AGRADECIMENTO À CÂMARA MUNICIPAL PELA MOÇÃO DE APLAUSO
Avelina Maria
Noronha de Almeida
Certa vez li uma frase que começava:
“Conhece-se uma cidade pelo modo como nasce...” e continuava com outras
palavras. Modifiquei o final e ficou assim: Conhece-se uma cidade pelo modo
como nasce, cresce e preserva seus valores.
Uma cidade é como o ser humano: tem
a matéria, mas também possui algo imponderável que a vivifica: uma essência
misteriosa, uma força imaterial que emana de seus moradores. Se a cidade se
preocupa apenas com a primeira parte, a material, fica-lhe faltando algo necessário,
e muito! Quando o que importa é apenas o chão que se pisa, a água que corre, a
luz que ilumina, o alimento que sustenta, enfim, apenas tudo aquilo que garante
a sobrevivência (essencial, é claro!), se, repito, forem apenas cuidados esses
setores, o seu progresso pode se tornar frágil como aquela casa construída
sobre a areia de que nos fala a Bíblia. Sem uma base cultural de reflexão, sem
respeito a princípios autênticos, sem consulta às experiências do passado (pois
o que existe hoje depende do que foi feito ontem), o edifício material do
progresso arrisca-se a deformações estruturais que nem sempre trazem o
verdadeiro bem à Comunidade. É preciso que se cuide também do que vem desse
algo imponderável que significa a sabedoria, o discernimento, os ideais, os
sonhos, os tesouros amealhados no passado e que fazem aquela diferença no
progresso de um povo. Não se pode cuidar somente do corpo, em detrimento das
forças culturais que o animam, entre elas a História e a Literatura, guardiãs
dos pensamentos, das ações empreendidas e dos valores remanescentes de outras épocas.
Como diz Cervantes na fala do imortal personagem D. Quixote: “A história é
êmula do tempo, repositório dos fatos, testemunha do passado e exemplo para o presente,
advertência para o porvir”.
Palavras verdadeiras: a História
realmente é êmula, isto é, compete com o Tempo e o supera, porque compartilham
idênticos fatos, mas o Tempo passa e a História permanece. Assim a História o
ultrapassa.
Voltando ao pensamento do início,
como nasceu nossa cidade?
Um dia vieram os índios. Trouxeram o
desejo de liberdade, de viverem longe da opressão e da falta de dignidade que
os faziam sofrer em outros lugares. Aqui encontraram a natureza pródiga e bela,
o “Campo Alegre” com o qual sonhavam.
O homem branco veio em busca de uma
vida melhor, que o ouro poderia dar.
O africano chegou subjugado, mas trouxe
a força de seu braço que foi importante fator de desenvolvimento desta terra.
As três raças, cada uma com suas tradições e vivências próprias, uniram-se e,
dessa miscigenação, nasceu uma raça nova, forte em suas características, é
verdade que herdando as fragilidades de cada uma delas, mas, principalmente,
recebendo suas qualidades e virtudes, que se somaram e caminharam juntas para o
porvir.
Como cresceu nossa cidade? Vencendo
os desafios de uma natureza exuberante e bela, mas, de certa forma, inóspita;
sobrepondo seus sentimentos mais nobres à ambição e à concupiscência de muitos;
lutando pelo império da liberdade, abraçando ideais como os dos inconfidentes e
os dos liberais de 1842; doando ao Brasil homens que mostraram o valor do
queluziano e do lafaietense, em tempos de paz e em tempos de guerra,
atravessando, com determinação, dias, décadas, anos e séculos, tornando cada
vez mais grandioso o nome de nossa terra.
E como Conselheiro Lafaiete preserva
seus valores?
As
duas primeiras indagações foram expressas com o verbo no passado. Esta última
utiliza o presente.
Uma
cidade, para preservar seus valores, precisa conhecê-los, mirando os exemplos
que nos deixaram os homens de bem que construíram seu passado e que agregaram seus
esforços para o bem comum. As pessoas passam, mas a comunidade permanece e
permanecem as ações que a beneficiaram.
