sábado, 30 de novembro de 2013





A EPOPEIA DO HINO NACIONAL
Avelina Maria Noronha de Almeida


O Hino Nacional brasileiro é o símbolo mais emocionante de nossa Pátria. Quando as suas notas se elevam pelos ares, sentimos, principalmente conforme a situação, um estremecimento interior, chegando às vezes a trazer lágrimas aos olhos. Outros países podem ostentar belos hinos – gosto especialmente da vibrante Marselhesa – mas nenhum se iguala ao nosso, na melodia e na letra, grandiosas, envolventes, encantadoras.

Com o nome de “Marcha Triunfal” foi composta, nos idos de 1822 ou 1823, por Francisco Manuel da Silva, para comemorar a Independência do Brasil. Em cima do balcão de um armarinho onde os músicos da época costumavam se reunir, na cidade do Rio de Janeiro, foram escritos os primeiros compassos. A composição musical foi acolhida com entusiasmo e iniciou uma carreira que não mais seria interrompida, recebendo letras diversas no decorrer do tempo.

Uma verdadeira epopeia a história dessa melodia. A carga emocional que suas notas carregaram no desenvolver da História do Brasil daria uma minissérie da Globo. A primeira letra que ela recebeu, de autoria de Ovídio Saraiva de Carvalho e Silva, foi cantada pela primeira vez no cais do Largo do Paço (ex-Cais Pharoux, atual Praça 15 de Novembro, no Rio de Janeiro), a 13 de abril de 1831, quando D. Pedro I embarcava para Portugal, passando o hino a chamar-se “Hino ao 7 de Abril”, em alusão à abdicação do monarca naquela data. Era assim:

Os bronzes da tirania
Já no Brasil não rouquejam;
Os monstros que o escravizavam
Já entre nós não vicejam.

Estribilho)

Da Pátria o grito
Eis que se desata
Desde o Amazonas
Até o Prata

Ferrões e grilhões e forcas
D'antemão se preparavam;
Mil planos de proscrição
As mãos dos monstros gizavam.

Quando D. Pedro II foi coroado, colocaram outra letra na melodia, de autor desconhecido, agora com uma carga bem diversa da primeira, que era terrivelmente agressiva. Agora não. Era uma peça laudatória, engrandecendo a figura do jovem imperador, com se pode ver neste trecho:

Negar de Pedro as virtudes,
Seu talento escurecer,
É negar como é sublime
Da bela aurora, o romper.

Porém nas solenidades oficiais em que participava o imperador, era sempre executada a composição musical apenas, sem qualquer canção, como Hino Nacional.

Quando veio a Proclamação da República, em 1889, é claro que os republicanos não queriam vestígios do antigo regime. Tudo deveria ser novo nos novos tempos. Assim, resolveram realizar um concurso para escolher outro Hino Nacional. Entre os concorrentes não estava o compositor do primeiro hino.

Na tarde de 20 de janeiro de 1890 foi escolhida como vencedora a partitura de Leopoldo Miguez. Muito bonita! Mas... o povo prorrompeu em gritos. Queriam ouvir era a “Marcha Triunfal”, que foi executada sob as ovações do inflamado público.

Para tal fato deve ter concorrido o artigo escrito pelo crítico musical, Oscar Guanabarino, defendendo o antigo hino, dizendo que o povo não o considerava como homenagem a D. Pedro II, mas como Hino da Pátria e fazia uma pergunta a Deodoro:

“Marechal, nos campos do Paraguai, quando à frente das colunas inimigas a vossa espada conquistava os louros da vitória e as bandas militares tangiam o Hino Nacional, qual era a idéia, o nome que acudia a vossa mente no instante indescritível de entusiasmo – Pátria ou o Imperador ?”

E depois se dirigia ao povo:

“Decidi portanto, digno cidadão, de acordo com a resposta da vossa consciência”.

Deodoro respondeu pessoalmente ao jornalista:

“Li o seu artigo e estou de pleno acordo”.

