segunda-feira, 25 de novembro de 2013

O DIA EM QUE QUASE CONVERSEI COM FERNANDO SABINO








O DIA EM QUE QUASE CONVERSEI COM FERNANDO SABINO

Avelina Maria Noronha de Almeida

Façamos [...] do sonho uma ponte,
da procura um encontro!
Fernando Sabino


No último dia 12 de outubro, Fernando Sabino completaria 90 anos de brilhante existência, não tivesse a implacável ceifadora cumprido nele sua missão. Mas o grande escritor foi lembrado em grande estilo. Durante a semana próxima à data, uma série de exposições sobre sua vida e sua obra aconteceu em Belo Horizonte, sua terra natal. As atividades em sua homenagem estão programadas até o final do ano.

Agora, aparentemente, vamos mudar de assunto.

Em maio de 2001, o então presidente da Academia de Ciências e Letras de Conselheiro Lafayette, Dr. Carlos Reinaldo de Souza, criou um jornal que recebeu o nome de “Caravelas”; foi um marco na história da Academia e, também, da imprensa lafaitense. Era gratuito, enviado para escolas e instituições da cidade, para as academias literárias de todos os estados e também, por intermédio do Consulado de Portugal sediado em Belo Horizonte, para todos os países do mundo onde é falada a língua portuguesa. Era trimestral. Bela composição gráfica, papel de excelente qualidade e, o que era mais importante, variado e notável conteúdo literário.

O ilustre presidente atendeu gentilmente a um pedido que lhe fiz: que me cedesse as quatro páginas centrais para fazer um módulo dedicado especialmente às escolas, focalizando assuntos que seriam fator de crescimento para os estudantes. Sempre colocava o meu telefone no módulo para caso de alguém procurar contato.

Já estávamos preparando o conteúdo do número 6 quando recebi a visita de Grácia Gomes de Abreu, que fora minha aluna, por sinal brilhante. Formada em Letras na FUNREI em 1997, na época lecionava Português no Colégio Estadual Narciso de Queirós e em outros estabelecimentos. Levara para eu ver um ensaio que apresentara em um congresso numa cidade mineira (cujo nome não me veio agora) com o título: “O carnaval em O Grande Mentecapto”, focalizando a célebre obra de Fernando Sabino.

Quando acabei a leitura, eu estava encantada com o trabalho e pedi à Grácia que me deixasse publicá-lo no módulo Caravelas conseguindo a permissão. Por ser muito grande, teria que dividi-lo em três partes. Assim publiquei no número seis a primeira parte do ensaio.

Uns dois meses depois, almoçava com minha família quando o telefone tocou.

– A secretária do Dr. Fernando Sabino está chamando a senhora – disse quem atendeu.

– Fala para ligar mais tarde, que ela está almoçando – disse um dos meus familiares.

– Não, vou agora ver quem está fazendo gracinha comigo – decidi.

Quando atendi, tive uma surpresa, algo que eu nunca supus que poderia me acontecer. E veio do outro lado:

– Alô! Aqui é a secretária do Dr. Fernando Sabino. Ele pede desculpas à senhora por não vir pessoalmente ao telefone porque está saindo para uma viagem. Ele quer saber o endereço da moça que escreveu sobre O Grande Mentecapto.

Fiquei um pouco no ar e de repente assustei:

– Meu Deus! Ele achou ruim?...

– Não. Ele adorou!

– E como ele soube da publicação?

– Foi o Dr. Fábio Lucas quem trouxe para ele o jornal.

O escritor Fábio Lucas era, na época, o presidente da União Brasileira de Escritores e Dr. Carlos Reinaldo enviava para ele o Caravelas.

Chamei a Grácia, disse-lhe que ela mesma devia escrever para o endereço que a secretária me havia passado, não só dando o endereço dela como, também, enviando o texto na íntegra. Uns dias depois recebeu, não sei se quatro ou cinco livros de autoria dele, todos eles com dedicatórias muito bonitas.
Não chegou a um mês e veio a notícia do falecimento de Fernando Sabino após insidiosa doença. Aí percebi qual era a viagem para a qual estava saindo...

Resolvi contar este episódio para juntar-me às homenagens que ainda estão sendo feitas ao escritor. Homenagem a um homem de tanta sensibilidade que, embora sofrendo muito, achou tempo, para antes da última partida, dar atenção e demonstrar sua aprovação e apreço a uma jovem professora de Português do interior de Minas.

E foi assim que a Academia de Ciências e Letras de Conselheiro Lafaiete de alguma forma se ligou ao ilustre mineiro antes que ele se fosse e que, naquele dia em que almoçava e fui interrompida, eu quase conversei com Fernando Sabino...






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