte (faleceu no mês de junho seguinte), já enfraquecido pela doença que o acometia, soube que o terrível tirano Ezzelino estava trazendo muito sofrimento ao povo de Verona. Viajou, então, de Pádua para aquela cidade italiana. O malvado governante, quando soube da presença de Antônio na cidade, não sei se por curiosidade ou por maldade pensando em se divertir-se às custas dele, desejou conhecer Frei Antônio.

Santo Antônio ia questionar Ezzelino por manter como prisioneiro seu desafeto Rizzardo e também pobres agricultores que tinham sido condenados à prisão perpétua por não terem saldado as dívidas que tinham contraído com usurários.

Antes que o frei começasse a falar, o tirano perguntou se ele era paduano e teve como resposta:

“- Eu pertenço apenas a Deus”.

Ezzelino reagiu violentamente:

“- Não me fale de Deus ou ainda mando decapitá-lo antes de ouvi-lo”.

E o que falou Santo Antônio?

“ - Não vim ao seu castelo, Ezzelino, para falar sobre mim. Trago-lhe uma mensagem. Deus, o senhor dos exércitos, está contra o senhor, porque está sendo injusto e cruel. Ultrapassou todos os limites. O meu senhor lhe ordena que solte Rizzardo e os pobres que está mantendo em suas prisões!”

E enfrentado Ezzelino repreendeu-o duramente falando de seus crimes. Todos os que estavam assistindo ao encontro dos dois ficaram aguardando a reação do tirano, mas este não mandou executar a ameaça de morte e ficou a ouvir atentamente. Interrogado sobre o fato, disse que, enquanto o santo falava, vira um resplendor em seu rosto, o que o aterrorizara. Porém não soltou os prisioneiros. Por algum tempo pareceu compungido e devoto a Santo Antônio, que continuou a pregar contra os crimes daquele homem poderoso e cruel.

Certo dia, Ezzelino, arrependido e convencido da verdade das admoestações, mandou que seus servos levassem um presente a Santo Antônio: um saco cheio de ouro. Se ele aceitasse, deveriam matá-lo logo. Porém o frade não aceitou dizendo: “São fruto de rapina. Jorram o sangue dos pobres”.

Quando os servos transmitiram a resposta, ouviram do tirano:

“- É um homem de Deus. Deixai-o, e daqui por diante diga o que bem lhe aprouver”.

No mês seguinte, Frei Antônio morreu e, quatro meses depois de sua morte, Ezzelino deu a liberdade a Rizzardo e aos outros prisioneiros.

domingo, 15 de dezembro de 2013

O TICO-TICO




















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O TICO-TICO

Avelina Maria Noronha de Almeida



Uma coisa maravilhosa dos tempos antigos foi a revista O TICO-TICO. Esse nome não deve significar nada para quem é dos últimos tempos, mas para quem foi criança na primeira metade do século XX e até princípios da década de 60 recorda-se dele com saudade. Desde que deixou de ser publicada,nunca mais houve algo no gênero que superasse essa revista, nem mesmo que a alcançasse.

Na época em que eu era criança, os pais compravam na banca do Zé Lírio, no prédio do Hotel Meridional, três tipos de revistas infantis: o Billiken, revista publicada na Argentina, escrita em espanhol,mas esse idioma estrangeiro a gente “tirava de letra”; “Era uma vez...”, do Vovô Felício;e a rainha de todas: O TICO-TICO.

