sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

MARCOS VINICIUS - TRAJETÓRIA DE MUITO SUCESSO - ELE TAMBÉM É UM POUCO NOSSO










Imagem da Internet




MARCOS VINICIUS - TRAJETÓRIA MUSICAL DE MUITO SUCESSO

ELE TAMBÉM É UM POUCO NOSSO

...suas raízes estão também honrando nosso solo.

Avelina Maria Noronha de Almeida



É muito comum ouvir-se a expressão “Prata da Casa”, mas prefiro falar “Ouro da Casa, quando falo de alguma pessoa de Lafaiete que se destaca pelo seu talento ou realizações importantes. Embora o focalizado nos próximos artigos seja “Ouro da Casa” de Congonhas, nossa cidade irmã porque a criação da Real Villa de Queluz foi fruto da solicitação do povo de Carijós, Congonhas e Itaverava, ele é também um pouco nosso.





Imagem da Internet


Marcos Vinicius nasceu no dia 17 de outubro de 1961 em Congonhas, mas sua mãe, Celi, é lafaietense assim suas raízes estão também honrando nosso solo. Se já temos raízes de Tom Jobim na distante Carijós, pois sua quinta avó, Luzia Rita da Esperança, nasceu em Carijós (antigo nome de Conselheiro Lafaiete) onde foi batizada em 23 de novembro de 1732, mais recentes e fortes são as raízes de Marcos Vinicius.

Celi, sua mãe, foi minha colega de escola. Filha do Sr. Cardoso, morava no Prado, um pouco antes da Praça da Bandeira. Quando seu pai faleceu, mudou-se para a casa dos avós maternos, duas casas abaixo de minha residência. À noite, eu costumava ficar com algumas vizinhas sentada nuns degraus que havia defronte minha casa. Víamos quando o namorado da Celi ia embora e ela ficava olhando enquanto ele descia a rua. Ao chegar na confluência de nossa rua com a rua Luiz Leite, ele se voltava e dava um adeus para ela. Eu achava isso muito romântico e bonito. Formavam um belo casal. Depois eles se casaram e ela se mudou para Congonhas, onde ele residia. Ali nasceu o Marcos Vinícius. Este introito foi só para vocês sentirem como o grande artista está ligado à nossa cidade.

Só uma ligeira apresentação sobre a importância do célebre violonista, que tem alcançado um enorme sucesso entre o público e a crítica e muito premiado utilizando a Internet:

O Presidente da "Accademia della Chitarra Classica di Milano" e Diretor Artístico do "Music Arts – Festival Internazionale di Legnano", Itália, Marcos Vinícius, foi incluído em um dos mais importantes dicionários de violonistas do mundo, o "Guitar&Players" publicado pela Ashley Publishing C.o, de Londres.

Mais outra informação na mesma fonte:

Marcos Vinícius foi o representante brasileiro no "II Internacional Guitar Festival" (Polônia) e, na Itália, apresentou-se no "Festival Internazionale Chitarristico Bustese", além de ser o concertista convidado para o famoso evento "Festa Internacional da Música". Ele foi convidado para a temporada de concertos do Konsert Resit Rey Concert Hall de Istambul, ao International Music Festival de Stresa (Italia). Participou do Festival Internacional de Guitarra de Irun e no International Guitar Festival di Aranda (Espanha) e ao importante St. John’s Smith’s Square, de Londres.

O nosso focalizado é chamado de "O Mágico das Seis Cordas".

Marcos Vinicius, iniciou sua carreira de concertista com a idade de 14 e, desde então, ele ganhou um crescente sucesso de público e crítica, tocando nas mais prestigiadas brasileiras e centros culturais europeus e depois em todo o mundo.





Imagem da Internet


Numa entrevista para o blog “Arte Brasil”, o violonista radicado na Itália, faz um depoimento sobre o seu início na música, e conta com muita espontaneidade e sensibilidade como tudo começou. Quando completou um ano de idade sua mãe, em suas palavras professora mas uma artista na confecção de doces e salgados, distribuíra entre as crianças presentes um bonequinho segurando um violão. Interessante coincidência! Aos oito anos, como em Congonhas todos se conhecessem, sua mãe permitia que fosse para a aula e depois voltasse para casa com um grupinho de colegas.

Vou deixar que ele mesmo conte o restante:

Um dia porém, ao retorno minha mãe não me viu entre os meus coleguinhas e obviamente se preocupou. Assim, resolveu fazer o percurso que fazíamos e me encontrou, parado e hipnotizado com um violão pendurado em um negócio que vendia de tudo... menos violão e que se encontrava na mesma rua onde passávamos para irmos à escola. Mas aquele violão era ali e, por sorte, o proprietário era amigo de meu pai, me conhecia, e não se importou com a minha presença mas ao mesmo tempo alertando-me da preocupação que estaria provocando à minha mãe. Enfim, minha querida mamãe encontrou-me e o proprietário disse:

"...Dona Celi, este menino está aí há vinte minutos e não descola o olhar do violão".

Naquele exato momento – penso que Deus colocara Suas mãos sobre a cabeça de minha mãe – que com dificuldades financeiras pela improvisa morte de meu pai aos 36 anos, comprou o violão para mim em prestações.”

Até hoje, todas as vezes que toco penso naquele dia sagrado para mim. Marquei este momento também depois de anos, dedicando à minha mãe meu CD "Viola ...Violar", bem como minha composição Midnight Valse publicada na Espanha. Assim começou minha trajetória. E’ difícil contar todos os fatos ou mesmo aqueles principais da própria vida porque são tantos. Porem, gostaria de deixar esta mensagem aos leitores e amigos: a fé, a força de vontade, determinação e disciplina unidos à flexibilidade como ser humano è o melhor modo para se conseguir um lugar ao Sol. As dificuldades existem...mas para seguirmos adiante...e nao para retornarmos atrás. Nao desçam do trem antes da próxima estação." Marcos Vinicius

Marcos Vinicius pode dar este conselho, pois suas palavras traduzem realmente como tem conduzido sua prolífera e brilhante existência.

Na referida entrevista, nosso focalizado conta que, depois daquele episódio na loja, que levou sua mãe a comprar o violão (tinha oito anos) começou a tocar em casa “trocando os dedos sem saber o que estava fazendo, mas admirado com os sons.” Um irmão da doméstica que trabalhava na casa de sua mãe tocava violão e ensinou a ele os primeiros acordes. No Colégio Piedade, de Congonhas, onde foi estudar, Irmã Crescência ensinou-o a tocar o violão clássico.

Morando em cidade pequena, encontrou muitas barreiras. Ele diz como reagiu diante delas: “[...] o dom estimula muito. Você encontra barreiras, mas é como se elas não existissem, você quer superá-las sempre.”





Belo Horizonte foi uma cidade significativa na vida do músico

Imagem da Internet



Com 14 anos, ele foi para Belo Horizonte residir com uma tia. Fez prova no conservatório, passou, entrando no terceiro ano. Ao tocar no casamento de uma prima, despertou a admiração do diretor de uma empresa importante o qual lhe deu um emprego, com isso dando uma estabilidade à sua vida.

Mesmo já conseguindo vencer na sua caminhada, não se satisfez com o alcançado. São muito bonitas as palavras com que ele traduz o que sentia e pensava naquela etapa de sua vida:

“[...] eu sempre achava que a estrada era muito pequena, eu queria sempre mais. Até hoje, eu não acho que o sucesso seja o ponto de chegada e sim uma via. Tem um começo mas não um fim. É ruim você ver muitas pessoas que param por achar que chegaram, se acomodam e ficam estagnadas.”

Ele não caiu na estagnação, procurando sempre oportunidades. “Me chamavam pra tocar, e eu ia. Se não me chamavam, eu ia também (risos).” Um dia pensou em promover um concerto no seminário do Sagrado Coração Eucarístico, em Belo Horizonte, em frente ao qual sempre passava. Entrou um dia, conversou, marcou um concerto. Há uma frase, da qual não me lembro direito, nem do seu autor, expressando o pensamento de que o universo conspira a favor da pessoa quando ela deseja muito uma coisa. Naquele concerto do seminário estava um missionário italiano, residente no Brasil havia alguns anos. Não é que o missionário pediu o currículo dele e convidou-o para estudar na Europa? Depois de seis meses, o jovem mineiro pisava em solo europeu. Foi assim que ele chegou onde sua carreira atingiria grandes alturas.




Imagem da Internet



“Foram tantos os momentos difíceis; tantos momentos de falta de coragem, de medo em não conseguir. Mas foi nestes momentos que percebi que a força se encontra no homem e não somente no artista. Vencendo momentos difíceis percebi também que o acreditar nas proprias possibilidades é a maior riqueza que podemos ter dentro de nós.”

“Além do seu virtuosismo, Marcos Vinicius nos permite ouvir os sons poéticos
escondidos nas cordas desse instrumentomaravilhoso.” Richard Chailly –
Diretor do Concertgbouw Royal – Amsterdam – Holland




National Symphony Orchestra of Ukraine
Viktoria Zhadko
Conductor
Concerto in A Major, op.30 n°1/Concerto for Guitar and Small Orchestra
Mauro Giuliani/Heitor Villa-Lobos
Marcos Vinicius
Guitar
20.05.2012 - 07.
With support from Brazilian Embassy in Kiev 00pm - Lisenko Hall - Kiev

Arquivo pessoal


Antes de continuar a focalizar a trajetória de Marcos Vinícius Cardoso Braga, mostrei, acima, uma das recentes apresentações do grande violonista, que foi em Kiev, com apoio da Embaixada Brasileira em Kiev.




Imagem da Internet


Kiev, uma bela cidade, é a maior cidade e capital da Ucrânia e uma das mais antigas cidades da Europa, com lindas construções, entre elas a Catedral de Santa Sofia e o Mosteiro de São Miguel com suas deslumbrantes Cúpulas Douradas.

A Ucrânia era uma das quinze repúblicas que formavam a União Soviética, tornando-se independente a partir da dissolução daquele império. Foi lá que nasceu a grande escritora da literatura brasileira, Clarice Linspector. É um importante centro cultural da Europa eslava e uma coisa muito importante é que, para a cultura nacional ucraniana, a cultura do povo é um elemento fundamental e básico.

Pois nessa cidade tão cultural, onde já se havia apresentado anteriormente, Marcos Vinicius é considerado e aplaudido como um dos mais importantes violonistas do mundo.

Continuando a falar sobre o início da carreira de nosso focalizado, vejamos o que ele mesmo responde ao entrevistador da revista Revelação quando este lhe perguntou como havia encontrado o estilo preferido para tocar no instrumento.

