segunda-feira, 25 de novembro de 2013

BERNARDO GUIMARÃES








                                                ELE É UM POUCO NOSSO TAMBÉM

                                                                          Avelina Maria Noronha de Almeida


“Se o poeta nascera em Ouro Preto, considerava, naturalmente,‘Campos natais’ todo o vasto sertão de Minas por onde jordaneara.”
Escritor Brito Broca, falando sobre Bernardo Guimarães.


Quando estava organizando a antologia “Poetas Queluzianos e Lafaietenses”, buscando informações na Biblioteca Pública de Conselheiro Lafaiete, num excelente álbum confeccionado por Nilce Pereira sobre fatos de nossa cidade, encontrei, entre as efemérides lafaietenses, o nascimento, em 30 de abril de 1876, de Afonso Silva Guimarães, filho de Bernardo Joaquim da Silva Guimarães e de Tereza Guimarães.

Fiquei curiosa. Como se explicaria aquela informação? As prestimosas funcionárias da biblioteca na mesma hora procuraram os livros de Bernardo Guimarães e neles encontraram dados que diziam ter sido o escritor ouropretano nomeado professor de francês e latim em Queluz, em 1873. Lembrei-me, então, de que minha mãe contava ser inspirada em pessoa da antiga Queluz a personagem principal do célebre romance “A Escrava Isaura”.

Para mim foi uma novidade o fato descoberto. Verifiquei que era também desconhecido pelas pessoas a quem eu perguntava. Os antigos saberiam do fato, porém, com o tempo, ficara esquecido – foi o que pensei. Houve reação negativa de algumas pessoas quando comentei a história. Mas não desanimei e consegui provas. Tenho o xerox do contrato de edição (está respeitada a ortografia da época) , no qual se pode ler :

“Entre os abaixo-assinados, o Dr. Bernardo
Joaquim da Silva Guimarães, morador
em Queluz de Minas, como auctor,e B.L.
Garnier, estabelecido no Rio de Janeiro,
como editor, foi convencionado e con-
tractado ” o seguinte:

O Sr. Dr. Bernardo Joaquim da Silva
Guimarães vende a B. L. Garnier a
propriedade, com todos os direitos de
auctor, de sua obra intitulada ‘A
Captiva Isaura’, pela quantia de seiscen-
tos mil réis, que serão pagos ao primeiro
pedido do auctor.

Em fé de que passárão dois contractos
de igual theor, por cujo cumprimen-
to obrigarão-se, por si e seus bens,
bem como por seus herdeiros e succes-
sores, cujos conctratos entre si trocá-
rão depois de assignados.
Rio de Janeiro, 16 de julho de 1874.

(Seguem-se as assinaturas dos dois contratantes)




O livro foi publicado em 1875.

Bernardo morou no início da rua Barão de Suassuí, antes chamada de Rua Barrancos, na antiga residência de D. Maria Amália, onde mais tarde funcionou o Colégio Monsenhor Horta.A casa do escritor é a primeira à direita,mais no alto.






Em dezembro de 1876, ele ainda residia em Queluz, como se pode ver em carta enviada a seu editor no Rio de Janeiro e, assim, pela cronologia de sua obra, outras obras poderiam ter sido escritas na mesma cidade.
Bernardo Guimarães praticamente só é conhecido como romancista, mas também se destacou em outros campos literários. Sua obra poética é de grande beleza e muito vasta. Em minha opinião, o mais belo de seus poemas é “Poesia”, que tem, após o último verso, o local e a data: Queluz, 1873. È de grande extensão ocupando várias páginas, assim terminando:

Canta, ó poeta, enquanto a sacra chama
Te aquece o coração, te alenta os voos.
É de manhã que os passarinhos cantam
Seus mais frescos, harmônicos gorjeios.
À tarde geme o sabiá saudoso
No tope excelso de virente cedro;
À noite só ulula em sons carpidos
Entre ruínas agoreiro mocho.

Canta, antes que o inverno congelado
Na urna do teu peito extinga a chama
Que faz subir aos céus o incenso d’alma
E da vida nos álgidos caminhos
Venha murchar da fantasia as flores.
Canta, bem-vindo seja este teu canto
Que em minha alma acordando ecos de outrora
Abre meio seio aos cânticos e às flores.
Queluz, 1873


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