E não eram só as crianças que ficavamdeslumbradas. Também adultos. Dizem que era leitura prazerosa de Rui Barbosa e Coelho Neto e que jovens daquela época como Gilberto Freyre, Érico Veríssimo, Carlos Drummond de Andrade,Ledo Ivo, Lygia Fagundes Telles, Ana Maria Machado e outros eram leitores fascinados com a revista. Inclusive Carlos Drummond, em carta a Álvaro de Moya, disse que, no ano de 1910, o Tico-Tico o ajudou a aprender a ler e a ver figuras. Vejam o que ele escreveu:

"Um passarinho “O Tico-Tico” é o pai e avô de muita gente importante. Se alguns alcançaram importância, mas fizeram bobagens, o Tico-Tico não teve culpa. O Dr. Sabe-Tudo e o Vovô ensinaram sempre a maneira correta de viver, de sentar-se à mesa e de servir à pátria. E, da remota infância, esse passarinho gentil voaaté nós trazendo no bico o melhor do que fomos um dia. Obrigado,amigo!Carlos Drummond de Andrade."

Nas palavras do grande filho de Itabira, podemos avaliar a importância de “O Tico-Tico”, primeira revista infantil do Brasil, lançada no dia 11 de outubro de 1905. Era obra do jornalista Luís Bartolomeu de Souza e Silva. Lygia Fagundes Telles, nos 100 anos da criação da revista, disse que “a criança está perdendo a infância,a infância que eu tive lendo o meu Tico-Tico, Almanaque d’O Tico-Tico”.

De acordo com o jornalista Sérgio Augusto, essa revista fezmais pela educação do Brasil do que todos os ministros que disso seencarregaram nos últimos cem anos. Mas o que é esse tão especial O Tico-Tico, que tanto colaborou na formação de várias gerações de crianças, jovens e ainda atingiu adultos? A fabulosa revista teve como modelo a revista francesa La Semaine de Suzette, uma personagem que, no Brasil, tomou o nome de Felismina. Quatro páginas eram coloridas,sendo as demais com impressão monocromática em tom de vermelho, azul ou verde, em vez de preto. Custava 200 réis. Imaginem que esse preço permaneceu até a década de 20 do século passado,porque naquela época não havia inflação no Brasil. Em seis décadas foi fonte de educação e divertimento de várias gerações de brasileiros. Conta-se que um dia pediram a Rui Barbosa para explicar uma informação que dera. E o Águia de Haia respondeu:

“ - Ora, tirei d’O Tico-Tico”.

O conteúdo da revista era de muita variedade. Havia essencialmente uma intenção didática, mas apresentada de um modo muito natural, habilmente inserida nos contos, nas brincadeiras, enfim em todo o conteúdo da revista. A criançada, seduzida pela diversões apresentadas, tinha acesso a uma aprendizagem prazerosa e, por isso mesmo, eficiente.

Eram focalizados vários aspectos da vida social, pois os editores achavam que isso era importante para o desenvolvimento das crianças. A literatura era um dos campos apresentados, com histórias, poesias... Havia informações diversas, jogos, partituras e letras de músicas, textos teatrais e folhas para serem recortadas e armadas, um grande espaço para quadrinhos e seção de correspondência, com consultas, trocas de experiências, como se pode ver, bem no estilo moderno. Também eram muito apreciados os passatempos com enigmas, adivinhações e jogos. Sem se entendiarem, os pequenos leitores assimilavam conhecimentos e preceitos morais.

Rejane M.M.A. Magalhães conta que Rui Barbosa todas as semanas comprava O Tico-Tico para os netos, mas era o primeiro a ler a revista. Certo dia, um seu amigo, o Desembargador Palma, encontrou-o imerso na leitura da revista infantil. Estranhou aquilo e gracejou:

"-Você virou criança?"

E Ruy, com muita seriedade, respondeu:

“- O espírito tem necessidade de distrações amenas, e nada melhor para conservá-lo jovem do que as leituras infantis.”

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Tenho em minhas mãos um exemplar do Tico-Tico (velhinho,coitado!), castigado por mais de 61 anos de vida sofrendo mudanças,porões empoeirados, mas, mesmo assim, ele ainda dá o seu recado. Apenas uma ligeira visão do seu conteúdo descrevendo algumas páginas...