Ele respondeu:

– Uma vez me chegou em mãos um LP chamado “Vinte e sete horas de estúdio”, do grande violonista Badden Powel. Uma das coisas mais lindas que eu tinha escutado até aquele comomento. Depois desse dia, eu colocava o disco todos os dias e tentava tocar exatamente o que ele fazia. Algumas coisas eu consegui, outras não. Depois de um ano eu ouvi o grande André Segóvia tocando Bach. Quando eu o ouvi, disse: é esse o violão que eu quero. Daí, com 14 anos, eu fiz meu primeiro concerto com as músicas que eu sabia tocar e que eu tinha aprendido a tocar com as partituras.”

Com dezesseis anos, Marcos Vinicius recebeu o “Diploma de Honra” do Departamento Cultural de Congonhas e, em 1984, ganhou o importante “National Musical Villa Lobos Concurso”. Em 1987, foi o melhor guitarrista dos Master Classes escolhidos por Oscar Ghiglia e recebeu o “Diploma de Mérito” da Academia Musical Chigiana de Siena.

É formado como “Professor de Guitarra Clássica na Cadeira Superior” na Universidade do Estado do Brasil e é frequentemente convidado como professor e concertista por importantes conservatórios brasileiros, como o Recife Conservatório de Música e a Escola de Música Alta da Universidade Federal de Minas Gerais.

Digo sempre a meus alunos: se quiserem ser grandes artistas
por favor procurem primeira serem grandes homens.
Marcos Vinicius.

Marcos Vinicius reside na Itália onde, por vários anos, ocupou o cargo de Presidente da Academia Clássica de Milão.

No Brasil, apresentou-se como solista com as Orquestras Sinfônicas de Minas Gerais e de Pernambuco. Em 1992 recebeu o título de “Solista do Ano” por sua atuação como solista, com a Orquestra Sinfônica Brasileira, tocando o famoso “Concierto de Aranjuez”, de Joaquin Rodrigo, o músico espanhol que sobreviveu a um surto de difteria mas ficou como sequela a perda total de visão. Segundo Joaquin, esse fato o conduziu à música, tornando-se um dos expoentes máximos da música espanhola.

No dia 19 de julho de 2013, por ocasião do XVIII FESTIVAL DE INVERNO DE CONGONHAS, Minas Gerais, sua terra natal, Marcos Vinícius se apresentou na igreja São José.

Em relação ao músico espanhol, conta Marcos Vinicius quando lhe perguntaram, numa entrevista ao “Instituto Cultural Arte Brasil”, sobre os concertos que marcaram sua vida:

“ – Difícil dizer qual ou quais os concertos memoráveis para mim, pois cada um tem sua magia e seus momentos inesquecíveis. Recordo-me, porém, um em particular quando no camarim veio dar-me os parabéns a filha de Joaquin Rodrigo, que estava muito feliz pelo modo como tinha interpretado as obras de seu pai. Convidou-me, então, a passar uma tarde com Rodrigo, realmente um momento inesquecível e tão importante.

O nosso focalizado já se apresentou em cidades brasileiras como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Recife. Lembro-me de que ele tocou em uma festividade da Academia de Ciências e Letras de Conselheiro Lafayette, quando era presidente Alberto Libânio Rodrigues.

Recentemente apresentou-se em Congonhas



Imagem da Internet

No exterior, citando apenas alguns países em que realizou concertos com importante sucesso: Itália, Estados Unidos, Espanha, Inglaterra, Finlândia, Belgrado, China, Turquia, Suíça, Áustria, Sérvia, Israel e Polônia, país em que representou o Brasil no Festival Internacional de Guitarra. Entre suas performances mais importantes, podem-se citar atuações nas comemorações dos 10.000 anos cidade de Jericó – a cidade mais antiga do mundo – e também no Edifício Central da ONU, em Nova York.

Obras de Marcos Vinicius, citadas por ele mesmo na entrevista já citada:
Transcrições e revisões são inúmeras e já publicadas mas algumas ainda por serem elaboradas para as editoras. Composições originais penso aproximadamente 30, incluindo aqui aquelas dedicadas aos jovens violonistas e que se encontram dentro de coletâneas. Obras de grande porte, isto è, para concertistas posso relacioná-las:

The Awakening of the Wizards, Serrado, Galope, Preludio et Danse, Senhor do Bonfim, Le vent à Charlevoux, Africana e mais recentemente e já publicada Ararat, estas para violão solo. Para violão e violino/flauta Les fleurs de mon Jardin; para duo de violões Along the River e para quarteto de violoes Walking Together e Mis manos...mi corazòn, uma homenagem ao encanto da cultura peruana.

Ele é frequentemente convidado para programas televisivos e radiofônicos em todo o mundo como o CCTV9 asiático, italiano Rai Radiotelevisión, Rádio Vaticano, Rádio FM Concerto no Paraguai (que tem dedicado uma noite inteira para sua carreira), e suas gravações estão em trilhas sonoras de músicas clássicas das mais importantes linhas europeias.

Sua discografia é composta de quatro CD’s: "Dedicatoria", "My Hands…My Soul", "Marcos Vinicius, Guitar Recital" e "Leyendas" vem recebendo as mais importantes críticas de revistas especializadas em música, dentre as quais "Amadeus" a prestigiosa revista italiana de Musica.

Para concluir, algumas críticas sobre o nosso focalizado:

“…Marcos Vinicius, virtuoso da guitarra que se assemelha a Liszt”.
Mario Bertasa – “L’Eco di Bergamo” – Italy

"... Além de seu virtuosismo, Marcos Vinicius nos permite ouvir os sons poéticos escondidos nas cordas desse instrumento maravilhoso." Riccardo Chailly – Diretor do Concertgbouw Royal – Amsterdam – Holland

"... Marcos Vinicius redefine as regras da música"Dean L. Farley – EUA

"... Marcos Vinicius acaricia os sons musicais e frases com leveza onírica e precisão dialógica." Antonio Brena - "Amadeus" - Itália


quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

CELEBRANDO A VIDA E HOMENAGEANDO UM GRANDE CIENTISTA LAFAIETENSE








Dr. Álvaro Lobo Leite Pereira
Recorte de ilustração da reportagem do jornal Estado
de Minas "Família retira tesouro mineiro de velhas malas".



CELEBRANDO A VIDA E HOMENAGEANDO
UM GRANDE CIENTISTA LAFAIETENSE

Avelina Maria Noronha de Almeida


(Texto escrito no ano de 2008)



“Eu gosto de viver. Já me senti ferozmente, desesperadamente, agudamente infeliz, dilacerada pelo sofrimento, mas através de tudo ainda sei, com absoluta certeza, que estar viva é sensacional.”

Agatha Christie (1890-1976), inglesa, a mais famosa escritora de romances policiais de todos os tempos.

“Felicidade é a certeza de que nossa vida não está passando inutilmente.”
Érico Veríssimo (1905-1975), nascido em Cruz Alta, Rio Grande do Sul, é uma das maiores expressões da literatura brasileira.

“Mais vale salvar uma vida humana do que construir um pagode de sete andares”
Provérbio chinês.

A Campanha da Fraternidade do ano de 2008 teve, como tema, FRATERNIDADE E DEFESA DA VIDA, pregando que defender a vida é uma obrigação de todos. Uma das mais importantes maneiras de proteger a vida está na dedicação dos cientistas em sua missão de zelar pela saúde, lutando para salvar a vida das pessoas.

Marie e Pierre Curie quando, em 1998, descobriram o elemento químico rádio, trouxeram a oportunidade de cura para uma imensidade de pessoas acometida de graves doenças.

Alexander Fleming, pesquisando incansavelmente um antídoto ideal contra micróbios, extraiu do mofo a penicilina, em 1928, descobrindo a preciosa droga salvadora de vidas. Sem ela a tuberculose continuaria sendo um flagelo para a Humanidade.

Os estudos obstinados de Vital Brazil Mineiro da Campanha, mais conhecido pelos dois primeiros nomes, levaram à descoberta do soro antiofídico em 1903 e, por isso, uma picada de cobra deixou de ser fatalidade que levava à morte ou ao aleijão. O mesmo cientista ainda descobriu outros soros contra animais peçonhentos.

Edward Jenner, médico inglês, descobriu a vacina contra a varíola, que passou a ser empregada a partir de 1798. A varíola era uma das mais graves doenças que grassava pelo mundo e, com a vacina, praticamente foi erradicada do nosso planeta.

Quando Pasteur, em seu laboratório em Paris, descobriu a vacina anti-rábica, no ano de 1881, mudou uma terrível realidade. Até então, todos que eram mordidos por cães raivosos estavam condenados à morte.

Outros grandes homens lutaram contra moléstias terríveis, como John Snow, que em Londres, em meados do século XIX, combateu a cólera, que afetava a cidade. Oswaldo Cruz, o grande sanitarista, desenvolveu no Rio de Janeiro, na virada do século XIX para o século XX, uma luta tão difícil contra o mosquito da febre amarela que provocou até, em 1904, a eclosão da Revolta da Vacina. O valoroso médico não se intimidou e terminou vitorioso.

Mas quero falar mesmo é de um MÉDICO LAFAIETENSE, DR. ÁLVARO LOBO LEITE PEREIRA, que desenvolveu importante trabalho científico sobre o bócio endêmico.

Lembro-me muito bem dele... Foi nos primeiros anos da década de 40, quando eu cursava o primário no Colégio “Nossa Senhora de Nazaré”. Duas vezes por semana, a garotada ficava ansiosa pela hora do recreio, principalmente eu que era bem gulosa... É que ali aparecia um homem alto, moreno, um médico. Ele nos dava duas balas, quadradas, avermelhadas: balas de iodo, com sabor de baunilha. Uma delícia!...

Contou a grande amiga Martha Faria Fernandes que essas balas eram fabricadas na Fábrica de Balas de seu pai, o Barão, como era chamado o Henrique Nogueira de Faria.

A fábrica se localizava à rua Assis Andrade, 359, ao lado da casa da família Salgado, das célebres Violas de Queluz. Naquele tempo, não havia na região outras fábricas de bala. Assim, o Barão abastecia não apenas a nossa cidade como localidades próximas.

A indústria funcionava num lugar agradável, pitoresco, com suas enormes fornalhas e com vários sabores de bala, limão, coco, baunilha e outros, como tão bem está descrito em belo poema escrito pela poetisa Martha, filha do Henrique. Os vasilhames apropriados se espalhavam pelas muitas mesas de mármore rústicas, de grande espessura.

Era um espetáculo alegre e interessante, os empregados correndo daqui pra ali, mexendo os tachos, colocando as toras de lenha, jogando a massa para o ar, cortando as balas, tudo artesanalmente porque não havia a tecnologia de hoje, mas com o material usado na fabricação, além de ser in natura, da melhor qualidade. Bons tempos aqueles!!!