Desde
os primeiros tempos, nossa terra sempre foi recebendo novos moradores e isso
acontece até hoje. Se há famílias com raízes antigas, quantas pessoas,
atualmente, vieram aqui residir... É preciso então que, constantemente, uma
força una todos os habitantes, antigos ou recentes, mantendo o sentimento de
amor e autoestima em relação à cidade. Não se diz que só se ama o que se
conhece? O conhecimento da nossa História é a argamassa que possibilita a união
de um povo. Foi um pouco dessa História e do valor de pessoas que deram passos
importantes e de pessoas que estão hoje também caminhando com vigor, que
busquei colocar no livro “Garimpando no Arquivo Jair Noronha”. Já disseram que
“conspira contra sua grandeza o povo que não cultua os seus feitos heróicos”. E
acrescento: e não reconhece seus valores e seus talentos. Por isso mesmo, no
momento efervescente pelo qual estamos passando, de tantos questionamentos,
também cada lafaietense devia se perguntar: Conheço a história da minha terra?
Ouço os avisos da História para o presente e suas advertências para o futuro? Cultuo
os que trabalharam para o bem dela?
O
que escrevi no livro “Garimpando no Arquivo Jair Noronha” é uma pequena
contribuição ao conhecimento da história de nossa terra, que apresentava
lacunas e erros, tendo me valido muito, na realização desse trabalho, dos
escritos valiosos de historiadores ilustres que me antecederam nos relatos dos
fatos históricos. As pessoas que focalizo no livro são valorosos batalhadores
pela grandeza de nossa cidade, ou talentosos lafaietenses que se destacaram além dos limites municipais, estaduais
e mesmo nacionais e estavam praticamente esquecidos, bem como valores atuais, enfim,
coisas importantes que já aconteceram em
Carijós, Queluz e continuam acontecendo em nossa amada Conselheiro Lafaiete.
Também estão no livro muitos fatos que mostram a participação de nosso povo,
desde o século XVIII, em defesa do verdadeiro progresso, da liberdade e da
dignidade humana.
Deveria
ter iniciado minhas palavras agradecendo aos Ilustres Vereadores desta egrégia
Câmara a homenagem que recebi. Propositalmente inverti a ordem do processo
para, caminhando com as palavras, demonstrar o significado da Moção de Aplauso
que recebi. Estendo o mérito desta homenagem aos vultos do passado, que tomaram
vida nas páginas do livro, e aos vultos do presente, que o valorizaram, com a
presença de trechos de suas próprias obras e com suas pinturas; ao jornalista
Guilherme Vinícios de Souza Maia, que me lançou nesta aventura literária com
seu convite para escrever as crônicas em seu jornal e me estimulou a realizá-la;
aos editores, colaboradores e amigos Osmir Camilo Gomes e Wagner José Vieira,
pois sem o trabalho e esforço deles não seria possível a existência da obra; ao
presidente da Academia de Ciências e Letras de Conselheiro Lafayette, Douglas
de Carvalho Henriques, que me ajudou efetivamente na comprovação do mais
importante resgate histórico nela relatado; e a todos os que contribuíram com
informações, contribuições nas pesquisas e fotos.
Nossa
cidade, de acordo com os princípios democráticos, está refletida nesta Câmara
Municipal. Valorizando a Cultura, que, como já expressei antes, deve nortear as
realizações materiais dando-lhes fundamentação segura, demonstram os senhores Vereadores
que, desde os primeiros tempos de seu trabalho, estão construindo o edifício de
seu mandato na rocha firme, para trazer autêntico bem-estar ao povo e elevar,
cada vez mais alto, o nome de Conselheiro Lafaiete.
Em
meu nome, e em nome das pessoas que amam verdadeiramente a nossa terra, e que,
com certeza, compreenderam o alcance do gesto desta Egrégia Câmara, os meus
comovidos agradecimentos ao Vereador Washington Fernando Bandeira, que
apresentou a Moção de Aplauso, e aos demais Vereadores, que a aprovaram. A todos esses nobres Vereadores de nossa
cidade, dirijo minha homenagem de admiração pela a preocupação cívica de preservar
um passado muito grandioso e, com isso, contribuir para o aumento da autoestima de nosso povo, dando
exemplo de autêntico espírito de Cidadania.
boa tarde Avelina
ResponderExcluirgosto muito dos seus textos!
vou colocar um link
um abracinho
Angela
Muitíssimo agradecida, Ângela.
ExcluirSou grande admiradora do Portugaldecouvertes.
Com seu estímulo, vou colocar mais textos.
Um grande abraço.
Avelina
Muitíssimo agradecida, Ângela!
ResponderExcluirVocê me estimula a colocar mais textos.
Sou grande admiradora do Portugalredecouvertes. Ele me fascina.
Um grande abraço.
Avelina