Também o Major Serzedelo, em nome da imprensa e do povo, pediu a Deodoro que fosse conservado o antigo hino e o Presidente concordou. Nesse momento as bandas de música do Exercito e a do 23º de Infantaria tocaram o Hino de Francisco Manuel. A comoção foi geral e o povo, em delírio, aclamava Deodoro.

A primeira música do nosso Hino estava vitoriosa. Atravessando tantas intempéries da política brasileira, chegara incólume à consagração final, à definitiva posição de símbolo de nossa Pátria.

Para a escolha da melhor letra que se adaptasse ao hino, foi realizado um concurso em 1906, saindo vencedor o poema de Joaquim Osório Duque Estrada, oficializado em 1922 pelo Presidente Epitácio Pessoa.

Já houve, tempos atrás, movimentos para mudar a letra, considerando-a complexa e, por isso mesmo, de difícil entendimento, principalmente pelas palavras e imagens não muito conhecidas. Considero isso uma crítica muito simplista. Concordo com uma professora, Laura Cristina de Paula, que diz ser tal característica o que torna o hino atraente, além de ser estimulante o desafio de entender o seu significado.

Pelo menos aos jovens e às crianças devem ser proporcionadas, nas escolas, condições de desmitificar esse nosso símbolo pátrio.

Uma das dificuldades encontradas é no significado das palavras. Uma pequena consulta ao dicionário resolve tudo... Outra, a inversão das partes da frase para atender à métrica ou a rima; com um pouco de atenção, percebemos o verdadeiro sentido e aí, sim, verificamos como é lindo o nosso hino.

Imaginem a imagem suscitada logo no princípio, recordando o dia Sete de Setembro de 1822, quando o grito “Independência ou Morte” foi ouvido pelas margens plácidas, calmas, serenas do riacho Ipiranga... Em nosso céu muito azul, os raios fúlgidos, cintilantes do sol da Liberdade brilhando, iluminando o cenário inicial da nossa cidadania.


E os braços fortes de um povo conseguindo conquistar o penhor da igualdade, isto é, a garantia, a segurança de que haveria a liberdade, a qual desperta os mais puros sentimentos de heroísmo.

Esta é a Pátria amada, idolatrada, cultuada, recebendo o louvor de seus filhos.
A constelação do Cruzeiro do Sul, brilhando em nossa abóbada celeste como promessa de amor e de esperança... A grande e sólida extensão de nosso solo, a grandiosidade da Natureza, tudo isso é nossa Pátria, como todas as mães, gentil, generosa acolhedora.

Às vezes ironizam o “berço esplêndido”, porém ele não tem o significado de passividade; sim, de segurança. Nas construções grandiosas geralmente usam, nas abóbodas, ornatos em forma de flor, a que chamam de “florão” e, na primeira estrofe da segunda parte, diz que o Brasil é uma flor de ouro fulgurante, reluzente, brilhando como o ponto mais importante e vistoso da América.

E que cenas lindas nos vêm à mente quando fala dos campos lindos, risonhos do que a terra mais garrida, mais enfeitada! E os bosques, e os amores em nossa vida!...

Antigamente os romanos usavam um estandarte, uma bandeira, a que chamavam de lábaro. Para o autor, o nosso lábaro, a nossa bandeira, enfeitada de estrelas significando os estados da federação, é um símbolo de amor eterno e, com suas cores verde e amarelo suscitam a glória no passado, mas a paz no futuro.

Clava é uma arma primitiva de guerra e erguê-la significa que, pela justiça, se for preciso, o exército brasileiro se mobiliza como o fez tantas vezes.

Nosso HINO NACIONAL tem uma história, passando por vários momentos culminantes de nossa cidadania; uma melodia vibrante, linda, fortemente emocional; uma letra significativa, de alta qualidade literária, poética, mostrando a beleza e o valor de nossa terra e de nossa gente. Letra e música frutos de dois grandes e inspirados brasileiros.

Que todos saibam interpretá-lo bem e cantá-lo com o entusiasmo e o louvor que ele merece.

Um comentário:

  1. Olá querida amiga, fui ouvir o hino do Brasil no youtube
    é realmente muito bonito!
    um grande abraço
    Angela

    ResponderExcluir