Conta ainda a filha do Barão que havia muita movimentação de pessoas de fora, principalmente de crianças, que embrulhavam as balas e pegavam as rapas de tacho.

Porém, nos dias em que havia a manipulação das balas de iodo, não havia acesso a estranhos. Ali ficava o médico, já com líquido na dosagem certa para cada tachada. Era um trabalho feito com muita responsabilidade. O médico exigia que nenhum resíduo das balas fosse aproveitado pelas crianças, como geralmente era feito, pois elas eram um remédio poderoso. Um remédio que muito bem fez à saúde do lafaietense e de muita gente mais com a distribuição daquelas balas nas escolas, principalmente, e também para o povo através da Prefeitura.

Com o trabalho do cientista, a minha geração crescia ficando cada vez mais vacinada contra o bócio, grave problema que era muito comum nestas paragens distantes dos ares marítimos.

ÁLVARO LOBO LEITE PEREIRA era o filho caçula de Eulália Horaida de Queiroz Lobo e de Francisco Lobo Leite Pereira, engenheiro de estradas de ferro e chefe da fiscalização da rede Sul-Mineira, tendo sido dado o seu nome a uma rua em nossa cidade, a rua Francisco Lobo, que se inicia ao lado do Supercomaz. Nasceu em 20 de fevereiro de 1890, em Queluz, atual Conselheiro Lafaiete, onde seu pai naquela época trabalhava na implantação do Ramal do Rio das Velhas e no acesso ferroviário a Ouro Preto. Seus estudos desenvolveram-se no Rio de Janeiro, onde se formou em Medicina.

Casou-se em 1930 com Cecília Burle Lisboa, com quem teve seis filhos: Mário, Maria Augusta, Maria Alice, Luiz Alfredo, Maria Regina e Maria Eulália.

Um importante destaque em sua carreira: recém-formado, fez parte da equipe do Dr. Carlos Chagas, que, em Lassance, descobriu o Trypanossoma e seu veículo, o barbeiro, e realizou excelentes trabalhos em Bambuí sobre o assunto.

Foi também médico auxiliar do serviço rural do Paraná, como inspetor de profilaxia no Norte daquele Estado.





Instituto Oswaldo Cruz

Imagem da Internet


Contratado como assistente do Instituto Oswaldo Cruz em 1926, dedicou sua vida, a partir de então, à renomada instituição científica, ali ficando até sua morte, quando se encontrava em pleno exercício de suas funções.

Passou a chefe de laboratório em 1931 e, em 1937, assumiu o cargo de Biologista-classe L do quadro de pesquisadores de Manguinhos.

Em 1942 foi nomeado chefe do Hospital Evandro Chagas, da Divisão de Estudos de Endemias do Instituto Oswaldo Cruz, sendo designado, em 1943, para substituir a chefia dessa Divisão em faltas e impedimentos do titular.



Conselheiro Lafaiete na época em que Dr. Álvaro Lobo realizou ali seus estudos sobre etiopatia e profilaxia do bócio endêmico em Minas Gerais

Imagem da Internet


No período de 1939 a 1942, foi designado para realizar estudos sobre a etiopatia e a profilaxia do bócio endêmico em Minas Gerais, especialmente no município de Conselheiro Lafaiete, realizando inquéritos sobre a doença e organizando um eficiente plano de profilaxia. Com isso, voltou às suas origens, às quais sempre esteve ligada sentimentalmente, residindo nessa época, com sua família, à rua Tavares de Melo.

Sobre esse período de sua carreira, temos um depoimento no livro A Escola de Manguinhos: contribuição para o estudo do desenvolvimento da medicina experimental no Brasil, de Olympio da Fonseca Filho, Tomo II: Oswaldo Cruz monumenta histórica. São Paulo: [s.n.], 1974, falando sobre estudos em várias áreas:

“Uma dessas áreas, compreendendo vasta extensão dos municípios mineiros de Conselheiro Lafayette e de Ouro-Preto, onde é intensa a endemia bócio-cretínica, foi estudada por Lobo-Leite, pesquisador do Instituto Oswaldo Cruz para isso designado pelo próprio Chagas. Pôde Lobo-Leite verificar que os portadores de bócio dessa região, em que se não encontram triatomíneos infectados, mostram pequena incidência de arritmias e de paraplegias, bem como frequência não maior que a normal de casos de morte súbita de pessoas jovens. A reacção de Guerreiro-Machado (reacção de desvio do complemento para diagnóstico de doença de Chagas) em 71 casos de bócio observados nessa zona deu 65 resultados negativos, um resultado inconcludente e 5 fracamente positivos, estes em indivíduos em que o inquérito epidemiológico indicava possibilidade de infeção fora da área estudada.” (p. 303)

Também encontram-se referências ao trabalho de Lobo Leite no livro La Maladie de Chagas, Histoire d’un fléau continental, de François Delaporte, Paris: Bibliothèque Scientifique Payot, 1999:

“Somente em 1930 aparecem novas formas de experiência: Dias revisa o ciclo evolutivo do Trypanosoma cruzi; Pena de Azevedo revisa o material histopatológico e Lobo Leite realiza novas enquetes epidemiológicas. Com as enquetes epidemiológicas encontravam-se em massa novos vetores e reservatórios de vírus, embora a identificação dos doentes ainda permanecesse rara.” (p. 219)


Em 1945 realizou trabalhos de profilaxia em São Paulo, no município de Rio Claro. Fez estudos sobre bócio e outras endemias na região de Aragarças, Goiás e, em 1948, realizou estudos epidemiológicos no Planalto Central de Goiás.
Em 1950, foi promovido por merecimento e passou para a classe M da carreira de Biologista do Ministério da Educação e Saúde.

Diz Emerson: “Toda Instituição é a sombra alongada de um homem” Também as obras escritas podem atestar, de acordo com seu valor, a grandeza e a importância de quem a escreve. Por isso, vou passar os títulos de trabalhos deixados por Dr. Lobo, que demonstram a relevância de seus estudos e pesquisas:

Trabalhos publicados pelo cientista aqui focalizado:
• Aspecto comum da Trypanosomiase Americana (com E. Villela, J. C. Penido e Evandro Chagas). Revista das Clínicas, 1929, 3 (4): 2.
• Ètudes Ematologiques dans La Fièvre Jaune. C. R. Soc. Bio.., 1919, 100 (II) : 946.
• Estreitamento Congênito da Artéria Pulmonar (com Evandro Chagas). A Folha Médica, 1930, 11 (7) : 73.
• Sur lles Anophélinées qui Transmettent Le Paludisme au Brésil (com A Godoy e O. Cruz Filho). C.R. Soc. Biol., 1930, 105 (34) : 731.
• Gasometria e Dosagem de Uréia por meio de um Dilatômetro. Acta Médica, Vol. III, nº 3 – março 1939.
• Doença de Chagas e Bócio Endêmico. Brasil Médico. 1939; 53 (46) : 1031.
• A Endemia Bócio-Cretínica no Brasil e sua Profilaxia. Conferência realizada na 2ª Quinzena Médica de Belo Horizonte, Setembro de 1940.
• Bócio Endêmico e Doença de Chagas. O Hospital (S. Fr. De Assis, Rio, 1942 21 (6) : 817.
• O Bócio Endêmico em Minas Gerais. Mem. Instit. Oswaldo Cruz, 1943, 38 (I) : 1.
• Profilaxia do Bócio Endêmico pela Iodetação do Sal. Arq. Bras. De Nutrição. 1944, I (2) : 87.
• Memorial sobre a necessidade da Instituição do Sal Iodado nas Regiões Bociógenas do Brasil (Trabalho apresentado à coordenação da Mobilização Econômica, por intermédio do Instituto Oswaldo Cruz), em abril de 1944.
• Terão os Flebótomos algum papel na transmissão do Trypanosoma Cruzi entre os lasipodídeos (trabalho apresentado ao Congresso Sul-Americano de Medicina reunido no Rio de Janeiro), 1946.
• Doença de Chagas e Endemia Bócio-Cretínica – Necessidade urgente de se proceder à profilaxia de ambas. (Trabalho apresentado no Congresso Sul-Americano de Medicina), em 1946.

Quando terminou seu trabalho de campo em Conselheiro Lafaiete, onde fundou o Primeiro Centro de Estudos do Bócio Endêmico do Brasil, voltou o médico para o Rio de Janeiro, mas continuou sempre preso à sua terra natal. Em jornais antigos, por várias vezes vi nota referentes à sua presença na cidade, hospedado em casa de seu primo e amigo Fortunato Lobo Leite.

Comprou um sobrado em Lobo Leite (antiga Soledade), terra de sua família, onde já tinha terras herdadas de seus antepassados e ali ia sempre que possível. Após sua morte, seus filhos, netos e bisnetos continuaram a passar férias em Lobo Leite, com que reverenciando a sua memória.



Imagem da Internet


Em 1945/46, ajudado pelo pessoal do lugar, ele implantou naquele lugar uma pequena Usina Hidroelétrica compreendendo barragem, rego d’água, turbina, gerador e rede de distribuição de energia, sendo que essas instalações serviram à população até a chegada da Cemig..

Quando faleceu, no Rio de Janeiro, em 20 de julho de 1950, Dr. Álvaro Lobo Leite Pereira estava ajudando a implantar o sal iodado no Estado do Rio de Janeiro.

A missão do ilustre cientista em nossa cidade e região ajudou muito a solucionar um grave problema de saúde. O bócio consiste no aumento perceptível da glândula tireóide, causando o hipotireoidismo, o que provoca cansaço, desânimo, movimentos lentos, memória fraca e muitos outros sintomas desagradáveis e, quase sempre, até mesmo sérios.

Desde o século XXIII, a prevalência do bócio endêmico nas regiões brasileiras distantes do mar preocupava médicos, cientistas e naturalistas, principalmente os viajantes estrangeiros no século XIX, como Saint-Hilaire, Luccok, Spix, Von Martius e outros, descrevendo esse problema em seus livros. Um deles, no momento não me lembro qual, dizia ser tão séria a presença do bócio em Minas Gerais, que havia um arraial onde praticamente todas as pessoas sofriam de bócio e, em um deles, onde o mal acometia praticamente todos os habitantes, nenhum homem aceitaria casar com uma jovem que não tivesse “papo”.

Dr. Álvaro defendeu ardorosamente o emprego do iodo no sal como a solução mais eficiente e econômica de profilaxia e erradicação do bócio endêmico nas regiões interioranas. Seu trabalho não foi em vão.

Finalmente, os meios científicos e a administração pública promoveram a introdução do sal iodado na cozinha do brasileiro, passando a ser obrigatória por imposição legal, inicialmente com a Lei nº 1944, de 14/08/1953, obrigando a iodetação nas regiões bociógenas. A Lei nº 6150, de 03/12/74 preceitua o uso em todo o território nacional.

