quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

PORTUGAL, AFRICA, BRASIL - ENCANTA LAFAIETE – NOS CAMINHOS DO OURO




Convite

Imagem do Blog Encanta Lafaiete/Site Roda Viva





Coral Serpa, Portugal

Imagem do Blog Encanta Lafaiete/Site Roda Viva






Coral Tuana Tua Nzambí, de Angola, África

Imagem do Blog Encanta Lafaiete/Site Roda Viva





Madrigal Roda Viva, de Conselheiro Lafaiete, Brasil

Imagem do Blog Encanta Lafaiete/Site Roda Viva







PORTUGAL, AFRICA, BRASIL

ENCANTA LAFAIETE – NOS CAMINHOS DO OURO

Avelina Maria Noronha de Almeida



Este texto foi escrito em 2008 quando foi realizado o Encanta Lafaite, nos Caminhos do Ouro, como a apresentação anual do Encontro de Corais, uma realização do Maestro Geraldo Vasconcelos, o qual, com sua chegada à nossa cidade, revolucionou o cenário musical da cidade, abrindo mais portas para sermos conhecidos além das fronteiras brasileiras.

O festival citado no início, que teve a duração de uma semana, contou com a participação dos seguintes corais:Madrigal do Recife e FACHO de Olinda, estado de Pernambuco; Capela Musical do Rio de Janeiro, RJ; SMED de Novo Hamburgo, Rio Grande do Sul; Collegium Cantorum de Curitiba, Paraná; Querubins do Horizonte de Ouro Preto, Arte e Som e Canto Livre de João Monlevade, Cidade dos Profetas de Congonhas, Tom Maior de Mariana e Cantares de Santa Bárbara, de Minas Gerais e os Internacionais SERPA de
Portugal e Tuana Tua Nzambí de Angola, África. E também o nosso Madrigal Roda Viva.

A presença de corais de Portugal e da África unindo-se aos corais do Brasil, levou~me
a escrever este texto, relembrando o encontro das três nacionalidades:


“Conhece-se uma cidade pelo modo como seu povo nasce, vive e morre”, disse Albert Camus. Vou parafrasear o escritor e filósofo franco-argelino dizendo: Conhece-se uma cidade pelo modo como NASCE, CRESCE, VIVE E CANTA.

Conselheiro Lafaiete nasceu como terra de braços abertos, braços de acolhida.
Primeiro foram os índios Carijós que vieram da baixada fluminense, fugindo aos maus tratos do homem branco e à hostilidade de outras tribos. Transpondo a Serra do Mar, subiram a Mantiqueira. Ao chegarem a estas paragens, de uma verdura exuberante e de águas onde o ouro cintilava, pensaram ter chegado à sua lendária Terra Sem Males, localizada na direção do Sol Nascente, onde acreditavam correr rios de leite e de mel e as frutas estavam sempre ao alcance das mãos. Aqui acharam o abrigo a seus sonhos e à sua ânsia de liberdade.

Depois vieram, em busca de refúgio, homens da bandeira de Borba Gato, temerosos de represálias pela morte do espanhol D. Rodrigo. Juntaram-se aos Carijós, que eram afáveis, dóceis, bem intencionados, vistos pelos jesuítas como o melhor gentio da Costa.

Acrescentaram-se povos de outros lugares, principalmente da terra lusitana, e os sofridos africanos, trazidos para dar a força de seus braços ao trabalho escravo.
Teceu-se, pela trama dos genes, uma etnia luzida, colorida, graduada de tons, forte na diversidade. Se somaram-se fraquezas, aconteceu o mesmo em relação às qualidades e, com a graça de Deus, as forças positivas foram superiores e os fios trançados resultaram num efeito promissor. Formou-se uma sociedade diversificada.
Foi assim que o Arraial do Campo Alegre dos Carijós NASCEU.

Dos gentios, de espírito livre e integrado à Natureza, perderam-se os nomes no horizonte enfumaçado dos tempos de outrora.

Nos negros, viu-se a provação de uma raça desafiada pelas contingências históricas e, por isso mesmo, fortificada para enriquecer o sangue coletivo.

Aos portugueses, valorosos na sede de aventuras e conquistas, juntaram-se outras nacionalidades que acrescentaram as forças e as mazelas de sua herança histórica e genética, trazendo as marcas de séculos de civilização.

De tanta mistura brotou uma raça de seiva tropical, uma raça determinada, amorosa e sensível.