Como era no mês de setembro, a capa ostenta uma cena do “Independência ou Morte!”. A página 3 traz as LIÇÕES DE VOVÔ, como sempre muito sábias, escritas em linguagem bem clara. Fala da tarde de 7 de Setembro e de D. Pedro. Nas páginas 4 e 5, vem a história “A Última Travessura”, uma narração interessante, demonstração de sensibilidade, com um fundo moral e sugestivas ilustrações de Luiz Sá, muito coloridas e divertidas.

A página seguinte: “Curiosidades”, alterna ilustrações e informações curtas, muito bem distribuídas, de forma nem um pouquinho monótona, como uma caricatura do sol bem engraçada, seu rosto apoiado em umas nuvens, e os dizeres:

“O Sol está a cerca de 150 milhões de quilômetros da Terra” (um dado que é o mesmo conhecido hoje); um desenho bonitinho de formiguinhas e abaixo: Proporcionalmente a formiga é um dos animais que maior cérebro possui; e assim por diante. A seção da página 11 é “No Mundo dos Conhecimentos”. O texto circundado de ilustrações e, no exemplar citado o assunto é flores, dizendo, entre outras coisas, que a palavra vem do latim “flos”, dando informações históricas interessantes como: “Os antigos consagravam a seus deuses e a seus heróis diferentes flores, cada uma das quais exprimia um sentimento ou um atributo”. Ou então: “Na antiga Roma houve festas chamadas‘Florálias’, celebradas em 28 de Abril em honra à deusa Flora. Enfeitavam-se todas as casas e mesas, todos se coroavam com flores ecantavam pela rua”.

Na página seguinte inicia-se uma série: GRANDES BATALHAS DA NOSSA HISTÓRIA, com a reprodução marrom ocupando quase toda a página e, ao lado, uma coluna com as informações sobre a batalha marítima no tempo da invasão holandesa, no ano de 1631, quando os invasores receberam um grande reforço: uma poderosa esquadra sob o comando do almirante Janson Pater. Quem estava no comando da esquadra brasileira era o almirante espanhol D. Antônio Oquendo. “As duas esquadras encontraram-se nas costas da Bahia, no dia 15 de setembro e travou-se, então, uma terrível batalha naval, a primeira de grandes proporções que se teria nas costas do Brasil. Foi nessa batalha que Janser Pater, vendo-se perdido, enrolou-se na bandeira de sua pátria e atirou-se ao mar, exclamando:'O oceano é o único túmulo digno de um almirante batavo’”.

Nas páginas 22 e 23, com grandes, engraçadas e bem feitas ilustrações de Oswaldo Storni, um conto adaptado por Maria Adelaide, que vou procurar resumir: A “Cruz do Prefeito”. Havia num povoado um prefeito muito honesto, compenetrado em seus deveres, mas que não sabia escrever e, por isso “assinava de cruz” os atos oficiais, portarias, decretos, recibos, qualquer documento da Prefeitura. Um dia foi nomeado um novo secretário, homem inescrupuloso, que achou ser bem fácil falsificar aquela assinatura e colocar a mão nos cofres públicos, ficando a responsabilidade para o senhor prefeito. Assim o fez. Um dia alguém achou absurdas as despesas autorizadas, levou ao juiz, eos papéis vieram à mão do prefeito para que ele justificasse aquelas ordens. Estranharam que o prefeito se mostrasse tranquilo e apenas separasse de um lado papéis que dizia serem falsos e do outro os verdadeiros.

- Mas como - perguntaram-lhe - pode provar isso?

Respondeu o prefeito:

- São parecidas, porque o falsificador teve muito cuidado em imitar a minha assinatura. Quando eu assino, enfio o papel entre os meus dedos indicador e médio, e traço a linha vertical da cruz junto à extremidade da unha do indicador. Deste modo, os meus traços ficam sempre à mesma distância da extremidade da margem esquerda da folha.