Faço a minha homenagem à memória daquele homem que, num certo período, trouxe alegria e saúde a mim e as outras crianças lafaietenses através das suas deliciosas e benéficas balas de iodo.


















terça-feira, 28 de janeiro de 2014

UM ESTRATEGISTA BRILHANTE









Movimento Liberal de 1842 em Queluz

Imagem da Internet



UM ESTRATEGISTA BRILHANTE

Avelina Maria Noronha de Almeida






No livro CAMINHOS DO CERRADO – A Trajetória da Família Pereira Brandão, de autoria de José Américo Ribeiro, Eduardo Carvalho Brandão e Olímpio Garcia Brandão, encontra-se o seguinte pensamento:

“Pensar que o homem nasceu sem uma história dentro de si próprio é uma doença. É absolutamente anormal, porque o homem não nasceu da noite para o dia. Nasceu num contexto histórico específico, com qualidades históricas específicas e, portanto, só é completo quando tem relação com essas coisas. Se o indivíduo cresce sem ligação com o passado, é como se tivesse nascido sem olhos nem ouvidos e tentasse perceber o mundo exterior com exatidão. É o mesmo que mutilá-lo.”
Carl Young

Inspirando-me nas sábias palavras do célebre psicanalista, vou falar um pouco sobre a descendência do varão português MANOEL PEREIRA BRANDÃO.

Entre os descendentes do fazendeiro de SÃO GONÇALO, que são numerosos em Conselheiro Lafaiete, no Estado de Minas Gerais e mesmo no Brasil, estão pessoas ilustres no Clero, na Justiça, na Política, nas Artes, nas Letras e nas Ciências e em vários outros setores.

Mas foi escolhido, para ser focalizado especialmente, seu neto MARCIANO PEREIRA BRANDÃO, que teve o nome inscrito na história de Minas Gerais, pela sua brilhante atuação no Movimento Liberal de 1842, cujo cenário foram as províncias de São Paulo e Minas.

Conta o livro do CÕNEGO MARINHO, que participara do conflito, que o capitão MARCIANO BRANDÃO “aderiu cordialmente ao Movimento e que, com lealdade e zelo, serviu até o último instante”.

Estando Queluz sob o domínio dos Legalistas, o CAPITÃO MARCIANO deu o seu parecer sobre a situação, dizendo que poderia tomar a vila de Queluz. Assim relata o Cônego Marinho, falando a respeito de Marciano:

“Propôs ele, então, que se lhe confiassem duzentos homens (talvez tenham tido dúvida sobre a eficiência do plano porque lhe confiaram apenas 150), com os quais iria, naquela mesma noite, sem que o pressentissem os Legalistas, ocupar as estradas de Ouro Preto, Congonhas e Suaçuí; que no dia seguinte (25 [de julho]) fosse uma das colunas acampar defronte a Vila, na Estrada do Rio de Janeiro, e outra na de Itaverava, as quais deviam ir sucessivamente apertando o cerco até que os Legalistas se concentrassem todos na povoação, caso em que lhes seriam tomadas as fontes e eles, obrigados pela sede, entregar-se-iam à discrição).”

Assim o fizeram. MARCIANO BRANDÃO, EXCELENTE ESTRATEGISTA! Com sua proposta, levou os liberais à vitória. Aliás, QUELUZ foi o único lugar em que as tropas Legalistas foram vencidas, para se ver a importância do fato. Ao amanhecer do dia 26 de julho (data que deve ser comemorada em nossa cidade), a tropa legalista, com lenços brancos na ponta das baionetas, entregou-se.

Foi assim que Marciano Pereira Brandão, neto de Manoel Pereira Brandão, inscreveu o seu nome nas páginas da HISTÓRIA DE MINAS GERAIS.



segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

MEU SEXTO AVÔ JERÔNIMO DA COSTA GUIMARÃES








Igreja Velha de São Torquato

Imagem da Internet







MEU SEXTO AVÔ JERÔNIMO DA COSTA GUIMARÃES

Avelina Maria Noronha de Almeida


Meu sexto avô Jerônimo da Costa Guimarães nasceu em São Torquato ou São Torcato, termo da Vila de Guimarães, Arcebispado de Braga, Portugal, onde foi batizado em 10 de dezembro de 1700, filho de João Lourenço do Souto e Hierônima Martins Costa. Faleceu em Santo Amaro (atual Queluzito), Minas Gerais, Brasil, em 17 de outubro de 1790. Casou-se, em primeiras núpcias, com Anna da Costa e, em segundas núpcias, em 01 de novembro de 1733, em Santo Amaro, com Damiana de São José, nascida em São Miguel do Urro, Lamego, Viseu, Portugal, onde foi batizada em 02 de janeiro de 1711, filha de Manoel Pereira de Azevedo Brandão e Hierônima Pinho.


Era filho de João Lourenço do Souto, nascido por volta de 1660, em Souto, Guimarães, Portugal e falecido em São Torcato, Guimarães, filho João Lourenço e Maria Francisca...

...casado em 10/10/1681, em São Torcato, com...

Hierônima Martins Costa, nascida por volta de 1660, em Costas, Guimarães, filha de Pedro Dias e Maria Martins.

FREGUESIA DE SÃO TORCATO

São Torcato é uma freguesia portuguesa do concelho de Guimarães. Seu orago é o próprio São Torcato, que tem seu corpo incorrupto venerado no santuário de São Torcato.



Corpo Incorrupto de São Torcato

Imagem da Internet

São Torcato foi um santo português, nascido em Guimarães, que viveu entre os séculos VII e VIII. Era descendente de uma família nobre romana, Torquatus, e desde a juventude, foi muito virtuoso. Por suas qualidades espirituais e intelectuais foi aclamado arcebispo de Braga e pouco tempo depois do Porto e de Dume.

É venerado como o Padroeiro da dor de cabeça e, por isso, os devotos põe o chapéu do Santo na na cabeça. Quando em 711 os árabes muçulmanos entram a sul da península ibérica, o arcebispo lutou e defendeu as ovelhas do seu rebanho até a morte. De acordo com a tradição, seu corpo foi encontrado incorrupto num bosque, no meio das silvas e de um monte de pedras onde brotou uma fonte caudalosa que existe até hoje, conhecida como Fonte de São Torcato. Vejam o que é contado quando descobriram seu corpo:

“Não sabiam que era ele… Só quando um homem deu uma sacolada na cara do santo – ainda tem a marca – é que se ouviu uma voz: 'Cuidado que está aqui Torcato'. Retiraram o corpo, mas não havia água para o lavar. Brotou, então, milagrosamente, uma fonte, que ainda hoje jorra abundantemente. A nascente encontra-se junto à capela. As qualidades atribuídas às águas da fonte são sobretudo as de ser “leve e digestiva”,“mas a fé conta muito, se uma pessoa tem fé pode curar outros males”.



Capela da Fonte

Imagem da Internet


No local fizeram uma capelinha em honra do santo. Dizem que um cego “viu” cair uma estrela no local onde se encontra a capela da Fonte do Santo; cortaram a vegetação que cobriam o local, tendo descoberto o corpo daquele que viria a ser S. Torcato. Tendo-se decidido remover dali o corpo, tomaram uma junta de bois para fazê-lo, só que eles, chegando a um determinado local, não andaram mais. Tal fato deu origem à construção de uma igreja naquele local para que o corpo lá pudesse permanecer.


Batalha de São Mamede

Imagem da Internet


Em 24 de junho, quando Portugal em peso faz fogueiras a São João, praticamente só em Guimarães é celebrado o fato que, desde os Anais de D. Afonso, Rei dos Portugueses, é considerado o primeiro episódio da história portuguesa: a Batalha de São Mamede, em local onde se ergue a Vila de São Torcato, onde existe, alíás, um monumento comemorativo: o Campo da Ataca.



Campo da Ataca

Imagem da Internet


Segundo a tradição oral, em 24 de junho de 1128, teve início a Batalha de São Mamede, na qual D. Afonso conquistou a chefia do Condato Portucalense e iniciou o processo político da independência de Portugal. No local fizeram um monumento artístico, celebrando o importante acontecimento.


FREGUESIA DE COSTA




Imagem da Internet


Costa é uma freguesia portuguesa do concelho de Guimarães, com 4,92 km² de área e 3 450 habitantes (2001). Densidade: 701,2 hab/km².

Pedro Dias e Maria Martins nasceram na freguesia de Costa, Guimarães, onde o orago é Santa Marinha.



Santa Marinha

Imagem da Internet



A história de Santa Marinha da Costa funde-se com a história de Guimarães e sua fundadora, a condessa Mumadona. A primeira referência escrita sobre a Costa remonta ao ano de 995. Nessa altura, Mumadona doou ao Mosteiro de Guimarães a sua herdade de Lourosa, na encosta da Penha.

Foi com este nome, Lourosa, que o local começou a ser conhecido, e ainda há poucos anos dele se referia a tradição.



D. Mafalda, esposa de D.Afonso Henrique

Imagem da Internet


Diz a tradição que D. Mafalda, esposa de D. Afonso Henriques, fundou o mosteiro de Santa Marinha por volta de 1154, e o entregou aos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho

A freguesia da Costa cresceu e desenvolveu-se ao redor de dois centros, o Mosteiro e S. Roque, onde foi edificada nos inícios do século XVI uma capela devotada a S. Roque, padroeiro da Peste.


Achei muito interessante o testamento de meu sexto avô, passado pelo amigo e saudoso genealogista Allex Assis Milagre.