O tempo foi passando... O arraial atravessava o século XVIII se multiplicando, trabalhando, construindo uma história bafejada pelo vento do sucesso crescente como entreposto comercial, gerador de riquezas pelo ouro na região, pela localização privilegiada, na Estrada Real, entre o Rio de Janeiro e Vila Rica.

Mas a exploração pela Coroa, com a cobrança injusta do “quinto”, trouxe a revolta. Muitos diziam: “O rei está tirando o alimento de nossa boca...” Mas continuavam, assim mesmo, a plantar, a construir templos, a escrever uma história que foi página importante na Inconfidência Mineira.

Até que um dia, antes que terminasse o século XVIII, em atendimento a uma petição que o povo fizera a Visconde de Barbacena e que fora enviada a D. Maria I, aconteceu o que tanto sonhara o povo de Carijós: foi criada a Real Vila de Queluz.

Pouco tempo depois, passavam na incipiente vila, os restos mortais de Tiradentes. Permaneceram por uma noite num rancho que existia na Rua Direita. Antes de partir, a salmoura foi renovada. Duas partes de seu corpo foram deixadas para escarmento do povo de fortes sentimentos libertários: uma na estalagem das Bandeirinhas ou Bananeiras, onde o valoroso Tiradentes expusera seus planos ao Joaquim Silvério dos Reis; a outra, na Estalagem da Varginha onde, na grande mesa da varanda, ou debaixo da Gameleira, os conjurados traçavam seus planos. Hoje, em terras de Conselheiro Lafaiete, próximo às ruínas da estalagem e da famosa árvore, às margens da Estrada Real, um monumento é lembrança e marco de heroísmo.

O nome Queluz, de vila passado a cidade em 1866, atravessou o século XIX e chegou até 1934. Nesse período, viveu momentos de grande significação. Já em junho de 1822, portanto antes do grito “Independência ou Morte!”, em palavras persuasivas, com brio e coragem, a Câmara Real de Queluz fez uma petição a D. Pedro, Príncipe Regente, no sentido de que mandasse instalar a Câmara de Cortes do Brasil, o que seria um importante passo no sentido da INDEPENDÊNCIA. Quem sabe tal documento não teria influenciado o jovem príncipe?

E como a vila foi heróica no Movimento Liberal de 1842! Na batalha travada no Largo da Matriz (atual Praça Barão de Queluz), a vitória dos revolucionários sobre as tropas legalistas do Exército do Império constituiu fato ímpar no movimento. Do episódio da luta, no soneto Queluz, de grande beleza, Mário de Lima imortalizou a figura do Tenente Galvão cujo filho, ferido pela bala, morrendo em seus braços, pediu-lhe que voltasse ao campo de batalha e ele, enxugando as lágrimas, exclamou: “Tenho mais três filhos para sacrificá-los à causa da liberdade!” E voltou, chorando, para o seu posto de comando.

Continuou o tempo com o seu caminhar. O ouro foi ficando escasso, a vila empobreceu, mas um novo veio precioso foi crescendo, do qual o valor nunca mais diminuiria e, dia a dia, ano a ano, projetaria Queluz no cenário nacional e mesmo internacional. Era o ouro da inteligência, do talento, da Arte, da força de trabalho de seus filhos, que se tornaram próceres na Política, destacando-se na Diplomacia, na Jurisprudência, nas Letras, na Ciência, nas Artes, como: Padre Manoel Rodrigues da Costa, o sábio inconfidente, o famoso Cônego Francisco Pereira de Santa Apolônia, nascido em Carijós, cultíssimo, um dos maiores oradores sacros da época, membro do Segundo Governo Provisório da Província de Minas Gerais, tendo sido vice-presidente da mesma e, algumas vezes, na ausência do titular, atuado como Presidente da Província; Napoleão Reis e Conselheiro Lafayette, que consagraram, no Brasil e além mares, o valor queluziano. E tantos outros!...

Naqueles tempos, foi privilegiada com a presença, por alguns anos, de Bernardo Guimarães, nomeado professor de Latim e Francês para Queluz, onde residia quando escreveu o seu célebre romance “A Escrava Isaura”.

Como eram apreciadas, no século XIX, as colchas de São Gonçalo! Famosas, tecidas algumas com as armas imperiais no centro, sendo dificílimo consegui-las, apesar do alto preço, devido à grande procura. Eram enviadas até, por pessoas da família imperial portuguesa, para princesas da Europa... As violas de Queluz, correspondentes ao Stradivarius no violino, eram disputadas em todo o Brasil... Quem possuía uma delas, considerava-se um privilegiado.