A seguir, mostrou que, nas folhas falsificadas pelo secretário, as linhas verticais das cruzes não coincidiam, pois umas estavam mais para a direita e outras para a esquerda, sendo que, nos papéis legítimos, a distância era uniforme. A autora da adaptação conclui: O secretário, interrogado severamente, confessou tudo. Denunciou os cúmplices, os negócios foram desfeitos, e o prefeito continuou a gozar de todo o prestígio, levando adiante sua ótima administração.

Para se aquilatar o valor dos textos do Tico-Tico, vejam só o seguinte: Nas páginas 24 e 25 está uma seção permanente “Conversas do Tio Juca”. E imaginem quem é o Tio Juca? Nada mais nada menos que o famoso Josué Montello, considerado pela crítica um dos maiores narradores brasileiros, com mais de cem obras publicadas, agraciado com medalhas e condecorações em vários países, tendo romances traduzidos para o inglês, o francês, o castelhano e o sueco e novelas transpostas para o cinema.

Neste exemplar, Tio Juca está no quarto texto sobre o Poder Judiciário. Com linguagem clara, elegante, conversa com os sobrinhos Zequinha, Nhozinho e Teté sobre o Poder Judiciário e o faz relacionando seus ensinamentos com fatos acontecidos com as crianças e comparando os cargos jurídicos com ele próprio e os sobrinhos.

Um exemplo: depois de ter explicado minuciosamente as atribuições de cada membro do judiciário e mostrado atuações, a menina Teté questionou Tio Juca na função de juiz quando proibiu o Zequinha de ir ao cinema por não ter feito os deveres de casa:

“- Tio Juca, me diga uma coisa. Como foi que o senhor deixou que o Nhozinho, no domingo, fosse ao cinema, se ele também não fez os deveres que a professora passou?”

Tio Juca não ficou embaraçado:

“- Foi porque Teté, que era o advogado de Nhozinho, conseguiu provar que ele só não fez os deveres porque esteve de cama, com um pouco de resfriado. Não foi isso, Teté?”

“- Foi isso mesmo, tio Juca.”

Tio Juca tornou a voltar-se para Zequinha:

“- E você, Zequinha, não fez os seus deveres porque foi jogar peteca na rua, não foi isso?”

Zequinha respondeu, baixando a cabeça:

“- Foi sim, senhor.”

“- O castigo não foi merecido?”- perguntou o velho.

“- Foi” - disse Zequinha.

E por aí vai a revista, com a sua “Gavetinha do Saber”, onde em pílulas, joga informações de diversas áreas do conhecimento, algumas com ilustrações, sempre procurando passar uma mensagem positiva como esta: “Miguel Couto foi um dos maiores médicos brasileiros, mestre de várias gerações. Era de origem pobre e se fez pelo estudo e pelo esforço, pelocaráter e força de vontade.”

Ou apresentando fatos interessantes: entre os astecas, os antigos povoadores do México, todo aquele que possuía um pedaço de terra era obrigado a cultivá-lo. Se dentro de 2 anos não a aproveitassem, recebia um aviso e, no fim do terceiro ano perdia o direito de posse do terreno.



Imagem da Internet


Nos caminhos da revista desfilam Pafúncio, Marocas, Reco-Reco, Bolão, Azeitona, Lamparina, Chiquinho, Jagunço, Lili... personagens de grande empatia, todos muito amados por crianças e adultos, e cujos traços deixaram marcas na história da literatura infantil. Pena que nunca mais ninguém tenha tido coragem, ou interesse, de editar uma revista infantil de tanto valor como entretenimento, instrução, valor moral e cívico.

Tenham certeza de que o Tico-Tico foi poderoso fator na mente de seus leitores.
Disse a jornalista Miriam Leitão, com livros publicados e várias premiações, entre as quais o Ayrton Senna de Jornalismo Econômico, de 2004, o que valida suas palavras:

“Precisamos capturar os estudantes para o prazer da leitura. Prazer que meus pais e professores me ensinaram na infância e ao qual tributo cada um dos meus êxitos. Quem não lê não pensa bem. Quem não é ensinado a pensar jamais vai realizar o seu potencial.”