TESTAMENTO DE JERÔNIMO DA COSTA GUIMARÃES

(Falta a folha em que se inicia o teor do testamento)

“... das tais despesas, e deferido assim o dito juramento, mando se lhes passe quitação de contas corrente. = Meu cadáver será envolto na mortalha ou hábito de meu Pai São Francisco, de quem sou professo na Terceira Ordem e assento a sepultura no esquife destinado para tais funções, e isto na capela do Senhor Santo Amaro, acompanhado do meu Reverendo Pároco, ou do sacerdote que sua figura represente, e bem assim de mais seis sacerdotes, que todos me dirão suas missas de corpo presente, e bem assim ordeno se me digam sete oitavários, e todos eles compreendidos nos oito dias sucessivos ao do sobredito meu funeral, em cujo ato outrossim ordeno se me distribuam doze oitavas de ouro pelos pobres mendicantes agregados à dita capela, preferindo viúvas e donzelas, recolhidas a arbítrio do meu testamenteiro, e entrevenção do meu Reverendo Capelão, e se assistirá com cera com a todo indivíduo que (ilegível) me acompanhar à sepultura, e de todo que levo dito se pagarão as espórtulas costumeiras. = Declaro que estou casado na forma do Concílio Tridentino com Damiana de São José, em cuja lida conjugal atualmente existimos, e nela houvemos dez filhos que vivos existem, a saber: Frei Manoel de Santa Gertrudes, religioso professo no Mosteiro de Santo Antônio na cidade do Rio de Janeiro; José, Amaro, Joaquim, João, Maria, Jerônimo, Páscoa, Ana e Francisca, os quais chamo, e instituo por meus legítimos e necessários herdeiros, cada um na parte que por direito lhe pertence nomeação dos bens deste meu casal sou meeiro com a dita minha Consorte, e isto por benefício de inventário, e suas partilhas, de cuja meação, que assim me pertencer, depois de pagas minhas dívidas antigas e funeral. Reservo a minha terça para dela dispor na conformidade da minha vontade e benefício do meu espírito. = Declaro que, em razão de ter eu testador dado estado conjugal às ditas minhas filhas Maria, Jerônima e Páscoa, as quais dotei com alguns escravos e outros bens móveis. Ordeno que entre com os tais bens para a fatura do inventário para efeito de si lhe levar em conta esses mesmos bens em suas legítimas Paternas em ordem a igualdade que desejo tenham nelas, quando se sintam gravados ou lesos ficarão com os tais bens assinando termo de abstenção de herança para em tal caso não entrarem a colação e conferencia com os mais meus sob ditos que herdeiros, dos quais totalmente excluo a parda Maria, casada com Manoel Lopes dos Santos, eu dizem ser minha filha natural havida em tempo de meu celibato pela haver dotado com equivalente a respeito dos mais meus filhos legítimos. = Item que os bens móveis semoventes de raiz, e de terceira espécie, que atualmente possuo neste meu casal devem (ilegível) daqueles que por meu falecimento se acharem e forem dados a Inventário nos quais tenho igual parte vem a dita Consorte de cujo saldo se pagarão todas as dívidas ativas e o meu funeral e dividido em líquido por duas partes iguais, de uma delas que me pertencia tirada as duas partes relativas a meus herdeiros, de uma delas, que é da minha terça, disponho pela maneira seguinte: Ordeno se mandem dizer oitocentas missas no Convento de Santo Antônio da cidade do Rio de Janeiro, segundo a minha intenção, esmola de trezentos e oitenta reis de prata para que sem demora se celebrem. - Deixo aos santos lugares de Jerusalém quarenta mil reis, que sem falência se entregarão ao Síndico Geral morador na cidade do Rio de Janeiro = Deixo ao Santo Hospital de Vila Rica trinta mil reis para cura dos pobres enfermos = Deixo ao Santo Amaro colocado na capela donde eu testador, sou filial, para ajuda de pintar o seu retábulo, trinta mil reis = Deixo à Santa imagem do Senhor de Matosinhos colocado na sua capela de Congonhas vinte mil reis = Deixo para redenção dos cativos vinte mi reis, que se entregarão ao (ilegível) deles morador na cidade do Rio de Janeiro = Deixo a quatro órfãs donzelas recolhidas minhas sobrinhas à eleição de meus testamenteiros vinte e cinco mil reis a cada uma = Deixo ao Senhor dos Passos colocado no seu altar na Paróquia de Carijós, dez mil réis = Deixo à Senhora do Monte do Carmo, colocada na sua capela do Arraial dos Carijós, dez mil reis = Deixo á mesma Senhora do Monte do Carmo, colocada na sua Igreja de Vila Rica, vinte mil reis = Deixo a São Francisco de Assis colocado na sua Igreja de Vila Rica vinte mil reis = Deixo se repartam cinqüenta mil reis por donzelas recolhidas desta Freguesia de Carijós, das mais pobres que houverem, preferindo as minhas parentes a arbítrio dos meus testamenteiros = Cumpridas assim na (seguem-se duas linhas ilegíveis) casas pias, que se entenderão por uma vez somente por resto pois que ficar de minha terça, chamo, primeiro, e instituo por herdeiros universais desse mesmo resto as sobreditas minhas filhas Ana e Francisca em partes em partes iguais = Ordeno se paguem quaisquer dívidas que pedidas forem por pessoas de reconhecida verdade, e exemplar conduta, das que chamamos módicas deferindo-se-lhes primeiro juramento supletório = Revogo, e hei por abolidos e derrogados, todos quaisquer testamentos (ilegível) que antes eu tenha feito, porquanto neste meu solene testamento, que hora mandei escrever por Manoel Ribeiro Guimarães mando, e espero, se-lhes dê inteiro cumprimento da Justiça, e tenho toda a força e vigor, como disposições que são dirigidas pelos ditos de minha própria vontade na conformidade da qual hei por indo e acabado o presente meu testamento, e tenha toda a força e vigor, como disposições que são dirigidas pelos ditos de minha própria vontade na conformidade da qual hei por findo e acabado o presente meu testamento em que me assinei com o dito amanuensse. Campo de Santo Amaro vinte e dois de janeiro de 1781. (as) Jerônimo da Costa Guimarães; que este testamento escrevi a rogo ........ do sobredito testador (as.) Manoel Ribeiro Guimarães. Adição: Deixo a Damianna, minha afilhada, filha do falecido Antônio Forte, quarenta mil reis = Deixo a meu filho Frei Manoel de Santa Gertrudes, Religioso no Convento de Santo Antônio do Rio de Janeiro, vinte mil reis para seu tabaco e lenços = Deixo ao Hospital dos Irmãos Terceiros da Ordem Seráfica da cidade do Rio de Janeiro, vinte mil reis = Deixo a minhas duas netas e afilhadas Custódia e Josefa, filhas de minha filha Páscoa, vinte mil reis a cada uma = Finalmente declaro que as minhas quatro sobrinhas, de que faz menção a verba supra, filhas de meu irmão já falecido Dominós da Costa Guimarães moradoras na Cruz das Almas da Itabira, era dia ut supra, Jerônimo da Costa Guimarães, em que esta adição escrevi a rogo do sobredito testador Manoel Ribeiro Guimarães.
Saibam quantos este público instrumento de aprovação do testamento virem que sendo no ano do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil setecentos e oitenta e um anos aos vinte e três dias do mês de Janeiro do dito ano nesta Freguesia de Nossa Senhora da Conceição dos Carijós, em casas de morada do testador Jerônimo da Costa Guimarães, donde eu tabelião adiante nomeado fui chamado, e sendo aí achei o dito Jerônimo da Costa Guimarães doente, porém em seu perfeito juízo, segundo meu parecer pelo acordo com que me falava, e as perguntas que lhe fiz e as respostas que me deu e logo da sua mão à minha me passou três folhas de papel inteiras e cinco laudas e assim mais uma adição que consta de dezessete regras escritas que ao pé delas principia esta aprovação; declaro que as ditas laudas vão rubricadas com a minha firma que diz: Cunha, dizendo-me que (ilegível) seu testamento fora lhe dotado a Comarca de Vila Rica tinha sido equivocação de quem escrevera porquanto realmente tinha sido este termo de São José, Comarca do Rio das Mortes, e que este era o seu testamento e última vontade em que tinha disposto todo bem de sua (ilegível) temporais e que a havia mandado fazer por o Tenente Manoel Ribeiro Guimarães, e assinou ele testador de sua própria mão, dizendo-me que para mais validade queria que eu lhe aprovasse e e por este havia derrogado quaisquer outros testamentos manda, ou Codicílio, que antes deste haja feito, e somente quer que este valha, e assim o pede as Justiças de Sua Majestade, que Deus guarde, lhe façam dar todo o seu inteiro e devido cumprimento a quanto neste testamento declara e que ele testador que este não seja sido aberto nem publicado sem que Deus o leve da vida presente. Declaro que as ditas laudas vi e passei com os olhos, e nem achei cousa que dúvida faça, nem impeça a sua validade e para fé de meu oficio, e autoridade judicial que tenho fiz esta aprovação em presença das testemunhas abaixo assinadas, o Alferes Manoel José Braga, Francisco Rodrigues Xavier, Antonio Rodrigues Dutra, Manoel Pereira Lagoa, Pedro José da Costa, pessoas todas, de mim tabelião, reconhecidas, e terem (ilegível) de mais de quatorze anos, eu José da Cunha, Tabelião das aprovações com provisão do Senado da Câmara da Vila de São José da Comarca do Rio das Mortes, que assinei em público e raso com as testemunhas de verdade – José da Cunha, Jerônimo da Costa Guimarães e outros.”

“Termo da Abertura = Aos dezessete dias do mês de outubro de 1790 anos, nesta Real Vila de Queluz, Minas, e Comarca do Rio das Mortes, em casas de residência do capitão-mor José Rodrigues da Costa, atual Juiz Ordinário com alçada no cível e crime por eleição na forma da Lei na mesma Real Vila de Queluz, e seu termo, donde eu, Tabelião abaixo nomeado fui vindo em razão do meu ofício; e me achava, e sendo ali, vejo e compareceu presente José Luís da Silva homem branco morador na Aplicação de Santo Amaro, filial desta Vila, e aí em presença de mim Tabelião por ele foi dado ao sobredito Ministro este testamento, dizendo que era o solene testamento, como que havia falecido da vida presente Jerônimo da Costa Guimarães, morador que foi naquela aplicação da capela de Sato Amaro, e que ele Ministro fosse servido abrir o mesmo testamento paras seguir as disposições do testador, e recebendo do dito Ministro o dito testamento pelo achar fechado e lacrado na forma que o havia preparado o Tabelião que o aprovou como dele deve o distribuiu a mim Tabelião o abriu, (ilegível) com um canivete em os termos, e para assim constar me mandou fazer este termo de abertura em que assinou o mesmo Ministro com o apresentante (segue-se uma linha ilegível) presente termo de abertura, que Manoel Ignácio Valadan, Tabelião Público do Judicial que escrevi. (a) Costa. (a) José Luiz da Silva.”

Sinto-me feliz por ter raízes enterradas no solo de São Torcato e Santa Marinha da Costa.



sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

ANO NOVO







Imagem da Internet



ANO NOVO

Avelina Maria Noronha de Almeida




ANO NOVO! Novas esperanças, novos planos, novas lutas...

Numa determinada época de minha carreira de magistério, sempre começava as aulas colocando uma frase otimista ou bonita na lousa, o mesmo fazendo no cabeçalho das provas.

Um ano que se inicia é como a alvorada de uma aprendizagem que vai durar 365 dias e o frontispício de um teste a desafiar a força nas lides diárias. Vamos motivar este tempo que virá com a sabedoria que nos é legada por mentes iluminadas. Que tais pensamentos sejam fonte de reflexão, estímulo, força ou sirvam de alerta, para serem bem aproveitadas as lições e os desafios que nos trará o ano de 2008.