Em princípios do século XX, dizia Nelson Senna, no Anuário de Minas Gerais, ser Queluz uma cidade onde o povo amava as flores e os livros. Havia 11 bibliotecas no município, sendo uma delas a maior de Minas naquela época. O mesmo historiador chamou-a, ainda, de “Reduto de Intelectuais”

Placidina de Queirós, Felicíssimo Meirelles, Alberto Campos e tantos outros, como pioneiros no Teatro, escreveram com letras de ouro suas atuações. Pintores e músicos enfeitaram a Cultura queluziana e lafaietense .

Esta destinação de importância cultural prosseguiu durante todo o século passado, com o brilho dos amadores no Teatro, ombreando-se com os grandes artistas nacionais, teatrólogos, jornalistas, prosadores nos diversos gêneros, poetas, todos da melhor estirpe intelectual e artística, alguns com reconhecimento nacional e internacional, como o compositor e concertista José Maria da Rocha Ferreira, que teve uma de suas missas tocadas no Vaticano e outras músicas de sua autoria divulgadas na Espanha; o teatrólogo Cleiber Andrade, com peças encenadas pelo célebre Procópio Ferreira e aclamadas no exterior; Helena dos Santos, cujas músicas feitas para Roberto Carlos alcançaram, nos primeiros tempos da MPB, muito sucesso na França, na Argentina, no Japão e em outros países; o chamado “Saxofone de Ouro”, Moacyr Silva, famoso no Brasil e também nos Estados Unidos, onde, sob o pseudônimo de Bob Fleming, alcançou grande sucesso.

Sempre atenta aos interesses da Pátria e da Liberdade, enviou 63 de seus filhos para lutar nos campos da Itália, na Segunda Guerra Mundial como integrantes da FEB, onde lutaram com grande coragem e heroísmo. Sua jazida do Morro da Mina, na época a maior mina de manganês em céu aberto do Mundo, forneceu todo aquele minério do Ocidente utilizado pelos Aliados na Segunda Guerra Mundial, além de um tanque fabricado nas oficinas da Companhia Santa Matilde. A população lafaietense também contribuiu com o “Esforço de Guerra”, doando, com o dinheiro recolhido na cidade, um avião à Cruz Vermelha.

Uma plêiade de administradores, cientistas e técnicos fizeram a cidade crescer em tamanho e qualidade, e hoje as vantagens e conquistas da modernidade estão presentes em todos os setores.

Permanentemente garimpando seus valores e lapidando-os para a construção permanente do desenvolvimento, recebendo com carinho aqueles que vinham de outras terras, principalmente das localidades mais próximas, em busca de novos horizontes, com isso acrescentando valor deles, assim Queluz, que posteriormente passou a chamar-se Conselheiro Lafaiete, CRESCEU.

Hoje a cidade de Conselheiro Lafaiete, Estado de Minas Gerais, localizada na Mesorregião Metropolitana de Belo Horizonte, é sede da Microrregião de Conselheiro Lafaiete, que compreende os municípios de Casa Grande, Catas Altas da Noruega, Congonhas, Conselheiro Lafaiete, Cristiano Otoni, Desterro de Entre Rios, Entre Rios, Itaverava, Ouro Branco e Queluzito.

Privilegiado pólo geográfico, próximo a várias cidades históricas, liga-se pela malha rodoviária com as capitais da Região Sudeste: Belo Horizonte (100 km), Rio de Janeiro (340 km), São Paulo (590 km) e Vitória (580 km).

Divisor das bacias hidrográficas do Rio Doce e do Rio São Francisco, ocupa uma área de 375 km² de extensão, situada nas seguintes coordenadas geográficas: 20º 39´50´´ de latitude sul e 43º 47´40´´ de longitude W.Gr. É um centro geodésico (marco do SAD nº 69, localizado no degrau do meio do chafariz da Praça Barão de Queluz), que tem comunicação com satélites e outros marcos geodésicos, dando posicionamento em relação a latitude e longitude, importante para os meios de comunicação, de transporte e confecção de mapas.

Na terra das Alterosas, situada, em sua altitude máxima a 1,157 metros acima do nível do mar, tem um saudável clima temperado tropical.

É considerada como de boa qualidade de vida. Assistida por grande rede de serviços médicos, hospitalares e farmacêuticos e por bem equipado serviço de segurança, oferece, aos moradores e visitantes, um comércio amplo e variado, com bons supermercados, casas de comércio de diversos tipos, padarias e açougues, num total de mais de 3.000 empresas comerciais e diversas indústrias de pequeno porte, além de excelente rede hoteleira, grande número de restaurantes, bares e pizzarias.

