domingo, 19 de janeiro de 2014

LENDAS DA CIDADE








Igreja Nossa Senhora do Carmo, que está presente na Lenda da Cobra.

Acervo Maurício Marzano



LENDAS DA CIDADE

Avelina Maria Noronha de Almeida


Muitos alunos de escolas locais me procuram indagando sobre lendas da cidade.

Recolhi estas informações:

ASSOMBRAÇÕES NA QUARESMA

"A antiga Queluz era cheia de lendas na época da Quaresma: Mulas Sem Cabeça, Lobisomem, Espíritos Soltos ou Maus. Tudo fazia medo à população, principalmente nas noites de sexta-feira. A cidade não possuía iluminação pública, as ruas eram escuras. O ambiente concorria para atemorizar o povo, cheio de crendices. A Capela do Carmo, a Porteira de Ferro (no caminho para o Morro da Mina) e até o adro da Matriz tinham fama de mal-assombrados. (Arquivo do Perdigão)"


As lendas que transcrevo a seguir foram contadas pelo Sr. Neném Meirelles, que era um grande conhecedor do passado de nossa cidade, à professora Geralda Meireles Gouvêa, em 11-11-de 1949. É sempre bom lembrar o nome de pessoas que contribuíram para o conhecimento de nossa história.


LENDA DA COBRA

Diziam os antigos que havia uma cobra gigantesca debaixo da terra cuja cabeça ficava enterrada debaixo do altar da igreja de Santo Antônio e a cauda debaixo do altar da igreja de Nossa Senhora do Carmo, que ficava quase em frente à Escola Estadual Domingos Bebiano e hoje não existe mais. Diziam que quando as duas igrejas fossem derrubadas, a cidade seria destruída.

LENDA DO PAU DE LETRA

Um homem vinha com um carregamento de ouro muito grande e estava levando para vender escondido fugindo aos altos impostos cobrados pela Coroa. Estava perto de Queluz quando lhe avisaram que estava sendo perseguido pela guarda encarregado da vigilância de contrabando.

O homem, estando próximo da fazenda das Bananeiras, que ficava no bairro da Santa Matilde, distanciou-se dois quilômetros da Estrada Real, entrou pelo mato, matou os três cavalos e o escravo que estava com ele e os enterrou junto com quatro potes de ouro. Fez, em uma árvore nas imediações, alguns sinais e, tranquilamente, prosseguiu para o Rio de Janeiro com a idéia de voltar mais tarde e tirar da terra o que havia dado para guardar. Quando descobriram seu esconderijo, foi preso e torturado, mas nada confessou, sendo jogado em uma prisão, ficando esquecido.

Porém, vendo aproximar-se a morte, chamou um padre e, após confessar-se, revelou ao sacerdote onde estava o ouro, dando-lhe um mapa do local.

No passado, muitas pessoas andaram procurando esse tesouro.


OUTRA VERSÃO DO PAU DE LETRA

Ainda nos tempos do domínio português, em que as autoridades levavam ao auge o seu rigor, existiu entre Ouro Branco e Ouro Preto um garimpeiro que, à força e perseverança e árduo trabalho, conseguiu ajuntar avultada quantidade de ouro.

Os outros garimpeiros e caboclos o invejavam e, por isso, o denunciaram. Tinha ele, porém, amigo sinceros que, cientes da denúncia, avisaram-no, aconselhando-o a fugir, o que ele fez.

As autoridades, no seu rigor, não desanimaram e organizaram a batida no seu encalço. Tão leais eram seus amigos que um deles conseguiu dianteira sobre a escolta que o perseguia, alcançando-o no pouso ou estalagem da Bandeirinha, distante do nosso Centro duas léguas. Avisando a este garimpeiro do perigo em que se achava, seguiu viagem para a Metrópole a fim de que as suspeitas não recaíssem sobre sua pessoa.

O referido garimpeiro, voltando então pela estrada da nossa cidade, aquém da Fazenda das Bananeiras dois quilômetros, bifurcou pelo outro trilho uma distância também aproximada de dois quilômetros.

Deixando a estrada, mandou que seu escravo fiel matasse os três burros e carga e os enterrassem, inclusive com os quatro potes de ouro, fruto de seu trabalho. Depois ele mesmo matou o escravo e o enterrou também. Fez, em uma árvore nas imediações, algumas letras como sinais e seguiu, por aqui e ali, até o Rio de Janeiro, com a ideia de voltar mais tarde e tirar o que havia dado à terra para guardar. Descoberto em seu esconderijo, foi preso e torturado. Mas nada confessou. Jogado em uma prisão, ficou esquecido.

Tempos correram.

Um padre foi chamado para ouvir em confissão a um detento. Este morre nos seus braços.

Nas memórias de um sacerdote encontraram-se estes dizeres: “Fui chamado para atender a um moribundo na prisão que me disse depois de se confessar, e já sem o segredo da confissão, que havia enterrado, entre os corpos de um escravo e de três animais de carga, o resultado de seu trabalho, visto as autoridades o perseguirem. Fez em uma árvores alguns sinais para marcar o local, sendo este à margem da estrada bifurcada a dois quilômetros da Estrada Real”.

Esta é a lenda do Pau de Letra.


UM LAGO SUBTERRÂNEO NA CAPELA DE NOSSA SENHORA DO CARMO

Quando, em outros tempos, quando os meios de transporte eram apenas os animais, transitavam por nossa cidade, comumente, as diligências, as berlindas, as liteiras e, também, as caravanas. Ao lado da Capela de Nossa Senhora do Carmo, entre a Rua Arthur Bernardes e a Avenida Benedito Valadares, passava a Estrada Real.

Era esquisito o som produzido pelas patas dos animais quando se aproximavam da capela e o som se repetia até que se afastavam dali. Ouvia-se um som como se estivessem passado sobre uma cousa tampada.

Nasceu daí a convicção de que devia existir no local qualquer coisa como um lago.


A LENDA DA COBRA E DAS CRIAÇÕES

Na parte baixada nossa cidade existia um sítio que, de pais a filhos, foi propriedade de Pacífico Vieira, patrono de uma escola de Conselheiro Lafaiete. Nesse sítio havia um córrego que corria nos fundos da região e ia dar no Rio Bananeiras.

Era comum nesse sítio desaparecerem pequenas criações, sem que houvesse explicação.

Um dia, depois de uma chuva, desapareceram dois ou três leitõezinhos, ficando no areal, formado pela água, na margem do córrego, depois da enchente, a sinuosidade característica do rastejar das serpentes.

Surgiu, então, a crença de que o desaparecimento sempre verificado era causado por uma cobra que, subindo o rio, entrava pelo córrego e ia até o sítio. Lá alimentava-se fortemente e voltava sem nunca ser visto.


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