Espero que a seleção de pensamentos que se segue agrade aos leitores, aos quais desejo um Feliz Ano Novo.

“Tudo depende do tempo e do acaso.” Eclesiastes, livro do Antigo Testamento.

“Comece fazendo o que é necessário, depois o que é possível, e de repente você estará fazendo o impossível.” São Francisco de Assis.

“Para enfrentarmos a situação em que vivemos hoje é preciso um pé no chão e outro no delírio.” Ronaldo Fraga, estilista brasileiro.

“Não há nada mais difícil de se dominar, não há nada mais perigoso de se conduzir ou mais incerto em seu sucesso do que tomar a liderança na introdução de uma nova ordem de coisas”. Niccolo Machiavelli, filósofo italiano.

“Só a especulação ousada pode nos levar adiante, e não o acúmulo de fatos.” Albert Einstein, físico alemão.

“Ser bom é uma aventura muito maior e mais audaz do que dar a volta ao mundo.” Chesterton, poeta e filósofo britânico.

“Não há ventos favoráveis para quem não conhece a direção do porto.” Sêneca, filósofo romano.

“Como não gostaria de ser escravo, também não gostaria de ser amo. Esta é a minha idéia de liberdade. Tudo que diferir disso não é democracia.” Abraham Lincoln

“Então você é a mulher pequena que escreveu o livro que provocou esta guerra tão grande?” Abraham Lincoln (à autora de A Cabana de Pai Tomás, Harriet Beecher Stowe, ao conhecê-la).

“Não há nada como um sonho para criar um futuro”. Heine, filósofo alemão.

“Só as pessoas que acreditam nelas próprias podem acreditar nos outros”. Erich Fromm, psicanalista alemão.

“No coração do mineiro só há lugar para a esperança, a esperança teimosa e quase infantil que nada esmorece”. Aires da Mata Machado Filho, filólogo e escritor mineiro.

“Nem todos podem ser ilustres, mas todos podem ser bons”. Confúcio, filósofo chinês.

“Quando procuramos encontrar o melhor nos outros, fazemos emergir o nosso melhor.” William Arthur Ward, administrador americano.

“Não há uma só pegada no meu caminho que não passe pelo caminho do outro.” Simone de Beauvoir, escritora francesa.

“Os tempos mudam e nós mudamos com eles”. Provérbio latino.

“Os homens só envelhecem quando neles os lamentos substituem os sonhos”. John Barrimore, ator de cinema, americano, falecido em 1942.

“Nenhum esforço é perdido”. Pasteur, cientista francês.

Para terminar, o conselho lapidar dado por um autor de livros de auto-ajuda:

“Não fuja!
Você precisa ocupar o lugar que lhe cabe na História.” Carlos Afonso Schmitt (a grafia é com dois “t” mesmo), escritor, pedagogo e teólogo.



CONVERSA SOBRE O TEMPO








Imagem da Internet





CONVERSA SOBRE O TEMPO

Avelina Maria Noronha de Almeida


Ainda sob os eflúvios do ano que começa, quando inauguramos um novo tempo e estamos cheios de boas intenções de aproveitá-lo da melhor maneira possível, vamos jogar um pouco de conversa sobre este assunto que sempre interessou as pessoas, preocupou os filósofos e os cientistas, principalmente quanto ao modo de bem aproveitá-lo.

Somos arrastados por este fluir constante, que não podemos deter. É por isso que devemos seguir o conselho do poeta italiano lírico, satírico e filósofo:
“Carpen diem, quam minimum crédula postero” (Aproveita o dia presente e não queiras confiar no de amanhã).

Ou ouvir o alerta do poeta e prosador alemão Goethe:

"Cada momento, cada segundo é de um valor infinito, pois ele é o representante de uma eternidade inteira”.

Também o poeta e prosador espanhol Quevedo fala com muita beleza e sabedoria: "Sabes tu, porventura, o que vale um dia? Conheces o preço de uma hora? Examinaste, já, o valor do tempo? Decerto não, porque o deixas passar, alegre, descuidado da hora que, fugitiva e secreta, te leva preciosíssimo roubo. Quem te disse que o que já foi voltará, quando te for preciso, se o chamares? Dize-me: viste já alguma pegada do dia? Não! Ele só volta a cabeça para rir e zombar daqueles que assim o deixaram passar".

Muitas outras mentes privilegiadas já abordaram o assunto dizendo o que é o tempo e como utilizá-lo sabiamente, porém o que mais me deixou marcas ao ler foi a história contada pelo escritor russo Tolstoi.

Narra ele que um rei, para bem governar, queria saber a melhor hora de começar tudo, quais as pessoas certas a escutar e a quem evitar e, acima de tudo, qual a coisa mais importante a se fazer.

Proclamou pelo reino afora que daria uma grande recompensa a quem lhe desse esses ensinamentos. Vieram muitos estudados darem respostas diversas ao soberano, mas nenhuma delas o satisfez. Não concordando com nenhuma delas, a ninguém recompensou.

Um dia soube da existência de um eremita famoso pela sua sabedoria, que vivia em um bosque do qual nunca saía e onde recebia somente a gente do povo. Vestiu roupas comuns e, antes de chegar ao abrigo, deixou para trás seu cavalo e sua guarda.

O eremita, com a respiração pesada, pois era muito frágil e fraco, estava cavando com uma pá o solo em frente à sua cabana. Olhou para o rei, cumprimentou-o e continuou cavando. O rei se aproximou e fez-lhe três perguntas:

- Como posso aprender a fazer a coisa certa na hora certa? Quais as pessoas de que mais necessito e às quais devo, portanto, prestar mais atenção do que ao resto? E quais são os assuntos mais importantes e que exigem primeiramente a minha atenção?

O eremita escutou mas não respondeu, recomeçando a cavar.

O rei, vendo que o velho estava cansado, pediu-lhe a pá e passou a cavar em seu lugar. Depois de ter cavado dois canteiros, repetiu a pergunta. O velho nada lhe respondeu, só mandando que descansasse e lhe deixasse trabalhar de novo. O rei não entregou a ferramenta e continuou a cavar por mais de duas horas até que foi entardecendo e ele fincou a pá no chão dizendo ao eremita que ali estava em busca de respostas e que, se ele não podia dá-las, iria voltar para sua casa.

De repente,o velho disse:

- Olhe! Aí vem alguém correndo.

O rei virou-se. Um homem de barba tinha saído correndo do bosque, com um ferimento de bala no estômago, todo ensangüentado, caindo desmaiado. Ele e o eremita o socorreram. O rei lavou o ferimento cuidadosamente. O sangue não parava de correr e ele sempre trocando a bandagem que fizera, lavando-a e atando-a novamente. Finalmente o sangue parou de correr, o homem pediu água, que o rei lhe trouxe fresca. Carregou o ferido para a choupana, deitando-o na cama. O ferido adormeceu e o rei, sentado a seu lado, estava muito cansado e também adormeceu. Dormiram a noite inteira. Ao acordar, de manhã, o rei surpreendeu-se com o ferido a fitá-lo e a pedir-lhe perdão.

- Mas eu não o conheço, não tenho nada a perdoar...

Foi então que o homem contou a sua história. Era irmão de um homem que o rei mandara executar e se apossara de suas terras. Ele jurara vingar o irmão. Quando soube que o rei iria visitar o eremita sozinho, ficou num esconderijo esperando a sua volta. Como o dia passou e ele não voltava, saiu do esconderijo e resolveu ir ao seu encontro, mas os guardas, que estavam a uma certa distância da casa do eremita, o viram, reconheceram que era um inimigo e o feriram. Iria morrer se o rei não o acudisse e cuidasse dele.
O rei ficou feliz de ter feito as pazes com ele e não só o perdoou como disse que devolveria suas propriedades. Depois dirigiu-se ao eremita, que estava ajoelhado espalhando semente nos canteiros, rogando-lhe, pela última vez, que respondesse às perguntas que tinha formulado.

Vou deixar o restante da história para ser relatado pelo próprio Tolstoi:

"- Você já obteve as respostas – disse o eremita, ainda ajoelhado, olhando para o rei parado à sua frente.

- Como? O que você quer dizer? – perguntou o rei.

- Você não vê – replicou o eremita. Se ontem você não tivesse se apiedado da minha fraqueza e não tivesse cavado estes canteiros para mim, e tivesse voltado, aquele homem o teria atacado e você teria se arrependido de não ter ficado comigo. Então a hora mais importante foi a hora em que você estava cavando os canteiros; e eu fui o homem mais importante; e fazer o bem para mim foi o seu assunto mais importante. Depois, quando o homem correu em nossa direção, a hora mais importante foi a hora em que você o estava atendendo, pois se você não tivesse cuidado dos ferimentos dele, ele teria morrido sem fazer as pazes com você. Então ele foi o homem mais importante, e o assunto mais importante foi aquilo que você fez por ele. Então lembre-se: existe apenas uma hora que é importante porque é a única hora em que possuímos algum poder.”



terça-feira, 21 de janeiro de 2014

HOMENAGEM AO EXPEDICIONÁRIO LAFAIETENSE










Expedicionários lafaietenses antes de partir para a Itália, em São João del Rei

Arquivo João Baptista Perdigão






HOMENAGEM AO EXPEDICIONÁRIO LAFAIETENSE

Avelina Maria Noronha de Almeida



Ao louvar, em versos, as glórias do reino lusitano, disse Camões:

"Cesse tudo o que a Musa antiga canta,/Que outro valor mais
alto se alevanta."