Conta com grande número de Faculdades e se orgulha da atuante Academia de Ciências e Letras de Conselheiro Lafayette. Como fonte de Cultura e Lazer e conhecimento de sua história, a Biblioteca Antônio Perdigão – Museu e Arquivo da Cidade, o Centro Cultural da Praça do Cristo, a Biblioteca Pública, o Museu Ferroviário, a Praça do Cristo e muitos outros locais.

Há várias associações sociais e esportivas. Tem rico patrimônio de monumentos, wentre eles, os templos barrocos de Nossa Senhora da Conceição, com rica e delicada talha, de Santo Antônio e de São Gonçalo, todos eles do século XVIII; o chafariz em bronze de 1881, com linda decoração; o Memorial do Milênio, com rico acervo colocado no último dia do Segundo Milênio, cuidadosamente preservado para ser aberto no último dia do ano de 2100; a imagem do Cristo Redentor, medindo verticalmente 15 m e horizontalmente, devido aos braços abertos, também 15 m, colocada sobre uma base de concreto de 13m de altura que termina por um mirante que, com sua bela iluminação panorâmica, permite sua visão em grande parte da cidade; a imagem de Nosso Senhor dos Passos, na Matriz de Nossa Senhora da Conceição, do século XVIII, com o sangue da testa, do nariz e das mãos encarnado em rubi, sendo uma das poucas imagens com essa característica no País; a imagem de Nossa Senhora Aparecida, no Bairro JK, medindo 6,20, feita de cobre cromado e depois dourado, o que lhe dá um belo e original aspecto.

Cidade histórica, atravessada pela Estrada Real, é de importância significativa no circuito turístico e apresenta rico calendário de festas populares, entre elas os festejos juninos, com destaque para a Trezena de Santo Antônio, que mantém características tradicionais como leilões, barraquinhas, espetáculo de fogos, pau-de-sebo etc. Também há os festivais de congado, de bandas, de corais, de teatro e muitas outras atrações culturais.

É assim, num crescimento constante, em meio a tão rico patrimônio, recebendo de braços abertos todos os que a procuram, que Conselheiro Lafaiete VIVE.

E como esta cidade canta?

O seu canto começou lá longe, no passado, escondido pela poeira do tempo, quando as
vozes dos índios Carijós, celebravam seus ritos, louvando Tupã ou Jaci.

Depois cantou as cantigas portuguesas, ora melancólicas, lembrando a pátria distante, ora alegres e brejeiras, com toda a alma emotiva dos lusitanos.

O arraial acompanhou as vozes ritmadas e muitas vezes nostálgicas dos escravos, que se erguiam para os ares coloniais nos congados, nos batuques, trazendo um pouco da África em suas melodias.

Entoou músicas devotas nas igrejas: ladainhas, solenes missas cantadas, autos de fé, o acompanhamento para as procissões das Almas, do Anjo Custódio...
Continuou a vila de Queluz cantando nos salões dos solares, nas brincadeiras de rua, com as filhas do Loureiro em frente à Matriz, acompanhadas pelos violinos do pai e dos irmãos.

Dizem que o povo de Queluz era muito festeiro, e há festa sem canto? Era a Serração da Velha, as festas juninas, o Carnaval. E as serestas românticas nas noites de lua, pelas ruas sossegadas? E as rodas das Violas de Queluz?

Foram aumentando as igrejas, aumentavam os corais, com belas vozes fervorosas. Muitos cantores tornaram-se conhecidos, admirados. Mas havia também os compositores, de
grande inspiração, que compunham melodias religiosas, românticas ou engraçadas. Bailes, espetáculos musicais, programas radiofônicos, shows...

Esta cidade nunca parou de cantar.

No Encanta Lafaiete alcançou o seu zênite, o auge da trajetória musical. Um acontecimento extraordinário, magnífica conjunção de astros.

Este chão acolheu, com sua pródiga natureza, há mais de três séculos, O GENTIO BRASILEIRO, O COLONIZADOR PORGUGUÊS e O IRMÃO AFRICANO. Justamente ESTES TRÊS POVOS novamente se uniram no X ENCANTA LAFAIETE 2008 e, com suas vozes, entoaram um canto de Beleza e Fraternidade.

Conselheiro Lafaiete recebeu os visitantes com grande carinho, os braços e o coração abertos. Graças a Deus, é assim que Lafaiete CANTA!

Nenhum comentário:

Postar um comentário