Poderia escrever muita coisa sobre o Dia 8 de Maio, aniversário
do final da 2ª Guerra Mundial. Mas nada que eu dissesse teria a força,
a grandeza e o belo significado dos nomes que vêm a seguir, os
nomes dos lafaietenses que foram lutar em campos da Itália para defender
a nossa soberania e a paz no mundo. São eles:

Achiles Domingues Braga
Ademor de Almeida Guimarães
Agostinho de Oliveira Santos
Agripino dos Santos
Aldair Candeia dos Santos
Altamiro dos Reis Rodrigues
Álvaro Rodrigues Alves
Ângelo de Souza
Antônio André Lobo
Antônio Nogueira de Rezende
Ary Lopes
Athayde da Silva
Caetano Valentim Barbosa
Carlos Alberto Barreto Franco
Cícero Vieira Borba
Daniel Simões
Delson Rodrigues Fernandes
Eugênio Marins Pereira (morto em combate)
Eurico Filho
Ezelino Meireles
Felisbino dos Santos (morto em combate)
Francisco Pereira Filho
Geraldo Barreto
Geraldo Madaleno de Souza
Geraldo Magalhães
Geraldo Pio Lana
Geraldo Vieira Fernandes
Hélio Felício Ribeiro
Horácio Rubatino Teixeira
Humberto Buchemi
Inocêncio Furtado Rosa
Jaime Dias
João de Andrade Ribeiro
João Baptista Perdigão
João Fortunato de Oliveira
João Maximiano Milagres
João Rosa de Lima Sobrinho
Joaquim Simpliciano dos Santos
José Costa
José de Oliveira
José do Nascimento Campos
José Fernandes de Souza
José Ferreira Filho
José Jorge Miguel
José Lana da Silva
José Maria Barbosa
José Martins Dias (morto em combate)
José Moreira da Cruz
Lincoln Antunes
Luiz Rodrigues de Oliveira
Manuel José de Souza
Mauro Chapuis
Messias Alves
Nivaldo de Almeida
Osmano Ribeiro
Oswaldo Ferreira de Carvalho
Pedro Valeriano Rubem de Souza (morto em combate)
Sebastião José do Nascimento
Secundino de Castro
Telésforo Nogueira de Rezende
Vicente Gonçalves
Vicente Nogueira de Rezende
Victor Menezes de Faria
Vitorino Lúcio de Almeida
Waltério Ribeiro de Castro
Wilson Satyro de Lima


Expedicionários lafaietenses em São João del Rei


São nomes que devem ser conhecidos e honrados pelo povo lafaietense.

Desses ilustres lafaietenses, quatro deles perderam a vida nos
campos da Itália. São eles:

Eugênio Martins Pereira, filho de José Pereira Sobrinho e de
Eponina Batista. Faleceu em ação, na Itália, no dia 24 de fevereiro
de 1945 .

Felisbino dos Santos, filho de Balbino Felisbino dos Santos e
de Henriqueta Geraldina dos Santos. Faleceu em combate, no dia 12
de fevereiro de 1945, em Gabba, Itália.

José Martins Dias, filho de Miguel Martins Dias e América Flores
Dias. Faleceu no dia 27 de dezembro de 1944, em Valdibura, Itália.

Rubem de Souza, filho de Manoel Vitorino de Souza e de Luzia
Delfina de Souza. Faleceu em ação no dia 22 de fevereiro de 1945,
em Monte Castelo.

Que a data de 8 de Maio nunca seja esquecida em nossa cidade.




segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

SEGUNDA GUERRA MUNDIAL









Repórter Esso - Herón Domingues

Imagem da Internet



SEGUNDA GERRA MUNDIAL



No dia 8 de maio comemora-se o fim da Segunda Guerra Mundial. Lembro-me bem desse dia, em 1945. Quem viveu naquela época, como poderia esquecer?... O Repórter Esso, na voz forte e emocionada de Herón Domingues, proclamava:

TERMINOU A GUERRA! TERMINOU A GUERRA! TERMINOU A GUERRA!

Só de lembrar meus olhos se enchem de lágrimas de emoção.

E foi aquele espetáculo belíssimo! As ruas apinhadas de gente. Na Marechal Floriano Peixoto, parece-me que ocorreu a maior concentração do povo. As máquinas da Central do Brasil apitavam, os carros buzinavam, os sinos das igrejas repicavam festivamente, as sirenes dos cinemas, que havia muito não escutávamos (pois esse som era reservado para a emergência de aviões inimigos se aproximarem) abriam sua voz, foguetes pipocavam no ar e, o mais bonito, todas as pessoas se abraçavam efusivamente, fossem ou não conhecidas umas das outras... Nunca vi coisa igual na minha vida. Muita coisa há a dizer sobre o período dramático da guerra. Mas vou falar de um fato que as pessoas antigas como eu devem se lembrar perfeitamente, mas que é praticamente desconhecido das novas gerações.

Trata-se da “Pirâmide de Guerra”, que foi erguida, em 1942, em frente à Prefeitura Municipal de Conselheiro Lafaiete. Vou passar a explicação do que era essa pirâmide para um trecho do artigo escrito por Dr. Astor Vianna em sua coluna “Pickles”, no “Minas Jornal” de 3 de setembro de 1942, no qual fala sobre as campanhas encabeçadas pelas professoras, para colaborar com o “Esforço de Guerra”.

“... há, na cidade, uma organização patriótica e de grande eficiência que é o FORMIGUEIRO 55. [Explicação minha: em todo oBrasil havia organizações escolares semelhantes. A de nossa cidade funcionava no Grupo Escolar Pacífico Vieira]. Todas as crianças [não seria mal que até gente grande entrasse no movimento] – podem prestar um imenso serviço ao Brasil, da mais fácil das maneiras: ajuntem vocês todos os pedaços velhos de ferro, de chumbo, de lata, de zinco, de papel prateado de cigarros, de bombons, brinquedos estragados, velhas marmitas ou panelas de ferro ou de cobre, tubinhos vazios de remédio (também de dentifrícios) vidros e garrafas, ainda mesmo quebrados, celulóide, cabos de escovas de dentes, pneus velhos etc, todo esse material que parece não ter utilidade nenhuma e vamos fazer com isso a pirâmide de materiais da cidade, a que daremos o nome de Monumento Comandante Galvão. Sabem quem foi Galvão? Foi um grande soldado brasileiro que comandou a resistência de nossa cidade em 1842.”

Complementando, primeiramente em relação ao material da pirâmide: ele iria para o Arsenal de Guerra, que o encaminharia aos Estados Unidos (EUA), a fim de ser convertido em bombas, balas, tanques e aviões para combater as forças do Eixo.




Esforço de guerra do Grupo Escolar Pacífico Vieira; ao centro a professora Virginia;à direita da professora, Marina Biagioni Marques e Terezinha d’Allencourt; à esquerda da professora, Araken Santiago e Zilá Andrade.

Arquivo Jair Noronha


A campanha, que teve a direção eficiente de D. Olímpia Rodrigues Brandão, diretora do Grupo Escolar Pacífico Vieira, alcançou enorme sucesso, tendo sido encerrada em 16 de dezembro de 1942, ano em que se comemorava o centenário do Movimento citado. O Município de Conselheiro Lafaiete, com a quantia arrecadada, alcançou o seu intento e deu um avião para a Força Aérea Brasileira (FEB) lutar pela nossa soberania na Segunda Guerra Mundial. O prefeito municipal, Dr. Mário Rodrigues Pereira, encarregou meu pai, Jair Noronha, secretário da Prefeitura, de acompanhar o Formigueiro 55 ao Rio de Janeiro levando a quantia arrecadada, que D. Olímpia foi entregar,pessoalmente, no palácio, ao presidente Getúlio Vargas. Nós (porque meu pai me levou, embora eu não pertencesse ao Formigueiro), professores e alunos – entre esses últimos, a memória me traz Marina Biagioni Marques, Ênio Vierno Leão, José Martins de Oliveira e Nenê Marzano. Somente tenho informações atuais dos seguintes alunos: Marina Biagioni Marques, membro da Academia de Ciências e Letras de Conselheiro Lafayette, premiada escritora e poetisa; Dr. Ênio Leão, famoso pediatra residente em Belo Horizonte, que, numa pesquisa publicada no Jornal do Brasil há alguns anos, feita entre importantes pediatras brasileiros, foi incluído entre os cinco melhores pediatras do Brasil; e Nêne Marzano, celebrada artística plástica residente em Belo Horizonte com trabalhos enviados para o Exterior.

Ficamos no jardim em frente ao Catete. De repente, o Presidente apareceu na sacada e nos acenou com a mão.

Depois fomos à Urca, na Rádio Nacional, onde Nenê Marzano, com sua voz potente e harmoniosa, um prodígio para uma criança de 10 anos, cantou para todo o País:

“Brasil, ó meu Brasil,/ eis no teu berço doirado,/
um índio civilizado,/ abençoado por Deus...”



Em pé: Ari Gonçalves, Jair Noronha, Maria Augusta Noronha, Nazinha de Freitas, Anita Lobo, Virgínia e Sabo d’Allencourt, Didi Castellões, Dona Olympia, Marina Biagioni, Maria José (Zeca), Lúcia D’Allencourt, Nenem Marzano, não identificada, Tereza d’Allencourt, Avelina Noronha, Sentados: Cleuber Martins, Araken Santiago, Enio Vierno Leão, Paulo Rodrigues Alves, Aloezir Píramo, José Martins e Miguel Ignácio.

Arquivo Marina Biagioni Marques


Um fato especial, que me contou recentemente Nenê Marzano, merece ser trazido aos leitores: Dr. Mário, o prefeito, mandou sintonizar o rádio, que havia no antigo abrigo localizado na praça Tiradentes, na Rádio Nacional e chamou o pai da cantora-mirim para ouvir a filha. A praça se encheu de gente, também querendo assistir à transmissão radiofônica. Aí vem o momento de grande beleza: ao ouvir a filha cantar, o célebre Cavalheiro Marzano começou a chorar... e o povo, dominado pelo sentimento patriótico e vendo o pai da menina chorar, começou a chorar também.

domingo, 19 de janeiro de 2014

LENDAS DA CIDADE








Igreja Nossa Senhora do Carmo, que está presente na Lenda da Cobra.

Acervo Maurício Marzano



LENDAS DA CIDADE

Avelina Maria Noronha de Almeida


Muitos alunos de escolas locais me procuram indagando sobre lendas da cidade.

Recolhi estas informações:

ASSOMBRAÇÕES NA QUARESMA

"A antiga Queluz era cheia de lendas na época da Quaresma: Mulas Sem Cabeça, Lobisomem, Espíritos Soltos ou Maus. Tudo fazia medo à população, principalmente nas noites de sexta-feira. A cidade não possuía iluminação pública, as ruas eram escuras. O ambiente concorria para atemorizar o povo, cheio de crendices. A Capela do Carmo, a Porteira de Ferro (no caminho para o Morro da Mina) e até o adro da Matriz tinham fama de mal-assombrados. (Arquivo do Perdigão)"


As lendas que transcrevo a seguir foram contadas pelo Sr. Neném Meirelles, que era um grande conhecedor do passado de nossa cidade, à professora Geralda Meireles Gouvêa, em 11-11-de 1949. É sempre bom lembrar o nome de pessoas que contribuíram para o conhecimento de nossa história.


LENDA DA COBRA

Diziam os antigos que havia uma cobra gigantesca debaixo da terra cuja cabeça ficava enterrada debaixo do altar da igreja de Santo Antônio e a cauda debaixo do altar da igreja de Nossa Senhora do Carmo, que ficava quase em frente à Escola Estadual Domingos Bebiano e hoje não existe mais. Diziam que quando as duas igrejas fossem derrubadas, a cidade seria destruída.

LENDA DO PAU DE LETRA

Um homem vinha com um carregamento de ouro muito grande e estava levando para vender escondido fugindo aos altos impostos cobrados pela Coroa. Estava perto de Queluz quando lhe avisaram que estava sendo perseguido pela guarda encarregado da vigilância de contrabando.

O homem, estando próximo da fazenda das Bananeiras, que ficava no bairro da Santa Matilde, distanciou-se dois quilômetros da Estrada Real, entrou pelo mato, matou os três cavalos e o escravo que estava com ele e os enterrou junto com quatro potes de ouro. Fez, em uma árvore nas imediações, alguns sinais e, tranquilamente, prosseguiu para o Rio de Janeiro com a idéia de voltar mais tarde e tirar da terra o que havia dado para guardar. Quando descobriram seu esconderijo, foi preso e torturado, mas nada confessou, sendo jogado em uma prisão, ficando esquecido.

Porém, vendo aproximar-se a morte, chamou um padre e, após confessar-se, revelou ao sacerdote onde estava o ouro, dando-lhe um mapa do local.

No passado, muitas pessoas andaram procurando esse tesouro.


OUTRA VERSÃO DO PAU DE LETRA

Ainda nos tempos do domínio português, em que as autoridades levavam ao auge o seu rigor, existiu entre Ouro Branco e Ouro Preto um garimpeiro que, à força e perseverança e árduo trabalho, conseguiu ajuntar avultada quantidade de ouro.

Os outros garimpeiros e caboclos o invejavam e, por isso, o denunciaram. Tinha ele, porém, amigo sinceros que, cientes da denúncia, avisaram-no, aconselhando-o a fugir, o que ele fez.

As autoridades, no seu rigor, não desanimaram e organizaram a batida no seu encalço. Tão leais eram seus amigos que um deles conseguiu dianteira sobre a escolta que o perseguia, alcançando-o no pouso ou estalagem da Bandeirinha, distante do nosso Centro duas léguas. Avisando a este garimpeiro do perigo em que se achava, seguiu viagem para a Metrópole a fim de que as suspeitas não recaíssem sobre sua pessoa.

O referido garimpeiro, voltando então pela estrada da nossa cidade, aquém da Fazenda das Bananeiras dois quilômetros, bifurcou pelo outro trilho uma distância também aproximada de dois quilômetros.

Deixando a estrada, mandou que seu escravo fiel matasse os três burros e carga e os enterrassem, inclusive com os quatro potes de ouro, fruto de seu trabalho. Depois ele mesmo matou o escravo e o enterrou também. Fez, em uma árvore nas imediações, algumas letras como sinais e seguiu, por aqui e ali, até o Rio de Janeiro, com a ideia de voltar mais tarde e tirar o que havia dado à terra para guardar. Descoberto em seu esconderijo, foi preso e torturado. Mas nada confessou. Jogado em uma prisão, ficou esquecido.

Tempos correram.

Um padre foi chamado para ouvir em confissão a um detento. Este morre nos seus braços.

Nas memórias de um sacerdote encontraram-se estes dizeres: “Fui chamado para atender a um moribundo na prisão que me disse depois de se confessar, e já sem o segredo da confissão, que havia enterrado, entre os corpos de um escravo e de três animais de carga, o resultado de seu trabalho, visto as autoridades o perseguirem. Fez em uma árvores alguns sinais para marcar o local, sendo este à margem da estrada bifurcada a dois quilômetros da Estrada Real”.

Esta é a lenda do Pau de Letra.


UM LAGO SUBTERRÂNEO NA CAPELA DE NOSSA SENHORA DO CARMO

Quando, em outros tempos, quando os meios de transporte eram apenas os animais, transitavam por nossa cidade, comumente, as diligências, as berlindas, as liteiras e, também, as caravanas. Ao lado da Capela de Nossa Senhora do Carmo, entre a Rua Arthur Bernardes e a Avenida Benedito Valadares, passava a Estrada Real.

Era esquisito o som produzido pelas patas dos animais quando se aproximavam da capela e o som se repetia até que se afastavam dali. Ouvia-se um som como se estivessem passado sobre uma cousa tampada.

Nasceu daí a convicção de que devia existir no local qualquer coisa como um lago.


A LENDA DA COBRA E DAS CRIAÇÕES

Na parte baixada nossa cidade existia um sítio que, de pais a filhos, foi propriedade de Pacífico Vieira, patrono de uma escola de Conselheiro Lafaiete. Nesse sítio havia um córrego que corria nos fundos da região e ia dar no Rio Bananeiras.

Era comum nesse sítio desaparecerem pequenas criações, sem que houvesse explicação.

Um dia, depois de uma chuva, desapareceram dois ou três leitõezinhos, ficando no areal, formado pela água, na margem do córrego, depois da enchente, a sinuosidade característica do rastejar das serpentes.

Surgiu, então, a crença de que o desaparecimento sempre verificado era causado por uma cobra que, subindo o rio, entrava pelo córrego e ia até o sítio. Lá alimentava-se fortemente e voltava sem nunca ser visto.


sábado, 18 de janeiro de 2014

VOZ DO SINO





Imagem da Internet



VOZ DO SINO

Avelina Maria Noronha de Almeida



Dia 8 de dezembro foi a festa de NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO, PADROEIRA DA CIDADE.

Muitos não sabem que o atual templo da Praça Barão de Queluz não foi o primeiro dedicado a ela em nossa terra. Ainda no século XVIII, os bandeirantes, ajudados pelos índios carijós, construíram uma ermida muito singela, de madeira ou cercada de esteiras e coberta com folhas de colmo, como nos sugere Pe. José Duarte de Souza Albuquerque, certamente substituída, algum tempo depois, por uma igrejinha de pau-a-pique. No princípio do século XVIII, foi erigida, no atual Bairro de São João, uma igrejinha para a qual se transferiu a invocação de Nossa Senhora da Conceição, sendo ali criada a paróquia em 1709.

Em 1731, a Irmandade do Santíssimo Sacramento decidiu construir a atual igreja, na Praça Barão de Queluz, iniciando-se as obras logo depois. Atualmente a igreja está passando por um trabalho de restauração, mas não teremos de novo o sino que, no século XIX e grande parte do século XX, enchia os nossos ares com um som maravilhoso, pela grande quantidade de ouro que nele havia.

Que tristeza transmitia, geralmente à tardinha, quando dobrava lenta e tristemente porque passava um enterro na igreja. Era de cortar o coração!... Porém, ao chamar o povo, nas manhãs luminosas e fresquinhas, para a celebração da Santa Missa, ou ao anunciar festas e procissões, como repicava alegre e festivo!

MARIA DA CONCEIÇÃO FURTADO DE MENDONÇA, uma poetisa de grande sensibilidade, nascida em Queluz, no dia 31 de maio de 1908, filha de Alfredo Furtado de Mendonça e de Leonor Furtado de Mendonça. Farmacêutica, falecida em 6 de maio de 1991, fez um belo soneto sobre o nosso sino

TEU SINO

Maria da Conceição Furtado de Mendonça


Sempre que penso em meu rincão querido,
Escuto a voz de um sino a repicar...
Parecia festivo, colorido,
O seu som que subia pelo ar.

Mas quando alguém morria, quão sofrido
Transmitia o seu triste badalar...
Parecia um lamento tão sentido,
Que, sem querer, me punha a soluçar.

Fico sempre a lembrar, terra querida,
O teu sino a vibrar, belo dmais,
Na sua voz de bronze comovida.

Tanger de sino igual ouvi jamais,
Nunca mais escutei em minha vida.
Nunca mais, minha terra, nunca mais.




domingo, 12 de janeiro de 2014

A POESIA EM TEMPO DE CRISE











Imagem da Internet






A POESIA EM TEMPOS DE CRISE

Avelina Maria Noronha de Almeida



Corriam os terríveis tempos da Segunda Guerra Mundial. Grande parte da humanidade via-se coberta pelas sombras da tirania, sofrendo ameaças terríveis ou vivendo uma realidade onde o sofrimento, a tortura e a morte eram presença constante. Crise de valores morais, crise de liberdade e crise de dignidade.

De repente, no dia 5 de junho de 1944, versos da Canção de Outono, de Paul Verlaine, foram lançados aos ares pela BBC de Londres. Mais uma vez, mais outra... Eis os versos cujas insistentes repetições puseram em alerta os aliados:

“Os longos gemidos
Dos violinos
Do outono
Ferem meu coração
Com monótona
Languidez.”

Os versos eram melancólicos, eram doridos, mas, paradoxalmente, traziam um raio de esperança, a mensagem alentadora de que algo muito importante ia acontecer, o que poderia trazer paz à face do mundo. Eles eram a combinada e esperada senha que anunciava estar próxima a hora do desembarque, na Normandia das forças aliadas, o famoso DIA D, e que as tropas deviam ficar alertas e se prepararem para o início de uma trajetória heróica, que restabeleceria a liberdade e a dignidade humana dos países invadidos pelo Nazismo.

Tal fato aconteceu, realmente, no dia seguinte, 6 de junho de 1944. Por que teriam escolhidos versos para aquela mensagem? Talvez porque a poesia alimente o coração com a esperança e, naquela situação, despertaria as forças da alma como se fosse um clarim convocando à luta... A poesia pode ser a denúncia contundente, que pela lírica se imortalize...

Foi o que fez, pela sátira, Gregório de Matos Guerra (1636 - 1695), alcunhado de Boca do Inferno ou Boca de Brasa, em sua visão da Bahia, no Brasil Colônia.

“Que falta nesta cidade? Verdade.
Que mais por sua desonra... Honra.
Falta mais que se lhe ponha? Vergonha.

O demo a viver se exponha
Por mais que a fama a exalta,
Numa cidade onde falta
Verdade, Honra, Vergonha.”

Ou o que encontramos nas Cartas Chilenas, poemas em forma manuscrita e anônima, que atacavam frontalmente o governador e outros mandatários.

“Agora, fanfarrão, agora falo
Contigo e só contigo. Por que causa
Ordenas que se faça uma cobrança
Tão rápida e tão forte contra aqueles
Que ao erário só devem tênues somas?

O pobre, porque é pobre, pague tudo,
E o rico, porque é rico, vai pagando
Sem soldados à porta, com sossego?
Não era menos torpe e mais prudente
Que os devedores todos se igualassem?”

Mas nada se compara em força dramática de denúncia a Castro Alves, inspirado poeta, como podemos ver em “O Navio Negreiro”:

“Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura... se é verdade
Tanto horror perante os céus?!
Ó mar, por que não apagas

Côa esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?...
Astros! Noites! Tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!"

É, assim, a imponderável poesia um das mais belas manifestações do sentimento humano, com sua força para sensibilizar e deixar marcado o espírito de uma época.